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Estados Unidos usam drone para transportar órgãos doados

Dispositivo tem indicadores para controlar temperatura, pressão barométrica e vibrações do órgão; drone é monitorado por dois pilotos em terra

3 mai 2019 - 05h11
(atualizado em 4/5/2019 às 08h47)
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Um drone feito sob medida levou recentemente um rim para uma mulher em Maryland que esperava havia oito anos por um transplante para salvar sua vida.

Embora o voo de teste tenha sido curto - menos de cinco quilômetros no total -, a equipe da Universidade de Maryland que criou o drone disse que foi um primeiro e crucial passo na tentativa de se acelerar a complexa operação para se fazer chegar órgãos doados aos destinatários.

O chefe da equipe, Joseph R. Scalea, professor assistente de cirurgia na Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, explicou que se empenhou no projeto devido à constante frustração de ver órgãos levando tempo demais para chegar aos pacientes.

Após os órgãos serem retirados de um doador, eles ficam menos saudáveis a cada segundo que passa. Scalea citou um caso ocorrido no Alabama em que um rim doado levou 29 horas para ser entregue no hospital. "Se tivéssemos feito o transplante em até nove horas, o paciente provavelmente teria muitos anos mais de vida", disse o cirurgião. "Por que ainda não conseguimos melhorar isso?

Parceria

Para realizar o projeto, a equipe médica de Scalea trabalhou com colegas da engenharia aeronáutica da Universidade, bem como com a Living Legacy Foundation de Maryland, que supervisiona a doação de órgãos. Ele fez o transplante com dois outros cirurgiões do centro médico da Universidade de Maryland, Rolf N. Barth e Talal Al-Quod.

A mulher que recebeu o rim, Trina Glispy, de 44 anos, uma enfermeira de Baltimore, disse que estava começando a perder a esperança quando recebeu um telefonema em 18 de abril, informando que um doador compatível havia sido encontrado.

Trina, que é mãe de três filhos, descobriu que seus rins estavam falhando em 2011, quando um paciente sob seus cuidados chutou-a acidentalmente e a perna atingida começou a inchar assustadoramente. Ela começou a fazer hemodiálise três vezes por semana em sessões de quatro horas, o que estava roubando sua energia. Ficou cada vez mais difícil fazer seu exigente expediente no Hospital de Veteranos, trabalho que ela adorava.

Assim, ela ficou ansiosa e esperançosa ao receber o telefonema - concidentemente, durante uma hemodiálise. Onze dias depois da cirurgia, Glispy anunciou que já estava bem. Ela manifestou sua gratidão, lembrando-se de seus grandes temores durante os anos de tratamento.

"Sinto-me afortunada, especialmente depois de ver tanta gente passando por hemodiálise", disse ela. "Vi muitos morrerem e pensei: 'Está demorando tanto! Talvez eu também não consiga'."

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Como funciona

O drone usado tinha motores e propulsão por hélices, bateria dupla e paraquedas para impedir desastres se um componente passasse por problemas a 120 metros de altura. O voo foi monitorado por dois pilotos em terra, que usaram uma rede sem fio e estavam prontos para interferir no plano automático de voo em caso de emergência. O drone também tinha, entre outros dispositivos, indicadores para controlar temperatura, pressão barométrica e vibrações.

Scalea viu no voo a "prova de que um sistema problemático pode ser inovado". Ela acrescentou que no atual sistema de transporte os médicos com frequência não conseguem acompanhar como está indo um órgão em trânsito. O drone permite atualizações pontuais do trajeto, do mesmo modo que se pode acompanhar pelo celular a aproximação de um táxi solicitado.

"Podemos monitorar tudo em tempo real", disse Scalea. "É como um Uber para órgãos."

O drone voou mais de 700 horas em 44 testes de voo antes da missão, informou Scalea. O exercício permitiu à equipe superar obstáculos logísticos e regulatórios envolvidos no transporte de um órgão viável. O foco agora será "transportar cada vez mais rápido e para mais longe", disse o cirurgião.

Christopher Marsh, diretor do programa de transplantes do Scripps Green Hospital em La Jolla, Califórnia, e membro da Sociedade Americana de Transplantes, disse que ainda é muito cedo para atestar a confiabilidade do transporte de órgãos por drone. Mas adiantou que os cirurgiões vão acompanhar de perto os avanços na experiência. "Estamos entrando em um novo mundo", afirmou. "As coisas mudam e devemos estar abertos para isso." / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Estadão
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