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Facebook corre atrás para não ficar esquecido depois do ChatGPT

A companhia tem ficado de fora da onda de entusiasmo com a 'IA gerativa'

14 fev 2023 - 05h10
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THE NEW YORK TIMES - Duas semanas depois do ChatGPT surgir na internet em novembro e impressionar o mundo, a Meta, a proprietária do Facebook, WhatsApp e Instagram, lançou seu próprio chatbot.

Com o nome de Galactica, ele tinha sido projetado para a pesquisa científica. E poderia escrever instantaneamente seus próprios artigos, resolver problemas de matemática, gerar códigos de computador e fazer comentários sobre imagens.

Assim como o ChatGPT, o Galactica também apresentava falhas, como inventar provas matemáticas, mentir a respeito de datas históricas e criar histórias fictícias. Um usuário convenceu o chatbot a falar de quando ursos foram para o espaço. Ao ser questionado sobre quem comandava o Vale do Silício, o Galactica respondeu: "Steve Jobs".

Mas, ao contrário da OpenAI, startup que criou o ChatGPT, a Meta se deparou com uma avalanche de queixas em relação aos problemas do Galactica. Depois de apenas três dias, a empresa, que enfrentou críticas por espalhar desinformação e discurso de ódio por meio de seus aplicativos de redes sociais, tirou o Galactica do ar.

"As pessoas que criaram a versão demo tiveram que derrubá-la porque simplesmente não aguentaram as críticas", disse Yann LeCun, cientista-chefe de inteligência artificial da Meta, no mês passado, durante uma participação on-line no Collective [I]Forecast, um encontro entre líderes do Vale do Silício e intelectuais.

Durante quase uma década, a Meta gastou bilhões de dólares desenvolvendo novos tipos de inteligência artificial (IA). O CEO Mark Zuckerberg transformou em missão para a Meta se tornar uma líder na área em 2013. A empresa contratou centenas dos principais pesquisadores de IA, inclusive LeCun. E gastou centenas de milhões de dólares com a enorme quantidade de poder computacional necessária para criar sistemas de IA.

Mesmo assim, a Meta tem ficado de fora da onda de entusiasmo que tomou conta do Vale do Silício pela "IA gerativa", o nome para tecnologias que geram texto, imagens e outras mídias por conta própria. A OpenAI ganhou o centro das atenções, embora a Meta e muitas outras empresas tenham desenvolvido tecnologias semelhantes.

Algumas delas, desde então, mergulharam de cabeça na nova febre. O Google anunciou que lançará um chatbot experimental chamado Bard. E há poucos dias, a Microsoft, que investiu US$ 13 bilhões na OpenAI, realizou um evento para apresentar uma versão de seu mecanismo de busca, o Bing, que usa a tecnologia do chatbot.

A Meta, no entanto, foi prejudicada, por sua reputação como um gigante corporativo que ajuda a espalhar mentiras, disse LeCun no mês passado. E devido às responsabilidades com bilhões de usuários, ela não podia se dar ao luxo de deixar no ar um chatbot capaz de gerar informações falsas e preconceituosas.

"A OpenAI e outras pequenas empresas estão numa posição melhor para, de fato, conseguir algum crédito por lançar esse tipo de coisa", disse Chirag Shah, professor da Universidade de Washington que analisou as falhas em tecnologias como o Galactica e o ChatGPT. "Elas não vão receber o mesmo tipo de reação negativa."

Tentativas além do metaverso

Nos últimos anos, a Meta também mudou seu foco para outra área da tecnologia: o metaverso, que Zuckerberg disse acreditar ser a próxima grande novidade tecnológica. No curto prazo, não está claro como a empresa pode oferecer produtos de IA gerativa com os seus serviços existentes de uma forma que chame a atenção de verdade do público.

Isso não significa que não esteja tentando. A Meta está acelerando seus esforços para disponibilizar aos consumidores produtos movidos a IA, disse Irina Kofman, diretora sênior de gerenciamento de produtos de IA gerativa, que supervisiona a XAI, uma nova equipe que tem o objetivo de desenvolver produtos de IA em toda a empresa. Zuckerberg está envolvido diretamente no direcionamento das iniciativas, realizando reuniões semanais com os líderes de produtos e os principais pesquisadores de IA, disse ela.

Em uma reunião recente com investidores, Zuckerberg mencionou a IA inúmeras vezes. Ele a chamou de "a base do nosso mecanismo de descoberta e dos nossos negócios com publicidade" e acrescentou que ela "possibilitaria muitos novos produtos e mais transformações aos nossos aplicativos".

