Conheça o “superfungo” que pode se tornar um problema global de saúde
No Brasil, primeiro caso foi identificado há dois anos; levedura causa infecções resistentes a antibióticos, que podem levar até a morte
Um "superfungo" resistente a tratamentos já se espalhou por todos os continentes e pode se tornar um problema global de saúde, segundo estudo da Universidade do Sul da Dinamarca.
A Candida auris é uma levedura, mas, diferentemente das que são encontradas em pães e cervejas, pode causar infecções sérias, resistentes a antibióticos.
O primeiro caso foi identificado em 2009 numa mulher japonesa com mais de 70 anos, internada no Hospital Geriátrico Metropolitano de Tóquio.
Os médicos retiraram uma secreção do ouvido da paciente e, ao analisar uma amostra, identificaram o fungo, batizado "auris" porque a palavra significa ouvido em latim.
'Superfungo' no Brasil
No Brasil, o primeiro caso foi identificado em 7 de dezembro de 2020, num hospital de Salvador. O registro foi o primeiro de um surto com 15 casos, que levou a duas mortes.
Em dezembro de 2021, outro paciente foi identificado em Salvador, com um segundo surto em que foram detectados outros 10 infectados. Um terceiro surto foi registrado neste ano no Recife, com pelo menos 43 casos.
Segundo comunicado da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), "algumas cepas de C. auris são resistentes a todas as três principais classes de fármacos antifúngicos e sua identificação requer métodos laboratoriais específicos, uma vez que o micróbio pode ser facilmente confundido com outras espécies de leveduras, tais como Candida haemulonii e Saccharomyces cerevisiae".
Contaminação no hospital
Um exemplo da resistência do "superfungo" é o caso registrado pelo Hospital Royal Brompton, de Londres, em 2015. Depois de um infecção aguda e fora do controle, a equipe médica tentou se livrar das infecções por três meses.
A última medida foi pulverizar as superfícies das salas infectadas com peróxido de hidrogênio, para desinfectar todas as fendas e cantos. Depois de uma semana, analisaram quais microorganismos haviam sobrevivido e somente a Candida auris apareceu na análise.
Na Dinamarca, o primeiro caso foi identificado neste ano, na pele de um paciente que havia voltado da África do Sul. Para evitar a contaminação de outras pessoas, o hospital dinamarquês usou dois quartos, um para o doente e outro para os equipamentos necessários para examiná-lo, com o objetivo de evitar que ele precisasse ser levado para outros departamentos.
O paciente se recuperou e, durante um período de 24 horas depois de ter tido alta, as salas e os equipamentos passaram por um processo de desinfecção. Mesmo assim, o próximo paciente que ocupou por cinco horas uma das salas foi contaminado por Candida auris na sua corrente sanguínea.
Até hoje, foram identificados quatro casos na Dinamarca, sendo três na pele de pessoas que voltaram de viagem do exterior e o quarto no sangue, do paciente que ficou por cinco horas na sala do hospital.
O Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) registra aumento nos casos de Candida auris naquele continente. Foram 655 casos em 13 países em 2021, comparados a 335 em oito países no ano anterior.
Pesquisa de tratamento
“O problema dessa levedura é que ela é muito difícil de matar. É multirresistente e, portanto, corre o risco de causar infecções graves que não podem ser tratadas”, disse em comunicado Maria Szomek, pesquisadora do Departamento de Bioquímica e Biologia Moleculada da Universidade do Sul da Dinamarca.
Os pesquisadores dinamaqueses estudam os chamados polienos, base de medicamentos existentes para combater Candida auris. Os polienos são substâncias encontradas naturalmente em certas bactérias como parte de seu sistema de defesa, e podem ser extraídos das bactérias para uso médico.
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