Fentanil: Fiocruz propõe medidas para impedir crise da droga no Brasil
Cientista da Fiocruz aponta estratégias que o Brasil deve adotar para impedir a circulação e o uso do fentanil ilícito. A droga foi já foi apreendida no país
Após a primeira apreensão de fentanil ilícito no Brasil, em março deste ano, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) destaca estratégias que podem impedir o uso "popular" de mais uma droga no país. A vantagem brasileira é que, no momento, a circulação da substância usada legalmente em hospitais é bastante restrita. Neste contexto, o governo tem tempo hábil para impedir que uma nova ameaça à saúde pública se instale. Outro desafio paralelo é a contenção da droga K9, conhecida popularmente como maconha sintética.
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Publicado na revista científica The Lancet Regional Health - Americas, o artigo que aponta os caminhos para conter a circulação do fentanil no Brasil foi desenvolvido por Francisco Bastos, da Fiocruz, e Noa Krawczyk, do Centro de Epidemiologia e Política de Opioides da NYU Grossman School of Medicine, nos Estados Unidos. Aqui, cabe lembrar que são os países da América do Norte, como EUA e Canadá, que enfrentam a maior e mais letal epidemia de opioides no mundo.
Apesar da importância do alerta, a dupla de pesquisadores afirma que não há motivo para pânico no Brasil. Por outro lado, pontuam que "não há tempo para ficar parado, olhando [para o problema do fentanil, sem agir]". Neste tempo de ação, é fundamental olhar para as lições aprendidas em outros países.
Diferenças entre o uso do fentanil nos EUA e no Brasil
Segundo os autores do estudo, a crise dos opioides nos EUA tem duas fontes principais. A primeira delas é que existe uma cultura excessiva envolvendo a prescrição de remédios analgésicos e sedativos, como o fentanil, e o desvio da medicação destinada para fins médicos.
O segundo fator de risco nos EUA é a ampla disseminação da heroína — outra droga que pode conter o fentanil ilegal em sua composição — e os mercados ilegais de fentanil já estabelecidos e alimentados pela dependência química desta classe de medicamentos.
No caso brasileiro, o mercado ilícito de fentanil era considerado ausente até a primeira apreensão. Além disso, "o Brasil tem sido historicamente uma rota e um mercado importante para a cocaína ao longo dos anos, mas não para os opioides ilícitos. Assim, enquanto o mercado americano para diferentes opioides está estabelecido há décadas, o mercado brasileiro de opioides ilícitos ainda não foi implementado pelos cartéis de drogas", afirmam os autores.
Como o governo pode impedir a disseminação do fentanil no Brasil?
Diante desse cenário e das lições já aprendidas nos EUA, os cientistas elencam quatro grupos de iniciativas que podem barrar a chegada massiva e a dependência do fentanil entre os brasileiros. A seguir, confira quais são:
- Investir em vigilância e rastrear os padrões de uso de substâncias ilícitas no país. Para se ter uma ideia, a última pesquisa nacional sobre o fentanil é de 2015;
- Integrar as apreensões da droga com profundas análises toxicológicas. A ideia é identificar se a substância está sendo misturada com outras, como pode ocorrer potencialmente com a cocaína;
- Melhorar os padrões de vigilância e de controle para o uso fentanil em ambientes médicos e hospitalares. É fundamental impedir a prescrição fora do contexto;
- Treinar as equipes médicas do Sistema Único de Saúde (SUS) e distribuir o antídoto para casos de overdose por fentanil, a naloxona.
Aqui, cabe destacar que diferente dos EUA, o uso do naloxona é restrito no Brasil. Como a crise dos opiodes já está bem estabelecida por lá, o medicamento pode ser vendido sem receita médica, chegando até a ser distribuído em alguns locais. Afinal, o uso, no momento, adequado pode salvar a vida de um dependente químico com overdose.
Fonte: The Lancet Regional Health - Americas
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