Foguete chinês cairá na Terra; relembre lixos espaciais que deram treta
Detritos do espaço podem afetar a atmosfera terrestre; relembre situações em que isso ocorreu
O núcleo central do foguete chinês Long March 5B voltará à atmosfera terrestre mais de um ano após pôr em órbita o segundo módulo da estação espacial Tiangong. Em outras palavras, o objeto, que possui 21 toneladas, vai cair na Terra, mas ninguém sabe onde até agora. Mas, como cerca de 70% do planeta é composto por água, as chances de que um detrito vindo do espaço caia em pessoas é bem pequena.
De acordo com a Nasa, há mais de 27 mil pedaços de detritos orbitais — ou lixo espacial, como são apelidados — rastreados pelos sensores globais da Rede de Vigilância Espacial. No entanto, a agência alerta que existem muitos outros detritos próximos à Terra que são pequenos demais para serem rastreados.
Isso não significa, porém, que eles não são capazes de provocar estragos. Tanto os detritos quanto a espaçonave estão viajando em velocidades extremamente altas. Portanto, o impacto de um pequeno pedaço de lixo espacial contra uma espaçonave pode gerar problemas.
Fragmentações acidentais: o lixo espacial em gestação
Segundo dados da Agência Espacial Europeia (ESA), nas últimas duas décadas, em média 12 fragmentações acidentais ocorreram no espaço todos os anos. Esse fenômeno refere-se ao momento em que um novo detrito surge por causa de colisões, explosões, problemas elétricos e desprendimento de objetos, por exemplo.
Mas esse número tende a aumentar. Em um artigo da Nature Communications divulgado em 11 de julho, pesquisadores do Canadá disseram que há 10% de chance de haver uma ou mais vítimas de queda de peças de foguetes na próxima década. O motivo? O aumento recente de lançamentos espaciais. Foram 133 tentativas bem sucedidas em 2021, e esse recorde pode ser batido neste ano.
Embora as chances de que um detrito espacial atinja uma pessoa ainda sejam raras em relação á densidade da população mundial, algumas situações envolvendo esses objetos já ocorreram em nosso planeta. Relembre, abaixo, os principais casos de lixo espacial que já caíram na Terra.
Long March 5B: o histórico
O foguete Long March 5B, da China, já tem causado alguns problemas na volta à Terra. O mais preocupante deles aconteceu em 2020, quando seu estágio principal caiu no Oceano Atlântico, na costa oeste da África. Na ocasião, uma espécie de cano de 12 metros de comprimento despencou sobre um vilarejo, mas não houve registros de feridos, apenas de danos materiais.
Via @zolgafolDaniel in Cote d'Ivoire, some interesting photos of the Mahounou object(s): pic.twitter.com/3QYd5Ua9TK
— Jonathan McDowell (@planet4589) May 12, 2020
No ano seguinte, algumas partes do mesmo foguete caíram no Oceano Índico, a oeste do arquipélago das Maldivas. Na época, o Long March foi usado para pôr em órbita, em 29 de abril de 2021, o primeiro módulo de sua futura estação espacial chinesa, ainda em construção.
Os destroços do primeiro módulo do foguete retornaram para a Terra no final da noite do dia 8 de maio, pelo horário de Brasília. Ele tinha 18 toneladas e foi o lixo espacial mais pesado a cair em nosso planeta desde o ano de 1991, quando a abandonada estação espacial soviética Salyut 7 reentrou na atmosfera sem causar acidentes.
Falcon 9 da SpaceX
No dia 16 de março deste ano, um morador de São Mateus do Sul, no Paraná, encontrou um objeto de metal retorcido em sua propriedade na zona rural da cidade. Na ocasião, especialistas disseram que aquilo era um pedaço do foguete Falcon 9 da SpaceX, que havia voltado à Terra no dia 8 de março.
O objeto tinha cerca de quatro metros de comprimento, portanto sua descrição era compatível com a tubeira do motor Merlin 1D do foguete da empresa de Elon Musk. Na época, a Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon) afirmou que o lugar onde o objeto foi encontrado ficava praticamente abaixo da trajetória do foguete, o que também ajudou a confirmar sua identificação.
Kosmos-3M
Outro lixo espacial que atingiu a Terra, em julho de 2021, foi o foguete Kosmos-3M. O curioso aqui foi a distância entre sua ida ao espaço e a volta. Ele foi lançado pela União Soviética em 26 de dezembro de 1973, quando tinha mais de 20 toneladas. Depois de ter ficado quatro décadas em órbita no espaço e de perder todo o seu combustível, ficou com 1,4 tonelada de massa.
Na época, a reentrada do objeto não oferecia riscos, já que o calor queimou cerca de 80% do projétil e o resto foi fragmentado pela resistência do ar. Os destroços caíram no Oceano Pacífico.
Progress 59
Em 8 de maio de 2015, outra nave russa caiu no Pacífico. A Progress 59 havia sido lançada em 27 de abril daquele ano, no topo de um foguete Soyuz, no Cazaquistão. Depois que a nave se separou do foguete, saiu de controle e retornou à Terra no dia 7 de maio.
A nave não tripulada tinha como objetivo entregar mais de 3 toneladas de suprimentos para a Estação Espacial Internacional. Durante a volta para o nosso planeta, a nave perdeu boa parte de sua massa, mas, ainda assim, estava com cerca de uma tonelada ao reentrar na atmosfera terrestre.
Skylab
Enviada ao espaço em maio de 1973, a Skylab foi a primeira estação orbital da Nasa. Ela realizou três missões entre os anos de 1973 e 1974. Após esse período, foi abandonada e voltou para a Terra no dia 11 de julho de 1979.
Partes dos seus detritos caíram no Oceano Índico e a outra parte caiu no oeste da Austrália, em um local pouco habitado. Na época, um jovem australiano percebeu que pequenos pedaços da estação haviam caído no telhado da sua casa, mas o lixo espacial não representou riscos para as pessoas.