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Crise? Por que efeitos digitais recentes do universo Marvel parecem piores

“Mulher-Hulk” estreia após críticas na internet aos efeitos visuais. Qualidade pode estar relacionada ao calendário apertado da Marvel

18 ago 2022 - 05h00
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Mulher-Hulk, série da Disney+
Mulher-Hulk, série da Disney+
Foto: Divulgação / Disney+

“Mulher-Hulk: Defensora de heróis”, nova série da Marvel disponível no Disney+, estreia nesta quinta-feira (18) após receber críticas em relação aos efeitos visuais nas primeiras imagens e vídeos de divulgação. A produção acompanha a personagem Jennifer Walters, advogada que recebe os mesmos poderes de seu primo Bruce Banner, o Hulk.

Após “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” (2022) e “Viúva Negra” (2021), a série da super-heroína é mais uma produção da Marvel que iniciou debates na internet sobre o uso excessivo do CGI — imagens geradas por computação, em inglês.

Nas redes sociais, comenta-se a possibilidade de que os problemas estejam relacionados à produção em massa da Marvel, que tem feito grandes lançamentos em curtos prazos neste ano — pelo menos uma nova série ou filme por mês.

Como funcionam os efeitos no cinema

Há diferentes tipos de efeitos que podem ser utilizados em uma produção audiovisual. Os efeitos práticos, por exemplo, são aqueles usados fisicamente na gravação das cenas: pode ser chuva artificial, maquiagem, animatrônicos (robôs ou bonecos que se movem) ou até mesmo explosões reais controladas.

Já o VFX são os efeitos visuais criados virtualmente, na pós-produção, e adicionados às imagens previamente filmadas. Um exemplo disso é a inserção de elementos, personagens ou cenários feitos em CGI. É o que acontece quando se grava os atores interagindo em frente ao chroma key (fundo verde) e, depois, é incluído ao redor deles um cenário criado por computação gráfica.

Para decidir se uma produção usará efeitos práticos ou CGI, diversos fatores são levados em consideração, incluindo o perfil da direção e quão difícil ou perigoso seria produzir os efeitos desejados na vida real.

“Por exemplo, em uma sequência em que é necessário ter fumaça para dar um clima de mistério e tensão, podemos nos deparar com a dificuldade de criar essa fumaça em um espaço aberto durante muitas diárias [dias de gravação] mantendo uma aparência consistente entre os shots [tomadas]. Digitalmente, isso é mais fácil de fazer”, explica Luis Ignacio Barrague, diretor de operações na produtora O2 Filmes.

Outro fator importante é o custo. “Algumas coisas são muito caras para fazer de forma prática, então, você vai para o CGI, que também não é barato, mas tem possibilidades ilimitadas de criação”, diz Fernando Ramos, professor de efeitos especiais da escola Estech.

Por que algumas produções têm efeitos pouco convincentes

O trabalho com CGI é minucioso. Produções maiores exigem longos prazos e uma equipe extensa. Uma série de seis episódios, segundo Barrague, pode demorar de seis meses a mais de um ano para ficar pronta, dependendo da quantidade e complexidade dos efeitos.

Muitas vezes, o trabalho é dividido em setores: há profissionais que focam na modelagem, na textura, na iluminação, na cor. Em produções como os filmes da Marvel, esse trabalho não é dividido somente entre profissionais, mas entre empresas diferentes — como é possível constatar nas longas listas que aparecem durante os créditos.

“O dia a dia de quem trabalha com CGI é muito corrido, porque é muito detalhe. Tem o tempo de renderização da máquina, o tempo de processamento. Os efeitos têm que estar alinhados à direção, à narrativa, ao tom, à identidade visual. Tem que seguir o storyboard, que são os quadros das cenas que representam a ação, tem que seguir o cronograma”, diz Ramos.

A complexidade do trabalho, portanto, não condiz com os prazos extremamente curtos exigidos pelas novas produções da Marvel. Por mais que existam profissionais qualificados com toda a tecnologia a seu dispor, a sobrecarga de trabalho e a pressão para entrega rápida de criações sofisticadas podem acabar prejudicando o resultado, gerando efeitos visuais que não convencem o público.

