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Donos de iPhone e Samsung pagam até R$ 14 mil, mas confessam não usar todos os recursos do aparelho

Redes sociais e câmera são alguns dos aspectos mais importantes para consumidores, que ignoram preço no momento da compra

2 ago 2024 - 09h10
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Não é novidade que existem celulares bastante caros no mercado. Custando até R$ 14 mil, a depender das configurações e marca, esses dispositivos costumam possuir funções bastante avançadas que, ao menos em certa medida, ajudam a justificar a etiqueta. Mas nem todos os donos de aparelhos superpremium (acima de R$ 5 mil), nome dessa categoria de "supercelulares", usam tudo que o smartphone tem a oferecer.

É o caso da secretária Rosilda Oliveira, 41. Ela possui um Samsung Galaxy S23+, comprado em outubro do ano passado. Em 2023, esse foi o modelo topo de linha da marca sul-coreana, vendido então a R$ 8 mil.

Rosilda Oliveira é dona de um Samsung Galaxy S23+, que usa para fotografias, e de um iPhone 7, utilizado para o dia a dia
Rosilda Oliveira é dona de um Samsung Galaxy S23+, que usa para fotografias, e de um iPhone 7, utilizado para o dia a dia
Foto: Alex Silva/Estadão / Estadão

"Eu tinha um Samsung anterior, o A80, que não captava bem imagens noturnas. Como gosto muito de tirar fotos e gravar vídeos quando saio, especialmente em jogos de futebol, veio a vontade de comprar um modelo melhor", conta.

No dia a dia, porém, o preferido é o iPhone 7, celular "de botão" lançado pela Apple em 2016. Mas ela não abre mão do S23+, que sempre leva ao sair de casa para tirar fotografias. "Prefiro as configurações do iOS (sistema operacional da Apple), e já cheguei a tentar ficar apenas com o Samsung, mas não gostei tanto e não me acostumei", diz Rosilda.

Há outro aspecto importante na hora de escolher um smartphone. "Gosto da parte do status, de ter um celular bom. Especialmente quando tiro fotos no espelho, fico bastante feliz com a aparência", afirma ela. "Como gosto de postar fotos com o celular, o fato de o modelo ser avançado gera comentários, e as pessoas vêm me perguntar qual celular é o meu. Isso me deixa feliz. Gosto que notem que o celular é caro."

Galaxy S23+, da Samsung, tem uma das melhores câmeras do mercado de smartphones
Galaxy S23+, da Samsung, tem uma das melhores câmeras do mercado de smartphones
Foto: Alex Silva/Estadão / Estadão

Estudos da consultoria de consumo IDC Brasil apontam que recursos de última geração não são os únicos fatores que influenciam na compra de um smartphone superpremium. Há aspectos como fidelidade à marca e, claro, desejo de obter status com um dispositivo eletrônico.

"Muitos usuários realizam a compra por fidelidade a uma marca específica", explica Andréia Sousa, analista da IDC Brasil. "Quando há uma necessidade de troca de aparelho, não é levada em consideração as funções de uma nova versão, apenas a continuidade na utilização na mesma marca".

É o que acontece com o químico Fabian Felix de Lima, 30. Ele é dono de um iPhone 14 Pro Max (2022, R$ 9,5 mil). "Resolvi comprar esse modelo porque, além de ter um design de luxo, é um celular de última geração, perfeito para quem gosta de tecnologia", diz. "Minha marca preferida de todos os tempos é a Apple."

O uso principal do smartphone para Fabian é certamente as redes sociais. "Uso Instagram, Kwai, WhatsApp e TikTok", diz, citando apps que estão disponíveis em outros modelos mais baratos.

Lima diz que é influenciador e acredita que o smartphone pode ajudá-lo nessa função. "Para nós, influencers, quanto maior a qualidade nos vídeos, reels e fotos, mais ganhamos reproduções, comentários, curtidas e visualizações. Se você não tiver um celular de última geração, não terá uma boa qualidade nesse sentido", conta.

iPhone é uma das marcas mais populares no mercado de celulares premium
iPhone é uma das marcas mais populares no mercado de celulares premium
Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 1/6/2022 / Estadão

O professor Carlos Rafael Gimenes das Neves, professor do curso de Ciência de Dados e Negócios da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), afirma que há partes técnicas e sociais que explicam esse desejo e apego a grandes marcas.

"A marca, que aumenta o valor dos produtos também pela questão de pesquisa e desenvolvimento, o faz ainda para que se trate de um produto da elite, que só os escolhidos podem ter. Há pessoas que abraçam essa causa, seja com celulares ou com carros, por exemplo", diz Neves.

