Espionagem online: mulheres são vítimas de violência doméstica
Mulheres são as principais vítimas de violência doméstica originada pela espionagem online.
Os dados iniciais da pesquisa “Stalking online em relacionamentos” da Kaspersky mostram que 25% dos brasileiros foram ou são vítimas de perseguição abusiva por meio de equipamentos tecnológicos e há um equilíbrio entre gêneros. Porém, quando o estudo se aprofunda no tema violência e abuso, os resultados mostram que as mulheres são as vítimas mais afetadas no Brasil.
A conclusão da pesquisa mostra que, das vítimas de abuso ou violência em relacionamentos, 52% dos participantes também passam por um monitoramento das atividades digitais (por meio do celular e/ou computador).
“A conclusão do estudo que diz que os programas espiões são um facilitador-chave para a violência está corretíssima. Não é comum se apaixonar por uma pessoa porque ela é agressiva ou obsessiva, esses comportamentos geralmente são revelados ao longo do relacionamento. Os assédios e vigilância abusiva seguem uma escalada e o monitoramento sem o consentimento pode ser o primeiro degrau para a prática de crimes mais graves, como a violência física e até a morte”, explica Milena Lima, delegada de polícia com atuação especializada em crimes digitais e violência contra mulheres.
O estudo detalhou ainda os tipos mais comuns de violência (dados incluem múltiplas respostas): 83% sofrem de abuso/violência psicológica, 37% de agressão física, 36% abuso econômico e 24% o sexual. “Um relacionamento tóxico começa lindo e, com o tempo, aparecem os comportamentos abusivos, como o controle e o isolamento da vítima, tanto familiar, quanto das amizades e até o profissional ― tudo para colocar a vítima em uma posição de dependência e vulnerabilidade. É importante entender isso para evitar julgamentos distorcidos como ‘ela que se colocou nessa situação’ ou ‘ela não me ouviu, agora que se vire sozinha’”, pondera a delegada.
Outra conclusão importante que apareceu na pesquisa é a diferença de gênero. Essa questão surgiu nos resultados entre brasileiros, quando os participantes foram questionados se eram alvos de violência ou abuso por parte de seus parceiros: 32% das mulheres afirmaram que sim ― contra 15% dos homens. Essa grande diferença permitiu a conclusão de que as mulheres são as principais vítimas. A média brasileira para esta pergunta é de 24%.
“A perseguição compulsiva feita com um programa de monitoramento é mais uma manifestação de uma cultura que confunde relação amorosa com pose e controle. Infelizmente, esse comportamento está presente no ser humano, seja homem ou mulher, mas por diversas questões culturais, ele se apresenta mais agressivo quando a possessão é feita por um homem com uma mulher”, avalia a presidente da Associação Artemis (que atua na prevenção e erradicação de todas as formas de violência contra as mulheres) e doutora em Saúde Coletiva pela Universidade de São Paulo, Raquel Marques.
Para a especialista, os pontos-chave no apoio às sobreviventes são o entendimento e aceitação de que a pessoa está sendo vítimas de crimes e a correta orientação (psicológica, social, técnica e jurídica). “Em uma relação tóxica, as pessoas ficam imersas em tantas questões, como a insegurança, que elas não percebem que estão ocorrendo diversos tipos de crimes em seu dia a dia. Quanto ao monitoramento, muitas não sabem que isso é um crime e ele acaba sendo ‘apenas’ mais uma situação de violência. A melhor forma de ajudar é mostrar que nem tudo é normal ou aceitável e quais são os limites que diferenciam um cuidado excessivo e um crime de abuso”, conclui.
A pesquisa “Stalking online em relacionamentos” foi realizada a pedido da Kaspersky pela empresa de pesquisa Sapio de forma online em setembro de 2021 e abrangeu um universo de 21 mil participantes de 21 países, incluindo o Brasil. A motivação da empresa na realização deste estudo e sua posterior divulgação também está relacionada com o segundo aniversário da Coalizão Contra o Stalkerware ― entidade que visa combater esta ameaça digital na qual a Kaspersky é cofundadora.
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