Especialistas avaliam impacto de compra na moderação do Twitter
Apesar de magnata desejar ampliar 'liberdade de expressão' na plataforma, há leis que precisam ser respeitadas; entenda
A compra do Twitter pelo magnata Elon Musk, nesta segunda-feira, 25, gerou muitos comentários por parte dos usuários. Isso porque o bilionário afirmou deseja mudar as regras de moderação de conteúdo da rede social. Especialistas em tecnologia ouvidos pelo Terra explicam se a mudança pode impactar na forma como as pessoas se expressam na plataforma.
Atualmente, o Twitter permite que os usuários denunciem conteúdos por diversos motivos, que pode ser considerados de teor ofensivo, abusivo e até criminal. Além disso, neste ano, a rede social acrescentou uma opção para brasileiros sinalizarem postagens com fake news.
Diogo Cortiz, doutor e mestre pelo Programa de Tecnologias da Inteligência e Design Digital da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explica que Musk comprou o Twitter com o argumento de que poderia melhorar a plataforma e um dos pontos que o bilionário argumentou é a liberdade de expressão. "Ele coloca que a plataforma muitas vezes acaba violando a liberdade de expressão por meio da moderação de conteúdo, o que é polêmico e controverso", afirma.
Após a aquisição da plataforma pelo executivo, muitos usuários brasileiros levantaram a tag #RipTwitter nos assuntos mais comentados da plataforma. A maioria das postagens era com brincadeiras, enquanto algumas pessoas mostraram apreensão com o futuro da rede social.
Na política, houve muita repercussão entre líderes ligados a pautas conservadoras. O presidente da república, Jair Bolsonaro (PL), retuitou uma mensagem postada por Elon Musk e reforçando "esperar que seus críticos continuem a usar o Twitter", porque, segundo ele, é isso o que realmente significa "liberdade de expressão".
De acordo com Cortiz, a moderação de conteúdo na plataforma é importante para remover conteúdos inadequados, como, por exemplo, postagens que incitam a violência, o preconceito, conteúdos sexuais, de pedofilia e postagens abusivas.
"Só que quando a gente olha para a realidade, além do argumento de liberdade de expressão, vemos que tem muito mais coisa envolvida. Porque Musk tem uma empresa de carro e outra de foguete e ter uma rede social é importante para obter dados e informações sobre o comportamento das pessoas", aponta Cortiz.
Segundo o especialista, apesar do magnata prometer uma rede social mais aberta em relação à liberdade de postagens, ele não pode liberar qualquer conteúdo, porque trazer impactos econômicos e jurídicos para Musk. "Se a plataforma se transformar em um espaço poluído, turbulento e tóxico, as pessoas vão usar menos. E também existem leis em territórios onde o Twitter tá, e ele precisa obedecê-las. O Twitter não morreu e nem vai, o que se especula agora são as mudanças que podem ocorrer", acrescenta.
Para o diretor executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade, Fabro Steibel, a aquisição de Musk indica uma nova geração das Fintechs. "Houve uma tendência muito forte de empresas de capital fechado se abriram, mas a queda das ações da Netflix levanta a suspeita de que, talvez, o mercado digital não seja tão grande quanto prometido. Então, uma das possibilidades é que o Twitter se antecipou à queda dessa bolha, se protegeu e agora tem um comprador", explica.
Steibel também destaca que as políticas de moderação da rede social são importantes e que há regras que precisam ser seguidas, mas que Musk deve adaptar o Twitter para que se pareça mais com a sua forma de fazer negócio. "Não quer dizer que ele vai admitir um retrocesso. Essa fala do Musk [sobre liberdade de expressão] deve considerar o atual contexto --ecossistema legal, governamental, político-- que exige mais cuidado com a moderação de conteúdos", afirma.