Facebook Papers revela que rede liberou discurso de ódio
A revelações que surgiram com os chamados Facebook Papers trazem à tona uma situação preocupante. Entenda.
O Facebook negligenciou a proteção de conteúdo global e alimentou discursos de ódio e violência pelo mundo além das fronteiras dos Estados Unidos. No país de origem, a plataforma manteve proteção íntegra, no entanto.
Essa é a revelação do que vêm sendo chamado Facebook Papers, documentos que foram entregues à Comissão de Valores Mobiliários pela ex-executiva do Facebook e denunciante Frances Haugen. Os papers são compostos por pesquisas, apresentações de slides e postagens no quadro de mensagens da empresa e foram distribuídos para um consórcio de 17 empresas de comunicação.
Entre as empresas está o diário Washington papers, que revela que em fevereiro de 2019, pouco antes das eleições gerais na Índia, dois funcionários do Facebook configuraram uma conta fictícia para entender melhor a experiência de um novo usuário no maior mercado da empresa.
Eles desenvolveram o perfil de uma mulher de 21 anos, residente no norte da Índia, e começaram a rastrear o que o Facebook mostrava a ela.
No começo, seu feed se encheu de pornografia leve. Em seguida, a violência explodiu na região da Caxemira, local de disputa territorial de longa data entre a Índia e o Paquistão. O primeiro-ministro indiano Narendra Modi, de perfil conservador e em campanha pela reeleição, desencadeou ataques aéreos de retaliação, os quais a Índia alegou terem atingido um campo de treinamento terrorista.
Na sequência, a conta criada foi inundada com propaganda pró-Modi e discurso de ódio anti-muçulmano. “300 cães morreram agora, diga viva a Índia, morte ao Paquistão”, apontava um post, sobre um fundo de rostos de emojis risonhos. “Esses são cães paquistaneses”, dizia a legenda traduzida de uma foto de cadáveres alinhados em macas.
Memorando interno do Facebook, a que o The Washington Post teve acesso, chamou o teste da conta fictícia de "pesadelo de integridade".
Isso mostrou que mesmo com todos os problemas do Facebook nos Estados Unidos, seus problemas com discurso de ódio e desinformação são dramaticamente piores no mundo em desenvolvimento. Documentos internos da empresa tornados públicos revelam que o Facebook estudou meticulosamente sua abordagem no exterior - e estava bem ciente de que a moderação mais fraca em países que não falam inglês deixa a plataforma vulnerável a abusos por parte de malfeitores e regimes autoritários.
As divulgações indicam que, à medida que o Facebook avançava para o mundo em desenvolvimento, não investia em proteções comparáveis.