Custo-benefício

Nem todos os consumidores de celulares premium se importam com status ou com o avanço da tecnologia. Há aqueles que apenas buscam modelos com uma boa relação entre qualidade e preço, por exemplo.

O advogado Lucas Whitaker Piai, 31, dono de um Samsung Galaxy S23, é categórico: "Status não faz qualquer diferença para mim", diz. "Costumo adquirir o celular premium do lançamento passado, porque, com o lançamento da versão mais atual, ele acaba ficando com ótimo custo-benefício."

Mas Whitaker Piai pode ser, de certa forma, uma exceção à regra. Isso porque, para muitos, o valor não é exatamente importante na hora de adquirir um celular novo, segundo a IDC.

"Para o típico usuário de smartphone premium, o preço não é um fator de desmotivação na compra. De acordo com nosso levantamento, o fator preço foi praticamente irrelevante para esse perfil", diz Andréia Sousa.

Whitaker Piai afirma usar apenas aplicativos de baixo processamento no aparelho, como WhatsApp, YouTube, Google Podcasts, música e Instagram. "Não acho que eu chegue perto de usar todo o potencial do meu celular, que é bem grande em termos de processamento. Além disso, há funções que eu realmente não uso, como jogos de alta resolução ou funcionalidades de espelhamento", conta.

O problema é que, muitas vezes, os consumidores não conhecem ou não se preocupam em conhecer muitas das funções disponibilizadas pelo celular. E isso se tornou um problema para as companhias de tecnologia, que tentam apresentar para o consumidor tudo do que é capaz o smartphone.

"É importantíssimo para a marca fazer com que os usuários saibam que as funcionalidades existem e quão fácil elas são de utilizar", argumenta o professor Neves. Para ele, esse é um dos papéis dos influenciadores e criadores de conteúdo que desempacotam o aparelho em vídeos e fazem comentários sobre funcionalidades.

"Os influencers acabam ganhando esses aparelhos da empresa, que têm muito a ganhar com isso, porque ajuda a divulgar e alavancar o produto", diz o especialista.

Há diversas vantagens em se ter um smartphone avançado. Uma delas é estar sempre a par das últimas novidades da tecnologia, o que só é possível com aparelhos mais evoluídos.

Outro benefício é ter um celular com recursos e funcionalidades estreitamente ligados à inteligência artificial. Como demandam capacidade de processamento avançada, esses modelos só estão presentes em celulares mais potentes - e caros.

Exemplos disso são a Galaxy AI e a Apple Intelligence, plataformas de inteligência artificial da Samsung e da Apple, respectivamente, que disponibilizam recursos como a transcrição de chamadas telefônicas e a tradução simultânea. Enquanto a primeira já foi lançada, a segunda sairá ainda neste ano, e ambas trazem avanços notáveis para o smartphone.

Nem só para celulares

Smartphones não são os únicos dispositivos que fisgam o consumidor na lista de desejos.

A médica Laura Martucci, 34, conta que comprou um MacBook Air de chip M2 de 15 polegadas em fevereiro deste ano, durante uma viagem para os Estados Unidos - o dispositivo chega a custar R$ 9,5 mil no Brasil, enquanto no país americano o valor pago por Laura foi de US$ 900. "O meu computador era bom, mas já o tinha há alguns anos. Achei que era a minha chance de comprar uma alternativa melhor", diz ela.

MacBook Air é um dos computadores da Apple, vendidos a mais de R$ 11 mil no Brasil
MacBook Air é um dos computadores da Apple, vendidos a mais de R$ 11 mil no Brasil
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

O desejo de marca aparece também nesse caso. "Se não fosse MacBook, eu não teria comprado. Status e a oportunidade de comprar por um preço menor lá fora com certeza me influenciaram (na decisão)", conta Laura.

De acordo com a médica, o único uso do MacBook é para fazer receitas para seus pacientes e para falar com seu psicólogo. "Ocasionalmente, vejo vídeos nele também, mas é raro. Carrego o laptop duas vezes por mês, e só uso uma hora por semana, em média."

Laura diz que nunca aprendeu a configurar o dispositivo corretamente. Segundo ela, as tentativas de seguir tutoriais não deram certo. Ainda assim, ela não se arrepende da compra. "A câmera é muito boa. Além disso, tenho esperanças de aprender a mexer nele. Sei que o problema sou eu, não o laptop."

Estadão
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