Condomínios e modelos baratos elevam vendas de câmeras de segurança
Maior demanda por soluções de segurança mais baratas e o aumento do acesso à internet são fatores que geraram a popularização do setor
O monitoramento por câmeras está em todos os cantos: em casa, nas dependências do condomínio, em lojas, restaurantes e até nas ruas, via satélite. A busca por mais segurança talvez seja o principal motivo que impulsiona o mercado de monitoramento por vídeo no Brasil. Mas, uma combinação de fatores mostra outras razões para o crescimento deste setor.
Em 2022, a segurança eletrônica faturou aproximadamente R$ 11 bilhões, segundo o panorama do mercado apresentado pela Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese). O setor superou no ano passado a expansão de 14% registrada em 2021. Para 2023, a expectativa de crescimento é de 19%.
Ainda segundo a Abese, o setor de portarias remotas cresceu 17,5% no ano anterior e pode superar 18,7% em 2023. Apesar de não estar restrito aos condomínios residenciais, a aplicação de portarias eletrônicas nestes locais corresponde a 82% dos negócios.
Além disso, a maior demanda do mercado por soluções de segurança mais baratas e o aumento do acesso à internet são fatores que geraram a popularização do setor, segundo a presidente da Abese, Selma Migliori. “Isso possibilitou o desenvolvimento e a produção em massa de câmeras mais acessíveis, tornando-as disponíveis para um público mais amplo”, disse.
Tais câmeras hoje podem ser adquiridas na internet por aproximadamente R$ 100. Se o consumidor tiver uma boa conexão de internet e familiaridade com a instalação, pode cuidar do monitoramento de sua residência por conta própria.
“A opção de câmeras controladas por wi-fi e pelos proprietários das residências teve um impacto significativo no mercado. Essa tecnologia proporciona maior flexibilidade e conveniência aos usuários, permitindo o monitoramento em tempo real e o acesso às gravações de qualquer lugar com conexão à internet”, disse a presidente da Abese.
O setor ainda vê mais espaço para crescer quando tecnologias como internet das coisas, inteligência artificial (IA) e o maior uso de redes 5G oferecer ainda mais suporte e ferramentas para condomínios inteligentes.
Tecnologias
Além da maior acessibilidade, o mercado de câmeras de monitoramento também tem acompanhado o boom tecnológico dos últimos anos. Atualmente, o setor oferece câmeras de alta resolução, como 4K, 8K e até mesmo câmeras com visão noturna avançada.
Leonardo Xavier, diretor de operações da MDX Telecom — empresa licenciada da Motorola no segmento de segurança — destaca as câmeras com recursos de IA, como detecção de humanos e veículos, reconhecimento facial, reconhecimento de placas e análise de vídeo em tempo real.
“A integração de mais dispositivos IoT, como câmeras, sensores e sistemas de automação residencial, será uma tendência. A inteligência artificial e a análise de dados provavelmente desempenharão um papel importante na identificação de ameaças e na melhoria da segurança”, afirmou Xavier.
“Além disso, a privacidade e a segurança dos dados dos usuários serão áreas de foco contínuo”, incluiu o especialista da MDX Telecom.
Mesmo com o advento de tecnologias mais sofisticadas, o especialista ressalta que câmeras de monitoramento controladas pelos proprietários do local, com conexão wi-fi, tiveram um impacto significativo principalmente no mercado residencial.
“Elas permitem monitoramento em tempo real, notificações por aplicativo e têm fácil instalação. Isso tornou a segurança mais acessível e conveniente para os consumidores. Agora, pode-se monitorar sua casa, crianças, idosos ou pets de uma forma mais rápida e fácil”, disse Xavier.
Quanto ao armazenamento das imagens, há opções de acordo com o modelo de monitoramento. O especialista explica que muitas câmeras oferecem armazenamento em nuvem, com custos mensais que variam conforme a quantidade e período de arquivamento necessários.
Entretanto, existem também as opções de gravação local por meio de um cartão de memória ou gravador.
Portarias remotas registram tudo
Flávio Nepomuceno, diretor da empresa de segurança Presença Tecnologia, defende que sistemas desse tipo trazem o benefício de ser totalmente auditado.
