É possível diminuir erros no futebol usando VAR? Com "jeitinho brasileiro", parece que não
Com chances de brilhar na Copa do Mundo do Catar, o VAR é motivo de polêmicas no Brasil; afinal, a tecnologia ajuda ou atrapalha a partida?
Não é de hoje que o VAR (Árbitro Assistente de Vídeo, na tradução do inglês) é alvo de críticas no mundo do futebol. Algumas decisões controversas vêm sendo tomadas utilizando o recurso tecnológico. A torcida e os clubes reclamam no Brasil. Já lá fora, parece que o VAR vem se saindo bem melhor. A Fifa está com tudo pronto para usar o equipamento na Copa do Mundo do Catar — e as expectativas são altas.
Segundo o ex-árbitro de futebol da Fifa e atual comentarista esportivo, Alfredo Loebeling, o protocolo do VAR da Fifa é diferente do usado no Brasil. Originalmente, ele foi idealizado para ter o máximo de eficiência e o mínimo de interferência. E não é o que acontece aqui.
“O VAR oficial, criado pela Fifa, foi feito para ser usado somente em erros grosseiros. A tecnologia não falhou, foram as pessoas. Nós criamos o ‘FrankVAR’ — uma mistura de Frankenstein com o VAR”, afirma.
O VAR ajuda ou atrapalha?
O futebol é e sempre foi movido pela emoção. A polêmica sobre o jogo do dia anterior é o assunto do dia no trabalho, no bar da esquina e nos programas de mesa redonda na TV, rádio e internet. Acabar com as dúvidas nos lances e ter um resultado definitivo pode jogar tudo isso por água abaixo?
Para o coordenador do curso de Engenharia Eletrônica do Instituto Mauá de Tecnologia, Sergio Ribeiro Augusto, o emocional de quem está envolvido no futebol sempre vai prevalecer. “Antes, a culpa era do juiz. Agora a culpa é do VAR. Quando você trabalha com o futebol, a razão acaba sendo encoberta pela paixão”, comenta.
O “jeitinho brasileiro” pode ser um dos motivos que atrapalham o bom uso do VAR, de acordo com Loebeling. “Aqui, o jogo fica cinco minutos parado porque o árbitro do VAR quer convencer o árbitro de campo sobre um lance. Não é função dele fazer isso! E outra: os árbitros estão no VAR vendo a jogada e o treinador fica lá do lado gritando. Você acha que vai mudar alguma coisa com essa pressão?”, desabafa.
Se o VAR é culpado ou inocente, não sabemos. Mas será que vale essa pressão toda em cima da tecnologia? O coordenador de cursos de TI do Instituto Mauá de Tecnologia, Angelo Sebastião Zanini, afirma que os juízes continuam dando a palavra final dentro das quatro linhas: “o VAR deve ser um assistente do árbitro, do ponto de vista cibernético, e não ter a decisão definitiva”.
As novidades do VAR na Copa do Mundo
A bola oficial da Copa do Mundo 2022, no Catar, traz uma novidade tecnológica. Batizada de Al Rihla (A Jornada, em tradução livre), ela traz um sensor de movimento de unidade de medição inercial (IMU) de 500Hz conectado diretamente ao VAR. Isso quer dizer que a bola é capaz de enviar ao VAR 500 dados por segundo.
Em sua segunda participação na Copa, o VAR vem com uma novidade importante para monitorar os polêmicos impedimentos: o novo recurso conta com 12 câmeras que rastreiam a bola e 29 pontos do corpo de cada jogador. Os árbitros do VAR serão alertados quando a Inteligência Artificial detectar uma condição de impedimento.
Em seguida, uma animação em 3D será gerada pelo equipamento e dará detalhes do posicionamento dos jogadores envolvidos na jogada. “Tudo isso vai ser passado para as transmissões pela TV e também para os torcedores no estádio. Teremos uma verdadeira reconstituição do lance digitalmente. Isso também vai ajudar a tirar mais dúvidas”, afirma Augusto.
Será que essa vai ser a chance do VAR se redimir com os torcedores brasileiros?