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Estudantes brasileiros participam da nova missão para a Lua

Passados mais de 50 anos, o homem pisará novamente na Lua

27 jan 2023 - 05h00
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Foto: Arquivo pessoal / Gabriel Kozlowski Andreola

Os planos do homem voltar à Lua, desta vez, terá a participação de centenas de estudantes mundo afora, incluindo brasileiros. Por meio do projeto de astronomia cidadã GLEE (Great Lunar Expedition for Everyone), iniciativa da Nasa em parceria com a Universidade do Colorado, nos EUA, estudantes do Brasil programarão placas eletrônicas que serão enviadas pela missão Artemis para coletar dados ambientais da superfície lunar. 

Passados mais de 50 anos da missão Apollo 11, que colocou os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin caminhando na superfície da Lua, o programa Artemis da Nasa intensificará a exploração espacial e levará o ser humano novamente ao satélite natural da Terra. 

O Artemis quer aprofundar as pesquisas a respeito do satélite e do Sistema Solar. A missão pretende levar a primeira mulher à Lua, usar tecnologias inovadoras para explorar a superfície lunar e aproveitar todo o aprendizado para um outro grande salto: enviar astronautas até Marte.

De acordo com o professor José Carneiro da Cunha Oliveira Neto, da Universidade de Brasília, o Artemis tem o apelo de ser a humanidade colonizando a Lua. “Grupos de pesquisadores podem participar individualmente do projeto e isso é um dos pontos que encantam.”

Nova geração de exploradores

Para tanto, o programa liderado pelos Estados Unidos conta com a cooperação de 22 países, entre eles o Brasil. A iniciativa GLEE é um catalisador para a nova geração de exploradores e missões espaciais envolvendo estudantes de todo o mundo. 

Cada equipe de alunos deve projetar uma missão científica local para o LunaSat, que é uma pequena placa eletrônica, de aproximadamente 5 gramas, com vários sensores para realizar diferentes medições e coletar dados na superfície da Lua, os quais serão transmitidos de volta para a Terra.

A empolgação com a oportunidade é grande entre os alunos do Colégio Estadual do Paraná (CEP), que fizeram a inscrição nos instantes finais e foram selecionados para participar do programa, conta Gabriel Kozlowski Andreola, graduando em Física, que atua no observatório e planetário do colégio e também como orientador do projeto.

Imagem do nariz do foguete Artemis-i SLS com a cápsula Orion no pórtico de lançamento à luz da Lua
Imagem do nariz do foguete Artemis-i SLS com a cápsula Orion no pórtico de lançamento à luz da Lua
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Programação mais que esperada

Sob instruções do GLEE, os participantes receberam 12 módulos para serem preparados, cada um com uma parte específica da programação, que ao final será reunida e enviada para a Nasa.

As placas foram recebidas pelos alunos do CEP no final de outubro. Andreola explica que elas não são constituídas do material que irá para o espaço. A programação desenvolvida será inserida pela Nasa na placa definitiva, capaz de resistir às intempéries da Lua.

Todos os grupos de alunos, das diferentes instituições de ensino selecionadas pelo GLEE, têm a mesma atribuição para programar os registros. O diferencial, segundo Andreola, é que cada equipe pode inserir uma programação de autoria própria, ponto que os alunos do colégio ainda trabalham para definir.

Coletando dados

O professor Amauri José da Luz Pereira, coordenador do OACEP (Observatório Astronômico e Planetário do Colégio Estadual do Paraná), explica que as placas recebidas foram usadas em nanossatélites em voos orbitais e agora serão programadas para coletar dados na superfície lunar, sendo que os alunos terão a atribuição de decidir o intervalo para a coleta.

“As placas serão distribuídas na lua, conforme caírem na sua superfície. Terão dois dias lunares, que correspondem a 56 dias terrestres, para a coleta de dados como temperatura, composição das rochas, sensores de impactos para medir pequenas vibrações na superfície da Lua e também medir o campo magnético”, detalha Pereira.

