Guerra: game sobre Chernobyl é assustadoramente realista
Como um game de sucesso pode mostrar um lado ainda mais sombrio da guerra.
A vida imita a arte. Inclusive no mundo dos games. Lançado originalmente em 2021 após anos em processo de desenvolvimento, o game “Chernobylite” apresenta um realismo avassalador ao mostrar a região de Chernobyl por dentro, nos mínimos detalhes. Em tempos de guerra, esse detalhismo do jogo ficou ainda mais assustador.
Desenvolvido pelo estúdio polonês The Farm 51, o game se chamava inicialmente “Chernobyl VR Project”, pois foi todo construído em realidade virtual. É uma mistura de survival de terror com sci-fi que tem andamento de RPG em cenários em 3D das ruínas de Chernobyl.
Desenvolvido pela mesma equipe que fez o aclamado “Get Even” e o primeiro “The Witcher”, “Chenobylite” mistura mecânicas de exploração com combates e crafting, em um enredo não-linear. O game está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One.
E o que foi a famosa Tragédia de Chernobyl? No dia 26 de abril de 1986, aconteceu um superaquecimento de um dos reatores da usina nuclear de Chernobyl, localizada na cidade de Pripyat, então da União Soviética. O reator virou uma verdadeira bomba de hidrogênio, que explodiu e espalhou fogo e substâncias radioativas na atmosfera, chegando a espalhar-se por toda a região oeste da antiga URSS e da Europa Oriental.
Game usa imagens reais digitalizadas
Ao contrário da maioria dos vídeos de realidade virtual, que transforma uma imagem panorâmica com tecnologia tridimensional, “Chenobylite” mapeou imagens reais para dentro de shapes de 3D. O resultado é que temos cenas de absoluto fotorrealismo, que permitem que você “entre” nos cenários e veja “de perto” a cidade-fantasma na qual se transformou Pripyat. A tecnologia aqui já está em uso em diversos projetos de games AAA e consiste em reproduzir tridimensionalmente imagens previamente escaneadas.
A equipe visitou a região e criou um banco de dados imenso com imagens por toda a cidade, capturadas com um sistema de câmeras Lytro Immerge VR, que usa a luz natural de cada ambiente para que o resultado fique ainda mais realista. Drones também foram usados para captura de imagens aéreas da localidade.
Há ainda a intervenção de determinados ambientes que são totalmente virtuais, construídos em 3D para reproduzir com exatidão os cenários originais, geralmente dentro das edificações abandonadas. A mistura dessas diversas tecnologias permitiu uma verdadeira “reconstrução” de Chernobyl e de Pripyat, bem ao estilo como se faz nos videogames convencionais.
A equipe do Farm 51 fez um trabalho de pesquisa de campo profundo na região, conseguindo acesso a lugares e escombros que ninguém tem permissão para ir ― vale lembrar que visitas turísticas ao lugar são controladas e extremamente restritas. Um desses lugares totalmente restritos é o parque de diversões de Pripyat, com carrinhos e roda-gigante abandonados durante a evacuação da região.
“Nós defendemos que a tecnologia VR [realidade virtual] não deve ficar restrita ao entretenimento, pois ela é também uma ferramenta excelente para educação e para propósitos sociais. A tragédia de Chernobyl não poderia ficar restrita a um game de ação, queríamos usar todas as mecânicas do desenvolvimento de um game para levar às pessoas um pouco do que foi uma das maiores tragédias ambientais de todos os tempos”, defendeu o pessoal do Farm 51, em comunicado divulgado enquanto o game estava em desenvolvimento.
“O que temos aqui é uma combinação de videogame com um software de narrativa com propósitos educacionais. É a primeira tour virtual hiperrealista pelas áreas de Chernobyl e de Pripyat ― dois dos lugares mais perigosos do mundo, que você visita sem sair de casa”, complementa o comunicado.
O resultado impressiona não apenas pela tecnologia em si, mas por de fato despertar um sentimento incômodo na gente, afinal, mesmo o mais apocalíptico dos games se curva à realidade que foi um dos capítulos mais tristes da história da humanidade. E que pode ser tornar um pesadelo ainda maior na invasão russa à Ucrânia.