É fake | Harvard NÃO comprovou eficácia da hidroxicloroquina contra covid
Site Médicos Pela Vida - Covid 19 repercutiu a informação de que estudo teria comprovado eficácia da hidroxicloroquina em tratamento precoce. Informação é falsa
É falso que cientistas de Harvard tenham comprovado eficácia da cloroquina em revisão sistemática de artigos. A afirmação foi feita no site Médicos pela Vida - Covid 19, que citou uma meta-análise por cientistas da universidade onde a hidroxicloroquina teria sido considerada eficaz na profilaxia — ou seja, tratamento precoce — da infecção por SARS-CoV-2.
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Entre as alegações errôneas está a própria comprovação científica afirmada pelo site: no estudo, os autores se limitam a falar que o benefício do medicamento "não pode ser descartado com base nas evidências disponíveis". Há, no entanto, outros problemas, como o fato de um dos estudos analisados na revisão ainda não ter sido revisado por pares, outro ser de autoria de um dos revisores e a ausência de diversos artigos importantes.
Por que o estudo é falso?
Para desmentir a revisão, é preciso ir de ponto a ponto. Nota-se, de início, que o estudo não é "de Harvard", já que apenas dois dos 5 autores da meta-análise são ligados à universidade estadunidense: a instituição, inclusive, emitiu uma nota afirmando que não se responsabiliza pelas pesquisas que seus acadêmicos fizerem de forma independente.
Há de se lembrar, também, dos objetivos de uma meta-análise. Essa modalidade de estudo busca cruzar informações de diversos artigos publicados para avaliar se uma hipótese científica pode ser comprovada ou não. Tal análise pode ser afetada pela qualidade dos estudos buscados e pela seleção dos mesmos.
Uma das afirmações dos autores é de que pesquisas do início da pandemia não tinham dados de pessoas suficientes — não sendo estatisticamente significativos —, e, portanto, a evidência da pouca eficácia da hidroxicloroquina teria sido afirmada apressadamente. Isso teria impedido ensaios futuros e prejudicado conclusões que poderiam ter ajudado no gerenciamento da pandemia antes das vacinas.
O problema é que diversos estudos apontaram a ineficácia da cloroquina tanto em profilaxia quanto após a exposição ao SARS-CoV-2, invalidando o argumento de uma conclusão apressada, ou ao menos demonstrando que mais investigações foram feitas mesmo após uma conclusão preliminar.
Como uma das pesquisas não foi publicada em revista científica e nem foi revisada por pares, pode ser considerada falha. Outro estudo é de autoria de um dos 5 participantes da meta-análise, o que pode levar a vieses para a confirmação dos resultados. A conclusão da revisão aponta que os ensaios randomizados de profilaxia pré-exposição ao vírus reduz o risco de covid em cerca de 28% com o uso de hidroxicloroquina.
Isso quer dizer que os estudos, combinados, apontaram que um paciente tomando o medicamento poderia ter 28% menos chances de ser infectado em relação a quem não tomou, concluindo que o benefício do remédio na profilaxia não poderia ser descartado. Isso é diferente de "eficácia comprovada". Especialistas também apontam que diversos estudos já revisados por pares não foram inclusos na revisão — especialmente os que não corroboravam o uso de cloroquina.
Declarações da revista científica
Foram cruzados os dados de 11 pesquisas para a confecção da meta-análise, publicada na revista científica European Journal of Epidemiology no dia 9 de agosto. A editora sênior do periódico, Virginia Mercer, afirmou que foi informada de possíveis falhas no artigo e que ele está sob análise. Dos estudos analisados, 7 analisam profilaxia pré-exposição e 4 analisam profilaxia pós-exposição.
Nem todos os estudos escolhidos para a meta-análise são duplo-cego, ou seja, quando participantes e cientistas não sabem quem recebeu o medicamento e quem recebeu o placebo. Segundo os autores, o erro será corrigido, mas eles afirmam que isso não afeta seus resultados.
Refutando a hidroxicloroquina
Alguns estudos não considerados pelos autores apontam que o uso de hidroxicloroquina não previne a infecção ou sintomas da covid-19 ao ser administrado antes da exposição. São eles:
- Efficacy and Safety of Hydroxychloroquine vs Placebo for Pre-exposure SARS-CoV-2 Prophylaxis Among Health Care Workers - Publicado em 30/09/2020 pela revista American Medical Association;
- Efficacy and safety of hydroxychloroquine as pre-and post-exposure prophylaxis and treatment of COVID-19: A systematic review and meta-analysis of blinded, placebo-controlled, randomized clinical trials - Publicado em 28/08/2021 na Lancet Regional Health - Americas.
Além disso, há artigos que concluem que o uso de hidroxicloroquina não reduziu internações em comparação a grupos de placebo, estão:
- Updates on Hydroxychloroquine in Prevention and Treatment of COVID-19 - Publicado em 23/08/2021 no The American Journal of Medicine;
- Effect of Hydroxychloroquine on Clinical Status at 14 Days in Hospitalized Patients With COVID-19 - Publicado em 09/11/2020 na American Medical Association;
- A Randomized Trial of Hydroxychloroquine as Postexposure Prophylaxis for Covid-19 - Publicado em 06/08/2020 no New England Journal of Medicine;
- Hydroxychloroquine versus placebo in the treatment of non-hospitalised patients with COVID-19 (COPE - Coalition V): A double-blind, multicentre, randomised, controlled trial - Publicado em 31/03/2022 na The Lancet Regional Health - Americas.
Desde o início da pandemia de covid-19, vimos esforços científicos buscando um medicamento eficaz contra a infecção antes da chegada das vacinas. A hidroxicloroquina entrou no rol de promessas quando um estudo de março de 2020, na Nature, mostrava um bloqueio pela infecção em células de rins de macacos. Após testes em humanos, no entanto, a hipótese foi derrubada, mas ainda investigada.
Fonte: Aos Fatos, Reuters e Projeto Comprova; via Estado de Minas
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