Facebook lança ferramenta global para monitorar avanço do coronavírus
Mapas cruzam informações públicas com dados da rede social para indicar a movimentação de populações
O Facebook anuncia nesta segunda, 6, o lançamento de novas ferramentas de monitoramento geográfico para que autoridades possam acompanhar e implementar políticas de distanciamento social em todo o mundo. Os mapas de prevenção de doenças usam dados agregados públicos, como as geradas por recenseamentos, com informações geradas pelos usuários da rede social. Dados de Instagram e de WhatsApp, plataformas que pertencem ao Facebook, não fazem parte do projeto.
São três novos recursos que pertencem ao projeto Data for Good, que já disponibilizava mapas sobre o movimento populacional para pesquisadores e organizações sem fins lucrativos monitorarem o avanço de diferentes doenças.
O primeiro é chamado de "Mapas de Colocalização", que revelam a probabilidade de que pessoas em uma área entrem em contato com pessoas em outra. Isso pode indicar onde novas ondas de covid-19 podem surgir. O segundo é o "Tendências de Raio de Movimento", que mostram se as pessoas ficando perto de casa ou se estão visitando diversas partes da cidade. A ferramenta pode ser usada para indicar se as politicas de isolamento estão funcionando. O terceiro mapa é o "Índice de Conexão Social", que mostra amizades entre de estados e países, o que pode antecipar a propagação da doença.
Empresa com histórico dúbio sobre proteção de privacidade, o Facebook afirma que os dados são totalmente anônimos, e não permitem a reidentificação dos usuários - há consenso entre especialistas em privacidade de que "dados agregados", aqueles que não apontam informações específicas sobre uma única pessoa, podem ser revertidos para identificação única.
"Colocamos em prática vários procedimentos para evitar a reidentificação", explica ao Estado Rebeca Garcia, gerente de políticas públicas do Facebook. "Fazemos agregação de dados de maneira que não seja muito granular. Trabalhamos com o número total de pessoas em uma determinada região, em vez de trabalhar no nível individual", diz. Ela fala também em uma técnica chamada "suavização". Em áreas menos povoadas e com maior potencial de identificação, por exemplo, a companhia faz estimativas com áreas próximas para evitar a reidentificação.
Segundo Rebeca, o Facebook não vai distribuir diretamente a governos as partes do projeto que usam os dados da rede social - autoridades teriam acesso apenas aos dados, mapas e imagens de satélite ja disponíveis publicamente. A companhia busca parceiros no mundo acadêmico, ou em outras instituições de pesquisa, que passarão por um processo de seleção "rigoroso" - vale lembrar que o escândalo Cambridge Analytica, o maior da história do Facebook, surgiu num projeto acadêmico que acabou transferindo dados para a consultoria de marketing político. "Aprendemos muito com essa situação", disse Rebeca.
No Brasil, ainda não há parceiros trabalhando os dados do projeto. Na América Latina, a empresa tem parceiros como o Instituto Tecnológico de Monterrey, México, e a Universidade de Rosário na Colômbia.
Questionada pelo Estado, Rebeca afirmou que o Facebook terá um relatório de transparência do projeto, embora não precisou quando e de que maneira isso será disponibilizado. Ela afirmou também que os dados relacionados ao projeto não serão armazenados indefinidamente, mas lembrou que, assim como a pandemia, o projeto não tem data de encerramento. O local onde os dados serão armazenados também não foi informado.
Ainda de acordo com a empresa, os dados de Facebook só são coletados com autorização dos usuários, que têm a opção de compartilhar com a empresa informações de geolocalização.
O Facebook não é a única a disponibilizar ferramentas de geolocalização no combate ao avanço do coronavírus. O Google anunciou iniciativa global na semana passada. No Brasil, a startup InLoco vem realizando trabalho semelhante. Há ainda iniciativas das operadoras de telefonia celular. Tudo isso, porém, vem gerando debates sobre o legado para privacidade digital em todo o mundo.
Na semana passada, um grupo de 40 pesquisadores de saúde de universidades como Harvard, Princeton e Johns Hopkins, disse que desde meados de março seus membros compartilham impressões obtidas com os dados do Facebook na Califórnia, Massachusetts e em Nova York, e que isso tem sido importante para combater a doença nos EUA.
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