Entenda os perigos da cápsula de césio 137 desaparecida na Austrália
Compartimento com material altamente radioativo não é visto desde o dia 10 de janeiro; especialistas veem risco ambiental
Autoridades australianas estão em alerta máximo desde que uma cápsula de material radioativo foi perdida há pelo menos 14 dias, em um trecho de 1.400 quilômetros de estrada no estado da Austrália Ocidental. Para especialistas, o risco é pequeno caso a cápsula permaneça isolada, mas, se ela for manuseada por alguém, o cenário se tornará extremamente perigoso.
Leandro Tessler, físico e professor da Unicamp, explica que para rastrear o aparato por meio da radiação, é preciso se aproximar a uma distância de alguns metros do pequeno objeto, o que torna a tarefa das autoridades ainda mais difícil.
"Acho muito pouco provável que encontrem a cápsula, pois teriam que chegar muito perto dela. Uma alternativa seria colocar drones voando baixo, mas é muito caro, e eles não irão gastar este dinheiro", diz.
O governo australiano anunciou que, devido às proporções milimétricas do objeto, é possível que a cápsula se prenda a sulcos de pneus de carros e caminhões.
Normalmente, equipamentos contendo materiais radioativos contém camadas de proteção, segundo Rebeca Bacani, doutora em física e pesquisadora na Universidade de São Paulo (USP). Porém, a suspeita é de que objeto perdido não esteja protegido por nenhum tipo de absorvedor, o que significa que qualquer um que se aproxime estará sujeito a receber radiação.
"O problema é se alguém pegar e manusar o material de maneira inadequada, como aconteceu no caso de Goiânia", afirma a pesquisadora.
Bacani se refere ao episódio de setembro de 1987, quando dois moradores de Goiânia encontraram e abriram um antigo aparelho de radiologia deixado em um prédio abandonado.
Uma cápsula de chumbo contendo césio-137, que foi retirada de dentro o equipamento e aberta pela dupla, foi repassada a um ferro velho, o que fez com que o material transitasse pelas mãos de diversas pessoas. Dados oficiais apontam para quatro mortes e adoecimento de centenas de envolvidos.
"É energia suficiente para atravessar a gente e interagir com o nosso DNA, causando danos à sua estrutura e mutações. A 5, 10, ou até 20 metros de distância, você já está em algum risco", diz Tessler, da Unicamp.
Entenda o caso
O governo emitiu um comunicado oficial na sexta-feira (27) afirmando que uma cápsula contendo a substância radioativa estava desaparecida e pedindo para que a população "fique alerta e denuncie qualquer coisa que se pareça com o material".
A responsável pelo incidente é a Rio Tinto, empresa anglo-australiana de mineração, que emitiu um pedido de desculpas no domingo (29). Segundo a empresa, a cápsula estava em um dispositivo que é usado em processos de mineração e teria caído de um caminhão que ia de uma mina ao norte da cidade de Newman para a cidade de Perth.
O dispositivo foi visto pela última vez em 10 de janeiro e o caminhão que transportava a cápsula chegou a Perth no dia 16. Os serviços de emergência foram notificados sobre o desaparecimento no dia 18 e a informação só foi tornada pública no dia 20.