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Filmmaker Mode: o que é a nova configuração de TVs defendida por cineastas?

Proposta por nomes como Scorsese e James Cameron, 'modo cineasta' retira filtros inseridos pelas fabricantes e mostra filmes como eles foram criados

27 fev 2020 - 05h10
(atualizado às 11h25)
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A cor ou a velocidade dos movimentos de um filme pode alterar a sua percepção do que acontece na tela? Para um grupo de cineastas de Hollywood - que inclui nomes como Martin Scorsese e James Cameron - a resposta é sim. E por conta disso eles se uniram na chamada UHD Alliance, que passou a pleitear com fabricantes de TVs a criação de um modo específico de configurações para os aparelhos. Chamado de Filmmaker Mode (ou "modo cineasta", em tradução literal), ele começou a chegar no mercado no início do ano. Mas o que ele significa?

Praticamente toda TV hoje tem configurações de otimização que pode alterar a visão inicial de um cineasta sobre sua obra. Mudanças de resolução, velocidade de quadros por segundo e até mesmo filtros de cores podem alterar a percepção do espectador sobre aquela obra. Com o Filmmaker Mode, a ideia é que os filmes e séries sejam exibidos exatamente como foram feitos.

"Nós fazemos umas mil decisões por dia sobre o som, sobre a cor, as luzes e as sombras, a performance, a emoção. Isso é o que fazemos e é o que faz o filme ser o que ele é. Estarmos alinhados com as pessoas que fazem os aparelhos que levam os filmes em diferentes formas e diferentes tamanhos para honrar o que os cineastas pretendiam", explicou James Cameron, vencedor do Oscar de melhor diretor por Titanic, em vídeo carta de intenções publicado pela UHD Alliance.

Não é exatamente uma tecnologia, explica Thiago Afonso de André, professor do departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Pelo contrário: segundo explica o especialista, o Modo Cineasta não passa de um padrão que desliga todas as outras configurações que fazem com que as TVs percam as características originais dos filmes.

"Na verdade, o maior elemento e o mais importante que o Filmmaker Mode faz é desligar dos aparelhos a função de interpolação de imagens", explica o especialista. A interpolação de imagens é a exibição dos filmes em número de quadros diferentes do projeto original. Para o cinema, as obras são filmadas e produzidas na taxa de 24 quadros por segundo. Porém, nas configurações atuais das televisões, a exibição é alterada nesse aspecto do número de quadros. Aqui no Brasil, é comum ver algumas imagens rodando a 30 ou 60 quadros por segundo.

"Quando você vai mostrar um material que foi captado a 24 quadros por segundo e você precisa mostrar a 60 quadros por segundo, você tem que pegar alguns daqueles quadros e repetir, porque são só 24 quadros filmados para mostrar durante 1 segundo", explica o professor da USP. "Se você tem que mostrar 60 vezes vai ter que repetir alguma coisa."

Para isso, algumas televisões possuem uma configuração de apoio que cria quadros intermediários para fazer a transição, deixando as imagens mais lentas, como um rastro.

André reitera que a configuração não é um problema, mas interfere justamente no que os diretores de cinema querem passar na obra. "Se você está vendo um jogo de futebol, e quer acompanhar por onde está andando a bola, mesmo que ela esteja muito rápida, se você cria um objeto ali no meio, um quadro falso, isso vai te ajudar a ver a trajetória da bola".

A ideia, ainda, é que a própria programação se ajuste para reconhecer os padrões da TV que podem ser desligados no botão de Filmmaker Mode. Assim, se você estiver prestes a assistir um filme, um aviso pode ser mostrado na tela, com a mensagem de que aquele conteúdo pode ser beneficiado pela função. A escolha de ativar ou não é sempre do telespectador, já que é uma alteração na configuração de áudio e vídeo.

A mudança, que deve incluir o Filmmaker Mode nas televisões, deve acontecer de maneira gradativa, com as fabricantes de televisão incorporando o Filmmaker Mode aos poucos, diz André. As primeiras iniciativas foram anunciadas na CES deste ano, quando LG, Vizio, Panasonic, Philips e Samsung disponibilizaram a configuração em seus aparelhos pela primeira vez.

"Agora vão começar a sair os primeiros aparelhos que contém esse modo. Mas as pessoas demoram pra trocar a TV. Acho que é uma coisa que para a gente encontrar em todos os aparelhos do mercado deve demorar ainda", crê o especialista.

*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas

Estadão
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