“Com o universo cinematográfico que a Marvel criou, o MCU (Marvel Cinematic Universe), todos os filmes agora são amarrados, um depende do outro. Um filme não pode mais atrasar, senão vai afetar o próximo. Por isso, há um excesso de trabalho para os profissionais de CGI. Isso gera o que a gente chama na indústria de crunch”, afirma Ramos, referindo-se às jornadas exaustivas relatadas por alguns profissionais que trabalharam para a Marvel.

A hipótese de que as condições de trabalho inadequadas são responsáveis pela piora da qualidade dos efeitos visuais é bem-aceita por youtubers que acompanham a indústria cinematográfica, como Max Valarezo, do canal EntrePlanos, e Anderson Gaveta, do Gaveta Filmes. 

“Quando a computação gráfica começou a se popularizar no cinema, ela era usada de forma mais pontual, ainda sendo muito combinada com efeitos práticos. Hoje em dia, o normal é ver blockbusters em que a maioria dos planos precisa de muitos efeitos especiais. O que significa que, com o passar dos anos, a carga de trabalho para os artistas digitais aumentou exponencialmente, mas as condições de trabalho desses profissionais não melhorou de forma correspondente”, diz Valarezo em vídeo publicado em 2019.

Não devemos, portanto, ser tão rápidos ao julgar os efeitos criados por profissionais da computação gráfica. “Às vezes, podemos acabar julgando erroneamente um trabalho de CGI apenas pelo resultado final, mas prazo e orçamento influenciam muito nesse resultado”, diz Barrague, que considera como principal dificuldade do trabalho conseguir encaixar a proposta idealizada dentro do cronograma e orçamento disponíveis.

Relembre filmes com efeitos digitais criticados

A Saga Crepúsculo: Amanhecer — Parte 2
A Saga Crepúsculo: Amanhecer — Parte 2
Foto: Divulgação

A Saga Crepúsculo: Amanhecer — Parte 2 (2012)

Em “Amanhecer — Parte II”, o público conhece a filha da protagonista Bella, Renesmee, uma criança que cresce em ritmo sobrehumano. Nas gravações, inicialmente, foi usado um animatrônico tão assustador que recebeu o apelido de “Chuckesmee”. Depois, foram feitas gravações com um bebê real, cuja face foi substituída por uma criação em CGI, com o objetivo de amadurecer os traços da personagem. O resultado não agradou muito o público, e tanto Chuckesmee quanto a versão final do bebê viraram meme nas redes sociais.

Sonic - O Filme
Sonic - O Filme
Foto: Divulgação

Sonic: O Filme (2020)

Assim que foi divulgado o primeiro trailer de “Sonic”, multiplicaram-se as reações negativas à aparência do personagem, criado em CGI. Depois de tantas reclamações, a Paramount Pictures adiou o lançamento do filme e decidiu redesenhar o protagonista.

Cats
Cats
Foto: Divulgação

Cats (2019)

Lançado pela Universal Pictures, o filme "Cats" (adaptação do musical da Broadway) foi mais um que passou por alterações nos efeitos visuais após críticas do público sobre o trailer. Mesmo assim, a aparência definitiva dos personagens (resultado de combinação entre maquiagem e CGI) continuou causando estranheza. A produção virou até piada na cerimônia do Oscar 2020, quando Rebel Wilson e James Corden — que fazem parte do elenco de “Cats” — subiram ao palco fantasiados de gatos para apresentar, ironicamente, a categoria de “melhores efeitos visuais”.

Projeto Gemini
Projeto Gemini
Foto: Divulgação

Projeto Gemini (2019)

A aparência de Will Smith em “Projeto Gemini” também causou estranhamento. No filme, o assassino de elite Henry Brogan, interpretado pelo astro, se depara com um clone mais jovem de si mesmo que está tentando matá-lo. O clone foi criado inteiramente em CGI, usando as expressões reais da atuação Will Smith unidas a um trabalho de computação gráfica baseado na aparência do ator em vídeos mais antigos.

Lanterna Verde
Lanterna Verde
Foto: Divulgação

Lanterna Verde (2011)

Clássico em listas de efeitos visuais considerados ruins, o filme “Lanterna Verde” também recebeu duras críticas. O traje feito inteiramente em CGI e os efeitos usados quando o herói usa seus poderes foram os principais alvos de reclamação.

Fonte: Redação Byte
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