Em 20 anos, acesso à internet nos lares brasileiros salta de 13% para 85%, diz estudo
Pesquisa TIC Domicílios revela que qualidade da conexão ainda é um desafio, com apenas 22% da população tendo conectividade significativa
A pesquisa TIC Domicílios 2024, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), revela um panorama transformador da inclusão digital no Brasil. Desde o início da série, em 2005, a proporção de domicílios urbanos com internet passou de 13% para 85%, destacando o avanço significativo na conectividade dos lares brasileiros.
No entanto, apenas 22% da população possui uma conectividade significativa, apontando a qualidade do acesso como um desafio pendente.
Em 2005, o uso da internet era um recurso de poucos. Naquele ano, apenas 24% dos brasileiros em áreas urbanas eram usuários ativos, enquanto hoje 86% da população acessa a rede regularmente. Em números absolutos, isso representa 141 milhões de pessoas que estiveram conectadas nos três meses anteriores à pesquisa.
O aumento reflete a mudança na forma de acessar a internet, com a popularização dos smartphones. “Em 2008, o acesso era majoritariamente feito em lan houses ou ‘Internet cafés’. Atualmente, quase todos se conectam em casa e pelo celular”, explica Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.
Apesar do avanço na cobertura, as desigualdades de acesso persistem. A internet alcança 100% dos domicílios de classe A, enquanto atinge apenas 68% das classes DE. A distribuição também é desigual entre áreas urbanas e rurais, onde 74% das residências possuem Internet. Outros 29 milhões de brasileiros ainda estão offline, com a maioria pertencendo a grupos menos favorecidos: 24 milhões vivem em áreas urbanas, 16 milhões estão nas classes DE, e 17 milhões são negros ou pardos.
Qualidade de acesso
O indicador de “conectividade significativa”, elaborado pelo Cetic.br, avalia fatores como velocidade, custo e a presença de banda larga fixa. Atualmente, somente 22% dos brasileiros têm acesso de qualidade satisfatória.
“São 20 anos de indicadores que contribuem para embasar políticas públicas, monitorando a inclusão digital no Brasil e expondo desigualdades que ainda precisam ser superadas”, afirma Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
Novas dinâmicas de uso e habilidades digitais
Além da conectividade, o estudo identificou novas dinâmicas no uso da internet. O celular continua sendo o principal dispositivo de acesso, mas o uso da televisão para navegar alcançou 60%, superando o computador, utilizado por 40% dos brasileiros.
Para muitos, o celular é o único meio de acesso à rede, especialmente nas classes mais baixas: 86% dos indivíduos nas classes DE acessam a internet exclusivamente pelo celular, proporção que é de 66% entre mulheres e 56% entre negros.
No quesito habilidades digitais, a TIC Domicílios 2024 revela que a verificação de informações e a configuração de privacidade são práticas mais frequentes entre indivíduos com maior escolaridade. Cerca de 80% dos brasileiros com Ensino Superior verificam a veracidade de informações, contra 31% entre aqueles com Ensino Fundamental.
Serviços públicos e comércio digital
A pesquisa destaca ainda a importância do acesso à Internet para a utilização de serviços públicos e o crescimento das compras online. Entre os usuários de Internet, 32% utilizaram serviços públicos de saúde e 29% buscaram informações sobre impostos e taxas. Em relação ao comércio eletrônico, o pagamento via Pix se consolidou como a forma mais usada, ultrapassando o cartão de crédito.
Roupas e cosméticos foram os itens mais comprados online, com um aumento significativo em relação a 2022. A aquisição de serviços de streaming de música também avançou, especialmente entre jovens de 16 a 24 anos e nas classes mais altas.
A TIC Domicílios é realizada desde 2005 e busca mapear o acesso e o uso das tecnologias da informação e comunicação no país. Na edição de 2024, foram entrevistados 21.170 brasileiros e analisados 23.856 domicílios.