GNV: quais os riscos de se usar gás natural no carro?
Acidente no Rio de Janeiro em abastecimento de GNV acende alerta para necessidade de manutenções recorrentes
A explosão de um carro movido a gás natural (GNV) em um posto na zona norte do Rio de Janeiro na terça-feira (26) lavantou novas dúvidas sobre a segurança desse tipo de gás em automóveis. Ele tornou-se popular por ser mais barato que gasolina e etanol, mas requer cuidados extras na instalação do equipamento adequado, para não provocar acidentes.
Essa alternativa existe no Brasil há anos, mas a greve dos caminhoneiros em 2018, que gerou falta de gasolina e do etanol nos postos, fez os motoristas buscarem outras soluções de combustíveis. Além da disponibilidade, esse tipo de combustível pode ser 50% mais barato do que outras aplicações, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).
A princípio, qualquer carro pode ser convertido para abastecer com o GNV. O processo, no entanto, deve ser feito por uma entidade reconhecida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), assim como todas as manutenções exigidas para quem usa o gás natural.
A depender do tamanho do carro, o cilindro para comportar o gás vai ter maior ou menor capacidade. Normalmente, eles ficam alocados no porta-malas do veículo, mas podem ficar embaixo do porta-malas ou na parte de fora do carro, posição que aumenta as chances de explosões.
O gás natural é perigoso?
Segundo Gustavo Galiazzi, gerente técnico da Abegás, o gás natural veicular por si só é um combustível muito seguro. “Além de ser menos inflamável que a gasolina ou o etanol, o GNV é mais leve que o ar e se dissipa rapidamente em caso de vazamento”, defende.
Vantagem ambiental do GNV
Quando comparado a outros combustíveis como a gasolina e o diesel, o gás natural tem uma emissão 20% menor de gás carbônico. Levando em consideração que se trata de uma opção barata de combustível, acaba sendo uma alternativa viável de redução de danos ambientais.
O GNV tem sido incentivado em grandes metrópoles de diversos países para veículos de passeio, transporte urbano, carga e coleta de lixo. Em Madri, metade da frota de ônibus municipais já usa gás natural, e o caminho é o mesmo nos EUA, onde já existem 200 mil caminhões adaptados ao combustível.
No Brasil, atualmente, a frota movida a gás natural é de pouco mais de 2,5 milhões de veículos, a maioria leves, como táxis, frotas cativas, carros autônomos e particulares.
Mas essa realidade está prestes a mudar. De acordo com o engenheiro mecânico Gilmar Vigiodri Godoy, da CREA-SP, a Comgás já está com um projeto para usar GNV em caminhões e ônibus também. O custo-benefício novamente é o motivo. O gás roda 250 quilômetros a R$ 25, enquanto um litro de óleo diesel roda dois.
Que cuidados devo tomar?
Todo ano, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o carro precisa passar por uma vistoria do sistema de gás natural, igual à realizada imediatamente após a conversão para o GNV. Os cilindros também precisam passar por testes que avaliam suas condições a cada cinco anos.
De acordo com Bruno Leone, gerente da GNV Anchieta, instaladora de gás natural certificada pelo Inmetro, a manutenção do cilindro é a precaução mais importante. Ela realiza um “reteste” ou “requalificação”, que comprova eventuais corrosões no cilindro, se ele tem o mesmo peso que tinha inicialmente e analisa a hidrostática, ou seja, se os gases e líquidos internos estão em equilíbrio. “Seguindo todas as normas regulamentadoras do instituto, o risco é mínimo”, comenta Leone.
Também é indicado que os motoristas rodem, ao menos uma vez por semana, com o combustível original do carro. Por ser seco, o GNV não deve ser usado ininterruptamente, pois pode causar danos ao automóvel.
Outra recomendação é que o motorista e os passageiros saiam do veículo e se posicionem em frente a ele durante os abastecimentos. Assim, no caso de explosões, os danos serão apenas materiais. O mesmo é orientado aos carros que estiverem aguardando sua vez no posto.
A ANP ressaltou que fiscaliza constantemente as instalações dos postos de combustível. A chance de acidentes, para a agência, deve-se à instalação ou manutenção inadequadas ou realizadas em oficinas não credenciadas.