Google Glass pode fazer usuários não verem 'óbvio ululante'
Especialistas em Psicologia têm questionado a segurança de uso do Google Glass. No The New York Times, Christopher F. Chabris, professor da universidade Union College, nos Estados Unidos, aponta que o óculos inteligente do gigante de buscas pode distrair o usuário e fazê-lo não ver o "óbvio ululante".
O argumento do Google quanto à segurança do gadget de vestir (ou wearable gadget) é que em vez de andar olhando para baixo, enquanto usa o smartphone, o Glass permite que as pessoas tenham as mãos livres. Mas o artigo de Chabris no jornal americano contrapõe que a possibilidade de usar as mãos para outra atividade não significa que o cérebro consiga dividir a atenção em quantas ações se queria.
"O Google Glass pode permitir que as pessoas façam coisas incríveis, mas ele não elimina os limites da capacidade humana de prestar atenção", resume o professor de Psicologia. Ele diz que intuitivamente as pessoas sabem que, ao voltante por exemplo, não devem desviar o olhar por mais do que dois segundos, mas que perdem a noção do tempo quando estão interagindo, seja em conversas ou olhando o smartphone.
Segundo pesquisas conduzidas nos EUA, continua Chabris, ao mandar mensagens as pessoas se distraem por em média 4,6 segundos. Além disso, testes mostraram que a ideia de que alterações no campo de visão chama a atenção não é tão real: participantes dos estudos não percebiam um homem vestido de gorila mesmo quando olhavam diretamente para a figura - o pesquisador é autor do livro O gorila invisível: como nossas intuições nos enganam.
"O fenômeno da 'cegueira sem intenção' mostra que o que vemos não depende somente do objeto para o qual estamos olhando, mas também em como focamos nossa atenção", explica. Por isso, segundo o professor, não basta apenas deixar as mãos livres para aumentar a segurança de usar o smartphone simultaneamente a outras atividades. "A percepção requer tanto os olhos quanto a mente, e se a mente está ocupada, se pode deixar de ver o óbvio ululante."
"As intuições sobre a atenção levam a pressupostos errados sobre como provavelmente vamos enxergar; estamos especialmente mal preparados para como a nossa atenção pode ser completamente absorvida com a disponibilidade contínua de uma informação potencialmente útil", conclui o professor.