Todo o trabalho feito para a programação das placas será enviado para a Nasa, que fará rodar com os LunaSats.

Código aberto

O professor destaca que se trata de um programa inovador, na “pegada” do open source, ou seja, que usa código aberto e assim pode ser visualizado por qualquer pessoa. 

“Essa possibilidade de ser um programa de código aberto faz com que se tenha um software de linguagem comum, que pode ser entendido por alunos que participam de equipes de robótica, por exemplo”, pontua Pereira.

Andreola também ressalta a importância das placas serem programadas por Arduino, que é uma plataforma didática usada no dia a dia de quem atua em projetos de eletrônica e robótica.

Placas utilizadas pelos alunos do Paraná
Placas utilizadas pelos alunos do Paraná
Foto: Gabriel Kozlowski Andreola

Motivar futuros cientistas

A equipe do CEP para essa missão  é formada pelo professor e nove alunos. Pereira diz que a participação no GLEE elevou a motivação do grupo, tanto que já percebe a intenção de alguns estudantes disputarem vagas em cursos nos quais possam se especializar em astronomia espacial.

“No Brasil, onde temos carência de cientistas, um incentivo como esse é muito importante. É algo inédito na área das ciências espaciais e ver o interesse dos alunos é muito bom”, destaca.

O CEP possui um complexo astronômico com planetário e observatório. O colégio mantém quase 5 mil alunos e 30 participam de projetos na área do OACEP, que hoje tem fila de espera para acolher novos integrantes.

Esse não é o único projeto da escola com a Nasa. Os alunos estão envolvidos com outras iniciativas e foi a partir da observação de imagens de telescópios da agência norte-americana, usados em programas colaborativos, que dois alunos da instituição fizeram a descoberta de um asteroide, confirmado no ano passado. 

Expectativas com os LunaSats

Com relação às placas eletrônicas, a programação é que até o final do semestre elas retornem do Brasil para a Nasa.

“Depois disso, aguardaremos as diretrizes do GLEE para saber quando serão embarcadas. Claro que gostaríamos de acompanhar in loco, mas por limitação financeira não será possível, a menos que alguma empresa queira incentivar”, admite o professor.

O lançamento dos dispositivos deve acontecer em 2024. As placas são identificáveis, o que permite conhecer a equipe que programou cada dispositivo.

Segundo Pereira, existe a possibilidade de algumas dessas placas serem coletadas por astronautas na próxima viagem à Lua e trazidas de volta para a Terra.

“Se uma das nossas voltar será o troféu mais raro que teremos. Ir para a Lua e retornar à Terra”, enfatiza.

Legado científico

O professor elege entre os principais dados que serão coletados a medição mais acurada do campo magnético. 

“Talvez seja o maior legado científico. Ele trará [conhecimentos] para a forma de desenvolver equipamentos de orientação para navegação na Lua, que podem ser mais precisos para as próximas missões.”

A primeira ida à Lua ocorreu no auge da Guerra Fria entre russos e americanos. Os russos foram os primeiros a colocar satélite lá e os EUA fizeram com que o homem pudesse pisar na Lua.

Foi uma corrida da época, em parte para marcar poder, e do ponto de vista econômico aquela missão não teve grande significado.

Efeito hélio-3 

Agora, mais recentemente, os chineses mandaram suas sondas e descobriram o elemento hélio-3 presente na Lua. Trata-se de um combustível importante para o reator de fusão nuclear, que é a famosa equação do físico Albert Einstein (E = mc2).

Segundo o professor, cada 85 gramas de hélio-3 equivale à capacidade total de toda a Usina Hidrelétrica de Itaipu, durante um dia.

Pereira explica que o hélio-3 existe na Terra, a valores elevados e parece presente em abundância na Lua. 

Talvez isso possa justificar investimentos e toda a especulação sobre os aspectos econômicos dessa nova viagem do homem à Lua.

Fonte: Redação Byte
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