Gases proibidos em acordo internacional atingem níveis recordes em 2020
Emissões podem ter aumentado devido a brechas não delimitadas no marco no Protocolo de Montreal
Cinco gases destruidores da camada de ozônio atingiram níveis recordes em todo o mundo em 2020. De acordo com estudo publicado pela revista científica "Nature Geoscience", nesta segunda-feira (3), a quantidade destes gases aumentou significativamente entre 2010 e 2020.
Segundo a publicação, os cinco clorofluorocarbonos (CFCs) na atmosfera podem ter aumentado o nível de emissão devido às brechas que não estão delimitadas no marco legal, conhecido como Protocolo de Montreal.
O Protocolo de Montreal exigiu cortes de 50% em relação aos níveis de 1986 tanto na produção quanto no consumo de cinco principais CFCs até 1999, com reduções interinas. O acordo foi assinado há mais de 30 anos e engloba a contribuição de 46 países, inclusive o Brasil. De lá para cá, o documento passou por diversas atualizações.
“A produção de clorofluorcarbonetos (CFCs) que acabariam sendo liberados na atmosfera foi proibida globalmente em 2010 sob o Protocolo de Montreal. Aqui usamos medições combinadas com um modelo de transporte atmosférico para mostrar como as abundâncias e emissões atmosféricas de cinco CFCs aumentaram entre 2010 e 2020, contrariando as metas da eliminação gradual”, diz o estudo.
Cientistas identificaram aumentos percentuais na concentração atmosférica de cinco compostos. Veja:
- 4% no caso do CFC-115m, passando de 8.38 ppt em 2010 para 8.71 ppt em 2020;
- 9% no caso do CFC-114a, passando de 1.03 ppt em 2010 para 1.13 ppt em 2020;
- 9% no caso do CFC-13, passando de 3.04 ppt em 2010 para 3.31 ppt em 2020;
- 19% no caso do CFC-112a, passando de 0.066 ppt em 2010 para 0.078 ppt em 2020;
- 141% no caso do CFC-113a, passando de 0.43 ppt em 2010 para 1.02 ppt em 2020.
Para entender a dimensão destes dados, vale ressaltar que “ppt” é a sigla de “parte por milhão", uma medida de concentração usada para estimar a quantidade de gases poluentes no ar. Logo, os números apontam que há uma parte dessa substância em cada trilhão de partes partes de ar.
O Protocolo de Montreal permite a produção de CFC para uso como matéria-prima para produzir outros produtos químicos.
Mas, de acordo com o estudo, as emissões destes gases provavelmente surgem durante a produção de hidrofluorcarbonos, que substituíram os CFCs em muitas aplicações.
“Os motivadores por trás do aumento das emissões de CFC-13 e CFC-112a são mais incertos”, cita o estudo.
Apesar de afirmar que o aumento dessas emissões é pequeno, os cientistas alertam que um aumento contínuo dessas concentrações pode comprometer o progresso trazido pelo Protocolo de Montreal, fundamental para evitar a aceleração do aquecimento do planeta até o fim do século.
“O impacto previsto dessas emissões na recuperação do ozônio estratosférico é pequeno. No entanto, as emissões contínuas dos cinco CFCs em foco podem anular alguns dos benefícios obtidos com o Protocolo de Montreal se continuarem a aumentar. Além disso, o impacto climático das emissões desses CFCs precisa ser considerado”.