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Grandes marcas anunciavam em vídeos com fake news sobre Amazônia, diz ONG

O dado vem de um relatório da ONG Ekō. Pão de Açúcar, Unilever e até a Unicef monetizavam vídeos; empresas tomaram medidas após contato

28 jul 2023 - 11h56
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Área de desmatamento e queimada no município de Apuí, Amazonas (Imagem: Bruno Kelly/Amazônia Real/Wikimedia Commons)
Área de desmatamento e queimada no município de Apuí, Amazonas (Imagem: Bruno Kelly/Amazônia Real/Wikimedia Commons)
Foto: Canaltech

Grandes empresas como a britânica Unilever, a brasileira Pão de Açúcar e as japonesas Mitsubishi e Panasonic exibem seus anúncios em vídeos do YouTube que contêm informações falsas sobre o desmatamento e incêndios na Amazônia. O dado vem de um relatório da Ekō — ONG que denuncia excessos de grandes corporações — ao qual a Folha de S. Paulo teve acesso.

De acordo com a reportagem, publicada nesta sexta-feira (28), até mesmo vídeos da Unicef, fundo da ONU em defesa das crianças, são associados ao conteúdo falso.

Outras empresas cujos anúncios constam nesses vídeos desinformativos são a startup brasileira Quinto Andar, a varejista de vinhos Evino e a locadora de carros Localiza.

Como exemplo, um vídeo intitulado "Bolsonaro Reage A Queimadas na Amazônia", veiculado no canal VLOG Silvano Silva, com 275 mil inscritos, tem anúncios da Panasonic e da Localiza.

O youtuber Silvano Silva diz no vídeo que as ONGs de preservação ambiental da Amazônia são comandadas por "índios" que querem enriquecer e manter as outras tribos na pobreza; que as invasões a terras indígenas e assassinatos são falsos; que os incêndios de 2019 na região estavam no mesmo nível de 15 anos atrás; e que a agência espacial Nasa teria dito que não havia nada atípico sobre isso. Essas informações são todas falsas.

A reportagem cita que vídeos do jornalista Alexandre Garcia e do apresentador Sikera Junior também receberam anúncios do Pão de Açúcar, Unilever (do produto shampoo ClearMen) e Mitsubishi.

Isso ocorre devido ao modelo de publicidade do YouTube, que mostra de forma automatizada as propagandas de marcas que desejem se associar a conteúdo sobre determinados temas, como por exemplo o ambiente. Os algoritmos do site de vídeos, no entanto, falham em avaliar ou moderar o discurso dos vídeos. Assim, nem mesmo as empresas podem estar sabendo da situação.

Os anunciantes têm a opção de bloquear anúncios em determinados canais que considerem nocivos. O YouTube envia a eles uma lista detalhada de quais canais veiculam seus anúncios. No entanto, a relação deve ser revisada manualmente e com frequência para verificar se algum canal fora das políticas e valores da empresa estaria veiculando a publicidade dessas marcas.

O levantamento da Ekõ foi realizado entre maio e junho de 2023 e encontrou 50 vídeos —31 deles monetizados — com desinformação, dados fora de contexto ou teorias da conspiração ligadas à Amazônia e às mudanças climáticas. Os vídeos nesse perfil tiveram 4 milhões de visualizações e veicularam anúncios de 120 empresas e entidades diferentes.

Outro lado

À Folha, a assessoria da Panasonic afirmou que o vídeo de Silvano Silva contrasta com o discurso corporativo de defesa do meio ambiente da empresa. Também disse que não era sabido que seus anúncios estavam sendo veiculados nesse canal e que está revisando todas as mídias programáticas.

A Localiza disse que direciona seus investimentos publicitários "em espaços não associados a discursos políticos". "Porém, a configuração dos algoritmos na mídia programática traz complexidade a esse ambiente digital".

Procurado, o grupo Pão de Açúcar disse que "já solicitou a paralisação da veiculação da campanha nos veículos digitais e a imediata revisão dos critérios que definem a compra e distribuição de mídia da marca para que estejam em linha com as diretrizes e compromissos assumidos pela companhia".

A Unicef ressaltou que "não concorda com a veiculação de seus anúncios ou outros conteúdos em nenhum veículo que dissemina desinformação, fake news e discursos de ódio." Também listou suas diretrizes para evitar que seus anúncios sejam veiculados em conteúdos sensíveis ou em desacordo com seus valores. "Infelizmente, mesmo com todas essas medidas, nosso sistema não havia identificado que o anúncio havia sido incluído no conteúdo citado. Assim que recebemos o alerta, o conteúdo e o canal Sikera Junior foram negativados."

A Mitsubishi afirmou que "não compactua com esse tipo de conteúdo" e disse não ter conhecimento de que seus anúncios estavam sendo veiculados em canais como esse. A Unilever afirmou que "repudia a propagação de fake news e reafirma seu compromisso com a informação verdadeira" e que o anúncio citado já foi retirado dos canais denunciados.

O Quinto Andar comentou que é preciso uma revisão manual e minuciosa da lista de todos os canais em que estão sendo veiculados os anúncios, mas muitas vezes só descobrem situações como estas após alertas de usuários. Procurada, a Evino não respondeu até o fechamento da reportagem da Folha.

Já o YouTube afirmou à Folha que os vídeos do levantamento não violam suas políticas. A plataforma proíbe a monetização de conteúdo e anúncios que contradizem o consenso científico sobre a existência e as causas das mudanças climáticas. Por outro lado, permite anúncios e monetização de outros temas sobre o clima, como debates públicos sobre políticas climáticas, impactos dessas mudanças e pesquisas recentes.

Fonte: Redação Byte
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