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Espionagem online: mulheres são vítimas de violência doméstica

Mulheres são as principais vítimas de violência doméstica originada pela espionagem online.

2 jun 2022 - 03h00
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Foto: Adobe Stock

Os dados iniciais da pesquisa “Stalking online em relacionamentos” da Kaspersky mostram que 25% dos brasileiros foram ou são vítimas de perseguição abusiva por meio de equipamentos tecnológicos e há um equilíbrio entre gêneros. Porém, quando o estudo se aprofunda no tema violência e abuso, os resultados mostram que as mulheres são as vítimas mais afetadas no Brasil.  

A conclusão da pesquisa mostra que, das vítimas de abuso ou violência em relacionamentos, 52% dos participantes também passam por um monitoramento das atividades digitais (por meio do celular e/ou computador). 

“A conclusão do estudo que diz que os programas espiões são um facilitador-chave para a violência está corretíssima. Não é comum se apaixonar por uma pessoa porque ela é agressiva ou obsessiva, esses comportamentos geralmente são revelados ao longo do relacionamento. Os assédios e vigilância abusiva seguem uma escalada e o monitoramento sem o consentimento pode ser o primeiro degrau para a prática de crimes mais graves, como a violência física e até a morte”, explica Milena Lima, delegada de polícia com atuação especializada em crimes digitais e violência contra mulheres. 

O estudo detalhou ainda os tipos mais comuns de violência (dados incluem múltiplas respostas): 83% sofrem de abuso/violência psicológica, 37% de agressão física, 36% abuso econômico e 24% o sexual. “Um relacionamento tóxico começa lindo e, com o tempo, aparecem os comportamentos abusivos, como o controle e o isolamento da vítima, tanto familiar, quanto das amizades e até o profissional ― tudo para colocar a vítima em uma posição de dependência e vulnerabilidade. É importante entender isso para evitar julgamentos distorcidos como ‘ela que se colocou nessa situação’ ou ‘ela não me ouviu, agora que se vire sozinha’”, pondera a delegada.

Outra conclusão importante que apareceu na pesquisa é a diferença de gênero. Essa questão surgiu nos resultados entre brasileiros, quando os participantes foram questionados se eram alvos de violência ou abuso por parte de seus parceiros: 32% das mulheres afirmaram que sim ― contra 15% dos homens. Essa grande diferença permitiu a conclusão de que as mulheres são as principais vítimas. A média brasileira para esta pergunta é de 24%.

“A perseguição compulsiva feita com um programa de monitoramento é mais uma manifestação de uma cultura que confunde relação amorosa com pose e controle. Infelizmente, esse comportamento está presente no ser humano, seja homem ou mulher, mas por diversas questões culturais, ele se apresenta mais agressivo quando a possessão é feita por um homem com uma mulher”, avalia a presidente da Associação Artemis (que atua na prevenção e erradicação de todas as formas de violência contra as mulheres) e doutora em Saúde Coletiva pela Universidade de São Paulo, Raquel Marques.

Para a especialista, os pontos-chave no apoio às sobreviventes são o entendimento e aceitação de que a pessoa está sendo vítimas de crimes e a correta orientação (psicológica, social, técnica e jurídica). “Em uma relação tóxica, as pessoas ficam imersas em tantas questões, como a insegurança, que elas não percebem que estão ocorrendo diversos tipos de crimes em seu dia a dia. Quanto ao monitoramento, muitas não sabem que isso é um crime e ele acaba sendo ‘apenas’ mais uma situação de violência. A melhor forma de ajudar é mostrar que nem tudo é normal ou aceitável e quais são os limites que diferenciam um cuidado excessivo e um crime de abuso”, conclui.

A pesquisa “Stalking online em relacionamentos” foi realizada a pedido da Kaspersky pela empresa de pesquisa Sapio de forma online em setembro de 2021 e abrangeu um universo de 21 mil participantes de 21 países, incluindo o Brasil. A motivação da empresa na realização deste estudo e sua posterior divulgação também está relacionada com o segundo aniversário da Coalizão Contra o Stalkerware ― entidade que visa combater esta ameaça digital na qual a Kaspersky é cofundadora. 

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