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Amazon deleta obras no Kindle sem avisar aos leitores

20 jul 2009 - 15h27
(atualizado às 15h42)
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No livro 1984, de George Orwell, censores do governo apagavam quaisquer traços de novos artigos que fossem constrangedores para o Grande Irmão, colocando-os em um incinerador chamado "buraco da memória".Na última sexta-feira, 1984 e outro livro de Orwell, A Revolução dos Bichos, foram jogados no buraco da memória - pela Amazon.com.

A empresa deletou dos aparelhos livros que haviam sido comprados por leitores
A empresa deletou dos aparelhos livros que haviam sido comprados por leitores
Foto: The New York Times

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Em um movimento que enfureceu os consumidores e gerou ondas de irritação online, a Amazon deletou de forma remota algumas das edições digitais de livros dos aparelhos Kindle de leitores que haviam comprado os títulos.

Um porta-voz da Amazon, Drew Herdener, disse em uma mensagem de e-mail que os livros foram adicionados à loja Kindle por uma empresa que não detinha os direitos autorais, utilizando uma função "self-service". "Quando fomos notificados disso pelos detentores dos direitos, removemos as cópias ilegais de nossos sistemas e dos aparelhos dos consumidores, e os reembolsamos", disse.

A Amazon efetivamente reconheceu que apagar os livros foi uma má ideia. "Estamos mudando nosso sistema para que, no futuro, não precisemos remover livros dos aparelhos dos consumidores em circunstâncias como essa", disse Herdener.

Os clientes que tiveram livros deletados indicaram que a MobileReference, uma editora digital, os havia vendido. Uma mensagem de e-mail para a SoundTells, empresa proprietária da MobileReference, não foi respondida imediatamente.

Livros digitais adquiridos para o Kindle são enviados por meio de uma rede sem fio. A Amazon também pode usar essa rede para sincronizar livros eletrônicos entre aparelhos ¿ e, aparentemente, para fazê-los desaparecer.

Uma edição digital autorizada de 1984, da editora americana Houghton Mifflin Harcourt, ainda estava disponível na loja Kindle na sexta-feira à noite, mas não havia nenhuma versão de A Revolução dos Bichos.

As pessoas que compraram as edições canceladas dos livros reagiram com indignação, ao mesmo tempo em que reconheciam as ironias literárias envolvidas. "De todos os livros para se recolher", disse Charles Slater, executivo de uma loja de partituras na Filadélfia, que comprou a edição digital de 1984 por US$ 0,99 no mês passado. "Nunca imaginei que a Amazon tinha o direito, a autoridade, ou mesmo a capacidade de deletar algo que eu já havia comprado."

Antoine Bruguier, um engenheiro do Vale do Silício, disse ter notado que sua cópia digital de 1984 parecia ser uma imagem escaneada de uma edição em papel do livro. "Se esse Kindle quebrar, eu não vou comprar um novo, com toda a certeza", disse.

A Amazon parece ter deletado outros e-books comprados para Kindles recentemente. Consumidores comentando em fóruns da internet relataram o desaparecimento de edições digitais de livros do Harry Potter e de romances de Ayn Rand, devido a problemas similares.

Os acordos de termos de serviço publicados pela Amazon para o Kindle não parecem dar à empresa o direito de deletar compras depois de elas terem sido concluídas. O documento diz que a Amazon concede aos consumidores o direito de manter uma "cópia permanente do conteúdo digital em questão".

Varejistas de produtos físicos não podem, obviamente, forçar sua entrada na casa de um consumidor para pegar de volta uma compra, a despeito do quão ilegal ela seja. Ainda assim, a Amazon parece manter uma corrente excepcional presa ao conteúdo digital que vende para o Kindle.

"Isso ilustra como você tem poucos direitos quando compra um e-book da Amazon", disse Bruce Schneier, chefe de segurança tecnológica para a British Telecom e especialista em segurança e comércio para computadores. "Como proprietário de um Kindle, estou frustrado. Não posso emprestar livros para as pessoas e não posso vender livros que já li, e agora acontece que não posso nem confiar que terei meus livros amanhã".

Justin Gawroski, jovem de 17 anos da região de Detroit, estava lendo 1984 em seu Kindle para um trabalho e perdeu todas as suas anotações quando o arquivo desapareceu. "Eles não pegaram simplesmente um livro de volta, eles roubaram meu trabalho", disse.

Na internet, claro, não existe um buraco da memória. Enquanto os direitos autorais de 1984 só deixarão de valer nos Estados Unidos em 2044, os mesmos já expiraram em outros países, incluindo Canadá, Austrália e Rússia. Sites desses países oferecem cópias digitais do livro gratuitamente para todos.

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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