Estudo avança para entender possível elo entre endometriose e bactérias
Pesquisa com 155 mulheres encontrou membros da bactéria Fusobacterium no útero de cerca de 64% das mulheres com endometriose
A infecção por um determinado grupo de bactérias pode estar ligada à endometriose, condição que afeta até 10% das mulheres e meninas em idade reprodutiva.
Em um estudo realizado com 155 mulheres no Japão, membros do gênero bacteriano Fusobacterium foram encontrados no útero de cerca de 64% das mulheres com endometriose e 7% das que não têm a doença.
Experimentos de acompanhamento em camundongos infectados com Fusobacterium mostraram que o tratamento com um antibiótico pode reduzir o tamanho e a frequência das lesões associadas à endometriose.
Os pesquisadores precisarão trabalhar mais antes que as descobertas, publicadas em 14 de junho na revista Science Translational Medicine, possam ser usadas para desenvolver tratamentos para a endometriose. Quem diz isso é Elise Courtois, genômica que estuda a doença no Jackson Laboratory em Farmington, Connecticut, em entrevista à Nature.
Mas, os resultados destacam o crescente interesse no papel potencial dos micróbios na endometriose, que tem opções de tratamento limitadas e cujas origens são pouco compreendidas.
“Definitivamente, há coisas que nos fazem suspeitar que o microbioma está implicado na endometriose. A genética não explica tudo”, disse Courtois.
Lesões dolorosas
A endometriose é causada pela migração de tecido do revestimento do útero, chamado endométrio, para outras partes do corpo – na maioria das vezes para órgãos na região pélvica – onde se liga e cresce.
Frequentemente causa lesões nos órgãos reprodutivos e está associada à redução da fertilidade. Além disso, pessoas com lesões nos ovários têm um risco aumentado de desenvolver câncer de ovário. O sintoma mais comum da endometriose é a dor, que pode ser intensa.
Os tratamentos incluem terapias hormonais, que também atuam como contraceptivos, e cirurgia para remover as lesões.
A pesquisa
A equipe analisou tecido endometrial de mulheres com e sem a condição. Eles descobriram que amostras de pessoas com endometriose eram mais propensas a hospedar bactérias pertencentes ao gênero Fusobacterium.
As fusobactérias foram frequentemente encontradas na boca, intestino e vagina e têm sido associadas a outras condições, como doenças gengivais.
Para ver se o Fusobacterium poderia afetar diretamente o curso da endometriose, a equipe transplantou tecido endometrial de um grupo de camundongos para a cavidade abdominal de outro. Dentro de semanas, lesões endometrióticas se formaram nos camundongos receptores.
Usando esse modelo, os pesquisadores descobriram que as lesões tendiam a ser mais abundantes e maiores em camundongos que também haviam sido inoculados com Fusobacterium do que naqueles que não haviam.
Tratar os ratos com os antibióticos metronidazol ou cloranfenicol, administrados por via vaginal, reduziu o desenvolvimento de endometriose e diminuiu o número e o tamanho das lesões.
Segundo Yutaka Kondo, biólogo especializado em câncer da Universidade de Nagoya, no Japão, e coautor do artigo, um ensaio clínico em mulheres com endometriose está em andamento para descobrir se os antibióticos podem aliviar alguns de seus sintomas.
Os resultados são convincentes, mas ainda faltam algumas peças-chave na história, diz Courtois. Por exemplo, seria útil testar a associação entre Fusobacterium e endometriose em uma população mais diversificada.