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DeepSeek contradiz modelo dos EUA para IA, diz economista chinês que previu bolhas na internet

Para o economista chinês Andy Xie, o episódio DeepSeek expõe uma abordagem equivocada dos EUA

29 jan 2025 - 15h15
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RIAD - A ascensão da chinesa DeepSeek joga por terra a noção americana de que só é possível desenvolver inteligência artificial (IA) com bilhões de dólares e um volume astronômico de energia, afirma o economista chinês Andy Xie, em entrevista ao Broadcast/Estadão, às margens da Global Labor Market Conference (GLMC), em Riad, na Arábia Saudita.

"Os EUA dizem que precisam de energia nuclear para abastecer esses enormes data centers, que custam centenas de bilhões de dólares com chips da Nvidia. Enquanto isso, a DeepSeek entrega essas soluções em seu laptop. E com um modelo que não demanda tanta eletricidade", ressalta.

Ex-Morgan Stanley e Banco Mundial, o economista é conhecido por apresentar opiniões de maneira provocativa e, muitas vezes, controversa. Xie também costuma ser creditado por prever corretamente a crise asiática de 1997 e a bolha da internet. Para ele, o episódio DeepSeek expõe uma abordagem equivocada dos EUA. "Eles estão esperando por um Deus digital que solucionará todos os problemas para eles. Isso nunca vai acontecer", diz.

Veja trechos da entrevista:

O que o avanço da DeepSeek diz sobre a corrida tecnológica entre Estados Unidos e China?

São maneiras diferentes de se pensar. Os EUA têm um modelo de capital financeiro, então quando desenvolve uma tecnologia, a primeira ideia é criar um monopólio - como controlar essas coisas para ter lucro. O modelo da China é muito mais sobre sobrevivência: cria-se algo para ter um espaço no mercado, não pensando em monopólio. Isso faz com que se busque fazer um produto muito barato e conquistar o maior número de clientes possível. São filosofias muito diferentes. Com a DeepSeek, é possível baixar o programa e usá-lo de maneira offline. E aí você não precisa se preocupar com seus dados sendo tomados por outras pessoas, porque é sua própria máquina.

Mas muitas pessoas, como o CEO da Tesla, Elon Musk, têm questionado as alegações de que o modelo foi muito mais barato. Os números divulgados pela empresa são confiáveis?

Eles divulgaram a maneira pela qual fizeram o modelo. Esse modelo é público, qualquer pessoa pode baixar. E eles publicaram um paper explicando como fizeram e encorajam as pessoas a replicá-los. Então, nas próximas semanas, haverá pessoas que o farão. E aí esse debate vai acabar.

Você espera uma reação dos EUA?

Não sei. Os EUA acham que se a China conseguiu fazer algo é porque fez algo de errado, roubou algo de alguém. Ainda que o DeepSeek tenha publicado tudo, eles ainda pensam assim.

Economistas costumam dizer que a inteligência artificial se traduzirá em um novo boom de produtividade. O DeepSeek amplifica essa tendência?

Eu penso, por exemplo, no caso de fazendeiros. Como encontrar soluções sobre um pedaço de terra? Agora, é possível reunir o conhecimento do mundo inteiro em seu laptop. O DeepSeek ajuda a encontrar essas soluções. E com um modelo que usa menos eletricidade. Os EUA dizem que precisam de energia nuclear para abastecer esses enormes data centers, que custam centenas de bilhões de dólares com chips da Nvidia. Enquanto isso, a DeepSeek entrega essas soluções em seu laptop. E com um modelo que não demanda tanta eletricidade.

Como isso se encaixa nesse contexto de rivalidade comercial entre EUA e China?

A China está focada em elevar o crescimento para o próximo nível. Para a China, crescimento e qualidade [dessa expansão] são diferentes. O país está tentando se tornar a economia do século XXI - lidera em energias renováveis, nuclear, eólica, veículos elétricos, produção de chips. Já os EUA estão apostando que a IA vai resolver tudo, que assim que esse Deus digital for criado, tudo será resolvido. Assim, por que a DeepSeek é esse choque tão grande para os EUA? Porque ela faz um furo na bolha desse tipo de pensamento americano.

Então, quais as lições que esse episódio da DeepSeek deixa?

A de que não há atalhos. O desenvolvimento econômico tem de começar com muito trabalho e planejamento cuidadoso. E os EUA estão buscando atalhos, enquanto a infraestrutura desmorona, a educação está terrível e as pessoas não são saudáveis. Mas eles não estão tentando resolver esses problemas, eles estão esperando por um Deus digital que solucionará todos esses problemas para eles. Isso nunca vai acontecer.

Estadão
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