Entenda como o coração de Dom Pedro I foi conservado por mais de 180 anos
Órgão envolto em formol chegou ao Brasil nesta semana para as comemorações do Bicentenário da Independência do país
O coração de Dom Pedro I Chegou ao Brasil na segunda-feira (22) para as celebrações dos 200 anos da Independência do Brasil. A relíquia, que fica guardada na Igreja da Lapa, na cidade de Porto, em Portugal, foi transportada pela Força Aérea Brasileira (FAB) para Brasília.
O órgão, que foi retirado de Portugal pela primeira vez, ficará em exposição no Palácio do Planalto, como parte da mostra comemorativa do Bicentenário, até o dia 8 de setembro, quando retornará à cidade de Porto.
Como acontece a preservação
O coração está preservado há quase 188 anos, desde a morte de Dom Pedro I em 24 de setembro de 1834, aos 35 anos, em decorrência da tuberculose. Embora não mantenha a coloração avermelhada, pois não há circulação sanguínea nem oxigenação, o órgão permanece conservado.
Isto porque está armazenado dentro de um recipiente de vidro repleto de uma solução mista de formol — ou seja, metanal (também chamado de formaldeído) diluído em água.
O formol tem duas funções importantes na conservação de órgãos. A primeira é prevenir que as próprias enzimas celulares façam a decomposição dos tecidos. Quando o organismo morre e a respiração celular cessa, acontece a autólise (destruição de uma célula pela ação de suas próprias enzimas). O papel do formol é entrar na célula, ligar-se às proteínas e impedir essa destruição celular.
A segunda função é evitar a decomposição por bactérias. Isso acontece porque o formol é capaz de desnaturar proteínas, processo que as torna mais resistentes à ação desses microorganismos.
A solução precisa ser trocada de tempos em tempos. A Prefeitura do Porto o faz a cada dez anos — a última troca foi em 2015.
Por que o coração fica em Porto
O coração do monarca está desde 1835 em Porto. A escolha do local se deu nas vésperas de sua morte, em 1834, quando Dom Pedro I declarou que queria, literalmente, entregar seu coração à cidade. Ela foi palco da disputa de poder entre ele e Dom Miguel I, seu irmão.
O órgão, guardado na Igreja da Lapa, fica trancado a cinco chaves, que abrem uma placa de metal, redes de ferro, uma urna e a caixa de madeira onde fica armazenado o coração. Podem ser necessárias seis pessoas para retirá-lo de lá em segurança.
Já os demais restos mortais foram trazidos ao Brasil em 1972 e sepultados na cripta imperial, no Parque da Independência, em São Paulo. O local fica próximo do ponto nas margens do Rio Ipiranga onde teria acontecido, em 7 de setembro de 1822, o grito da independência, protagonizado por Pedro de Alcântara, que passou a ser chamado de Dom Pedro I durante o Primeiro Reinado.