Alguns executivos da Meta falaram do boom da IA gerativa com um certo desdém. Durante sua discussão online no mês passado, LeCun descreveu o ChatGPT como "não particularmente inovador" e "nada revolucionário" porque dependia de tecnologias desenvolvidas e usadas pela Meta, pelo Google e por outras empresas.

No início do ano passado, a Meta lançou um chatbot, o BlenderBot, que ampliou a última geração da tecnologia, disse LeCun. Mas nunca virou febre, segundo ele, porque a empresa trabalhou arduamente para garantir que não criasse material ofensivo.

"Ele foi criticado por pessoas que tentaram fazer isso", afirmou. "Elas disseram que era bobo e meio chato. Era chato porque foi feito para ser seguro."

Legado pesado

Não muito tempo atrás, a Meta era conhecida por lançar sem demora produtos ainda não testados totalmente ou com proteções, preferindo descobrir possíveis falhas enquanto eles eram usados. Um de seus lemas - "mexa-se rápido e quebre as coisas" - tornou-se um hino das startups do Vale do Silício no início dos anos 2010. E Zuckerberg incorporou o que é conhecido como "cultura hacker", adotando novas tecnologias e preferindo formar equipes pequenas focadas nelas para desenvolvê-las o mais rápido possível.

Mas depois que a mídia, o público e os legisladores passaram anos examinando minuciosamente a empresa por permitir material falso e inadequado no Facebook e em suas outras plataformas, a Meta agora não pode lançar um chatbot que produza desinformação sem críticas consideráveis.

"As pessoas tendem a manter as grandes empresas de tecnologia num padrão alto", disse Andrew Ng, pesquisador e empresário que anteriormente supervisionou os laboratórios de IA do Google e da gigante chinesa da internet Baidu. "Isso cria um campo de atuação desigual, onde as empresas menores podem avançar mais rápido."

Zuckerberg começou a se aprofundar na área em 2013, logo depois que o Google fez uma grande aposta na pesquisa de IA. Ele recrutou pessoalmente os principais acadêmicos do campo de estudo, como LeCun, durante uma onda de contratações que culminou com o CEO oferecendo milhões de dólares em salário e ações a pesquisadores de IA. Durante anos, muitos deles trabalharam perto de sua mesa na sede do Facebook em Menlo Park, na Califórnia.

Os pesquisadores posteriormente ajudaram a desenvolver tecnologias de IA que a Meta usa bastante hoje nos bastidores para ajudar a direcionar anúncios, recomendar postagens e vídeos aos usuários e identificar desinformação e outros conteúdos problemáticos.

Agora, a Meta encara o desafio de como transformar a IA em um produto. O Facebook ofereceu tecnologia avançada de reconhecimento facial no final dos anos 2010, mas deixou de disponibilizar o recurso após queixas de que ele comprometia a privacidade das pessoas. A empresa também ofereceu tecnologia de IA que poderia traduzir instantaneamente publicações na rede social de um idioma para outro, o que acabou tendo um uso limitado.

Na reunião recente com investidores, Zuckerberg disse que a IA estava por trás de muitos dos recursos mais importantes do Facebook e do Instagram, incluindo mostrar vídeos de Reels às pessoas e sugerir fotos, vídeos e postagens de usuários que talvez possam se interessar em seguir.

No mês passado, ao ser questionado durante sua participação online como a Meta poderia usar chatbots e outras tecnologias de IA generativa, LeCun disse que eles poderiam ajudar as pequenas empresas a criar anúncios no Facebook. E acrescentou que, quando as pessoas migrarem para o metaverso, vão precisar de ferramentas generativas para criar itens virtuais.

Novo ritmo

O ritmo de desenvolvimento decolou internamente nos últimos meses, disse Irina.

Zuckerberg e o diretor de produtos da Meta, Chris Cox, e o diretor de tecnologia, Andrew Bosworth, têm se reunido semanalmente com os líderes das equipes de produtos de IA. Nos últimos meses, eles também criaram equipes especializadas em transformar IA em produtos, trabalhando com outros profissionais da família de aplicativos da Meta, disse Irina.

O objetivo é conseguir ter produtos movidos a IA o quanto antes e entregá-los logo para os usuários. No fim, Zuckerberg espera incorporar parte dessa tecnologia subjacente na construção de sua visão do metaverso.

Como ele irá fazer a ponte entre as duas tecnologias importantes ainda não está claro. Mas ele tornou a IA generativa uma das prioridades da empresa.

"Um dos meus objetivos para a Meta é aprofundar nossa pesquisa para torná-la líder na IA generativa", disse Zuckerberg na reunião com investidores. /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Estadão
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