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EUA desenvolverão implante cerebral para restaurar memória

Agência americana tem um plano de, em 4 anos, construir um sofisticado estimulador de memória, que poderá beneficiar vítimas de Alzheimer e soldados que sofreram lesões cerebrais graves no Iraque e no Afeganistão

1 mai 2014 - 16h50
(atualizado às 17h11)
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Sonho de muitos mortais, apagar ou recuperar da memória uma recordação pode se tornar realidade graças a um grupo de pesquisadores militares que desenvolvem um implante cerebral capaz de restaurar recordações de soldados e pacientes com problemas neurológicos.

A Agência de Investigação de Projetos Avançados de Defesa (DARPA) desenvolve um plano de quatro anos para construir um sofisticado estimulador de memória. Caso tenha sucesso, a pesquisa poderá beneficiar, por exemplo, milhões de pessoas acometidas com o Mal de Alzheimer.

O projeto faz parte de um investimento de 100 milhões de dólares concedido pelo presidente Barack Obama, que visa fomentar pesquisas de aprofundamento na compreensão do cérebro humano.

A ciência nunca tentou tal façanha antes, e o tema levanta inúmeros questionamentos éticos, como por exemplo se a mente humana pode ser manipulada com o intuito de controlar feridas de guerra ou o envelhecimento do cérebro.

Assim como quem sofre de demência, as pesquisas poderão ajudar os cerca de 300.000 soldados norte-americanos que sofreram lesões cerebrais graves no Iraque e no Afeganistão.

"Se você ficou ferido no cumprimento de seu dever e não consegue se lembrar da sua família, queremos ser capazes de recuperar este tipo de função", disse esta semana o gerente do programa do DARPA, Justin Sánchez, em conferência realizada em Washington, organizada pelo Centro de Saúde Cerebral da Universidade do Texas.

"Pensamos que podemos desenvolver dispositivos neuro-protésicos que possam interagir diretamente com o hipocampo para restaurar o primeiro tipo de recordação que apontamos, a memória declarativa", disse.

A memória declarativa, também chamada de memória explicita, é uma forma de memória de longo prazo que armazena a identificação de pessoas, acontecimentos, feitos e números. Nenhuma pesquisa conseguiu mostrar como, uma vez perdidas, estas lembranças podem ser recuperadas.

O que os cientistas da área são capazes de fazer até o momento é ajudar a reduzir os tremores de pessoas que sofrem do Mal de Parkinson, controlar as convulsões de epilépticos e melhorar a memória de alguns pacientes com Alzheimer através de um processo chamado estimulação cerebral.

Estes dispositivos, inspirados nos marcapassos usados por pacientes que sofrem de problemas cardíacos, enviam sincronizadamente estímulos elétricos ao cérebro, mas não funcionam de maneira igual em todos os doentes.

Os especialistas garantem que é necessário desenvolver algo parecido para trabalhar na recuperação da memória. "A memória é um assunto de padrões e conexões", explicou Robert Hampson, professor associado da universidade Wake Forest.

"Para desenvolvermos a prótese de memória, devemos primeiramente ter algo que nos mostre quais são os padrões específicos", ressaltou Hampson, negando-se a falar explicitamente sobre a pesquisa do DARPA.

A investigação de Hampson em roedores e macacos tem demonstrado que os neurônios do hipocampo - zona do cérebro que processa a memória - se ativam de maneiras diferentes quando o sujeito vê a cor vermelha ou azul, ou quando é confrontado com uma fotografia de um rosto ou de um alimento.

Munido desta descoberta, Hampson e seus colegas puderam estender a memória de curto prazo dos animais usando próteses cerebrais para estimular o hipocampo.

Os pesquisadores também conseguiram que um macaco dopado agisse quase normalmente ao realizar uma tarefa de memória, e o confundiram manipulando o sinal para que ele escolhesse a imagem oposta da que ele se lembrava.

Assim, segundo Hampson, para restaurar uma lembrança humana específica, os cientistas necessitariam saber qual é exatamente o padrão, ou caminho, para aquela memória.

Outros cientistas da área consideram que podem melhorar a memória de uma pessoa ajudando o cérebro a trabalhar de forma similar à que trabalhava antes de sofrer a lesão cerebral.

É fácil prever que a manipulação das lembranças de uma pessoa abrirá um campo de batalha ético. Foi o que disse Arthur Caplan, médico especializado em ética do centro médico de la Universidade Langone, em Nova York.

"Quando você mexe com o cérebro, mexe com sua própria identidade", disse Caplan, que presta consultoria à DARPA em assuntos de biologia sintética.

"O custo de alterar a mente é que se corre o risco de perder sua identidade,e este é um tipo de risco que nunca enfrentamos antes".

No que diz respeito aos soldados, a possibilidade de que seja factível apagar memórias ou inocular novas recordações pode interferir nas técnicas de combate, fazer com que os soldados sejam mais violentos e menos escrupulosos, ou até mesmo manipular o andamento de investigações de crimes de guerra, advertiu Caplan.

"Se eu puder tomar uma pílula ou colocar um capacete para que algumas lembranças sejam apagadas, talvez eu não tenha que viver com as consequências do que faço", disse.

A página da DARPA na internet assinala que, devido a seus "programas levarem a ciência até seus limites", a agência "periodicamente consulta estudiosos com gabarito para aconselhar e discutir temáticas de relevância ética, legal e social".

Uma das muitas perguntas sem resposta sobre o projeto é quem estará à frente dos primeiros testes em seres humanos, quais serão as primeiras cobaias.

Sánchez afirmou que os próximos passos da pesquisa serão anunciados dentro de poucos meses. "Temos alguns dos cientistas mais talentosos de nosso país trabalhando neste projeto. Então fiquem ligados: muitas coisas promissoras estão por vir num futuro muito próximo".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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