Esta empresa inventou uma cápsula inteligente para suicídio assistido
Com ajuda da AI, pacientes que desejam morrer devem responder a perguntas e apertar o “botão”; prática levanta discussão sobre ética
A inteligência artificial (IA) já é parte da vida de grande parte da população, de aplicativos de celular a carros. Agora, uma organização sem fins lucrativos, chamada Exit International, quer trazê-la para a morte — uma cápsula em formato de caixão permite que um indivíduo pratique a eutanásia em ajuda de terceiros.
O equipamento, chamado Sarco, é o terceiro protótipo que a Exit International imprimiu e instalou em 3D. O número um foi exibido na Alemanha e na Polônia. “O número dois foi um desastre”, disse Philip Nitschke, conhecido como "Doutor Morte". Agora ele corrigiu os erros de fabricação e está pronto para lançar: “Este é o que será usado”.
Selado dentro da máquina, uma pessoa que escolheu morrer deve responder a três perguntas: Quem é você? Onde está você? E você sabe o que acontecerá quando você pressionar esse botão? Em seguida, o Sarco vai encher com gás nitrogênio e o ocupante vai desmaiar em menos de um minuto e morrer por asfixia em cerca de cinco.
No Brasil, não há ainda nenhuma inciativa do tipo e a eutanásia é proibida. Se você estiver precisando de ajuda, saiba que existem centros especializados e gratuitas de prevenção ao suicídio (ler no final da reportagem).
“Desmedicalizar a morte”
Desmedicalizar a morte é um plano de 25 anos de Nitschke. Ele quer tornar o suicídio assistido o mais desassistido possível, dando às pessoas que optaram por se matar autonomia e “dignidade em seus momentos finais”. "Você realmente não precisa de um médico para morrer", disse o "Doutor Morte" em um comunicado.
“Eu não queria sentar lá e dar a injeção. Se você quiser, aperte o botão”, disse Nitschke.
A morte assistida é autorizada em alguns países, e o caso mais recente é do cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, que morreu no dia 13 de setembro, por suicídio assistido, conforme comunicou o jornal francês Liberation, a partir de informações da família.
Na maioria dos EUA, isso só pode ser aplicado em casos de doenças terminais e incuráveis, que geram sofrimento insuportável ao paciente. Na Suíça, onde morreu Godard, essas condições não são necessariamente pré-requisitos. Lá, a interpretação de "sofrimento insuportável" é mais ampla.
“Ainda existe a crença de que, se uma pessoa está pedindo para morrer, ela tem algum tipo de doença mental não diagnosticada”, afirmou Nitschke. “Que não é racional para uma pessoa buscar a morte.”
Para isso, o médico apresenta uma solução: a Exit International está trabalhando em um algoritmo que Nitschke espera que permita às pessoas realizar uma espécie de autoavaliação psiquiátrica em um computador.
Se uma pessoa passar nesse teste online, o programa deve fornecer um código de quatro dígitos para ativar o Sarco. “Esse é o objetivo”, diz Nitschke. “Dito tudo isso, o projeto está se mostrando muito difícil.”
Inteligência artificial na morte
Em alguns locais, a inteligência artificial é usada para triagem e tratamento de pacientes em um número crescente de áreas de saúde. À medida que os algoritmos se tornam uma parte cada vez mais importante do cuidado, é necessário garantir que seu papel seja limitado a decisões médicas, não morais.
Agora, a pressa em automatizar levanta grandes questões sem respostas fáceis, dizem os pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Perguntas como: “Que tipo de decisão é apropriada usar um algoritmo para fazer? Como esses algoritmos devem ser construídos? E quem tem uma palavra a dizer sobre como eles funcionam?”.
Nitschke tem a distinção de ser a primeira pessoa a administrar legalmente uma injeção letal voluntária em outro ser humano. O primeiro paciente dele, um carpinteiro de 66 anos chamado Bob Dent, que sofria de câncer de próstata há cinco anos, explicou sua decisão em uma carta aberta: “Se eu mantivesse um animal de estimação nas mesmas condições em que estou, seria processado”.
O médico queria apoiar as decisões de seus pacientes. Mesmo assim, ele estava incomodado com o papel que eles estavam pedindo para ele — então, desenvolveu uma máquina para tomar o seu lugar. A máquina era um computador conectado a uma seringa. O Sarco é uma iteração desse dispositivo original, que mais tarde foi adquirido pelo Science Museum em Londres.
Onde buscar ajuda?
- O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias. A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, é gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular;
- CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde);
- UPA 24H, SAMU 192, Pronto-Socorro e Hospitais.