“Quando uma pessoa faz a abertura da porta, vai ter ali registrado o momento que ela abriu, o horário, e essa imagem ficará armazenada. Esse atendimento transborda a solicitação para uma central de atendimento 24 horas. Essa é a vantagem: ter todo o sistema de acesso da sua casa ou do seu condomínio na palma da sua mão”, afirma Nepomuceno.
O sistema é gerenciado por senhas mediante autenticação e biometria no próprio celular. Mas, explica o especialista, se o proprietário não estiver disponível no momento, o atendimento é repassado para a central responsável pelo monitoramento.
“É interligado e em tempo real, então se você tem um problema com seu celular, você pode entrar em contato com a central 24 horas e ela vai bloquear todos os seus acessos. Vai simplesmente apagar aquelas permissões que você tinha a qualquer momento”, afirmou Nepomuceno.
As desvantagens dos sistemas remotos
Na prática, no entanto, problemas podem acontecer. O casal Danielle Lacerda e Flávio Valadão mudou-se para Portugal e seu apartamento em São Paulo ficou à disposição de familiares e amigos. Porém, eles não têm acesso à portaria por conta própria e o prédio não tem porteiro. Todo o acesso ao prédio no Brasil é controlado pelos proprietários vivendo em Portugal por meio de um aplicativo.
“Acho que a principal vantagem é o custo. Se fosse para ter funcionários, teriam uns dois ou três por questões dos turnos de 24 horas. Com isso, é menos R$ 6.000 a R$ 8.000 na conta do condomínio. Além disso, eu posso fazer tudo de onde eu estiver”, comenta Valadão.
Como desvantagem, o casal cita a importância em ter um funcionário para auxiliar no recebimento de encomendas e visitas. Apesar de o aplicativo também ser conectado a um armário eletrônico no prédio, ainda há certa dificuldade de adaptação para as pessoas que deixam as entregas.
No caso de falha do sistema ou queda de energia, há uma porta de emergência que pode ser acionada sem o uso do aplicativo. Mas Valadão ressalta algumas falhas de segurança.
“O prédio é novo e foi pensado para a portaria eletrônica, mas ele tem uma série de falhas de segurança. Por exemplo, tem uma porta dupla e temos que abrir as duas portas, fica muito fácil de a pessoa invadir”, afirma.
“E não tem um controle 100% de quem está entrando junto de outras pessoas. Então se eu vou lá, reconhece minha face, abre a porta. Se tiver uma pessoa atrás de mim, ela pode entrar”, acrescenta.
Proteção contra hackers
Outro problema sobre a liberação da porta via aplicativo seria o comprometimento dos próprios sistemas eletrônicos, como a suposta invasão de hackers ou como proceder em caso de furto do celular.
Contra situações como essa, Flávio Nepomuceno, da Presença Tecnoogia, explicou a importância em uma colaboração mútua entre o cliente e a empresa de monitoramento.
Como exemplo, a pessoa que tiver no aplicativo a possibilidade de abrir o portão da casa remotamente deve colocar uma senha para desbloquear o celular com biometria (impressão digital ou reconhecimento facial), para evitar que qualquer pessoa possa abrir o portão da casa dela.
No caso de furto do celular, ele diz que a pessoa pode usar qualquer telefone para entrar em contato com a empresa de segurança e pedir para bloquear o sistema de abertura de portão via celular.
LGPD
Um fator pouco observado é se o condomínio ou a empresa de monitoramento contratada respeitam as normas e padrões exigidos da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Eles precisam assegurar que não haverá a divulgação indevida desses dados.
“O condomínio é o controlador e pode, eventualmente, responder por falhas daqueles que possuem os dados e os divulgam, ou acabam não adotando medidas de segurança que podem levar ao vazamento deles”, diz Camilo Onoda Caldas, professor de direito digital da Escola Paulista de Direito (EPD).
O professor explica que o cuidado que as empresas devem ter é o de não divulgar essas imagens para terceiros sem que haja uma justa motivação. Uma exceção a isso seria uma autoridade policial requerendo o conteúdo como evidência de um crime.
Além disso, a empresa deve ter um sistema de segurança e conformidade que evite o vazamento desses dados.