Genes podem influenciar o quanto você bebe e se vai fumar
Assim como situações sociais e de saúde pública, genética influencia nesses hábitos; porém mais estudos serão necessários
Um estudo da Penn State College of Medicine, nos Estados Unidos, evidenciou quase 4.000 variantes genéticas que estão associadas à quantidade de álcool que uma pessoa ingere por semana, à idade na qual algumas pessoas começam a fumar e se chegam ou não a abandonar o hábito.
A pesquisa foi realizada com cerca de 3,4 milhões de pessoas, de ascendência africana, norte-americana, sul-americana, do leste asiático e europeia.
De acordo com o professor responsável pelo estudo, Dajiang Liu, o ato de fumar ou beber álcool pode ser influenciado por uma série de fatores, como situações sociais ou políticas de saúde pública. Porém, a genética também exerce um papel importante nesses comportamentos.
Comparando os genomas dos participantes com os hábitos de tabagismo e consumo de álcool relatados por eles mesmos, foi notado que 2.468 variantes genéticas estão ligadas ao tabagismo regular, isto é, à prática de fumar diariamente.
Outras 243 variantes foram associadas à quantidade de cigarros que uma pessoa fuma por dia, 206 ligadas a pessoas que deixam o hábito, e 39 à idade em que começam a fumar, que varia de acordo com o indivíduo.
Em relação ao consumo do álcool, 849 variantes genéticas foram ligadas à quantidade ingerida semanalmente.
Genes associados e dificuldades encontradas
De todas essas variantes genéticas, algumas estão envolvidas na sinalização cerebral. O consumo de álcool está associado ao gene ECE2, por exemplo, que é envolvido no processamento da molécula neurotensina. Ela regula a sinalização do hormônio da dopamina, que envolve um “sistema de recompensa” capaz de causar dependência.
Já o número de cigarros fumados por dia está ligado a variações em um gene chamado NRTN, que influencia na sobrevivência de neurônios que secretam dopamina.
A partir desses resultados, o trabalho tentou prever hábitos de fumo e consumo de álcool em 6.092 pessoas de ascendência europeia que vivem nos Estados Unidos. Nesse caso, funcionou: “Essas pontuações de risco previram o comportamento de fumar e beber muito bem”, afirmou Liu.
Porém, quando aplicados a 4.000 pessoas e ascendência africana, do leste asiático ou da América do Norte ou do Sul, a classificação de genes teve resultado menos preciso. “Talvez precisemos desenvolver escores de risco separados para pessoas com diferentes ascendências étnicas”, complementou Liu.
A ideia é que esses índices possam ser usados eventualmente para avaliar se alguém está predisposto a fumar ou beber em quantidades insalubres, segundo o pesquisador.