Há 174 anos, homem sobreviveu a barra de ferro que atravessou seu crânio
Cérebro de Phineas Gage foi atravessado por haste de ferro em explosão. Ele se recuperou, mas teve profunda mudança comportamental
Há exatos 174 anos, o operário americano Phineas Gage, aos 25 anos de idade, sobreviveu a um acidente gravíssimo: uma barra de ferro atravessou sua cabeça, mas ele não apenas sobreviveu por mais 16 anos como também passou por uma profunda mudança de personalidade. Sua história tornou-se um clássico da neurociência até hoje.
Em 13 de setembro de 1848, o trabalhador participava de um grupo de trabalhadores que construía uma estrada de ferro em Vermont, nos Estados Unidos. Uma das tarefas necessárias para a construção era dinamitar as grandes rochas que obstruíam o que viria a ser o caminho dos trilhos.
Gage fazia isso abrindo perfurações profundas nas rochas, inserindo pólvora, cobrindo com areia, empurrando esse conteúdo com uma haste de ferro e acendendo o pavio para provocar a explosão que destruiria a rocha. Antes das explosões, ele tinha tempo para correr e se proteger.
Era isso que Gage fazia na tarde de 13 de setembro quando, em um momento, esqueceu-se da areia. Ao empurrar a pólvora com a barra de ferro, o atrito gerou uma faísca, provocando uma explosão. A haste de mais de um metro foi, então, projetada contra a cabeça do operário, entrando pela bochecha esquerda e saindo pelo topo do crânio — destruindo, nesse caminho, o olho esquerdo e parte do lobo frontal do cérebro.
Apesar da gravidade do acidente, Phineas Gage não demorou a recobrar a consciência e logo voltou a falar e até caminhar, momentos após o ocorrido. Dois meses depois, já recuperado, ele voltava às tarefas cotidianas.
Mudança de personalidade após o acidente
No entanto, sua personalidade não era mais a mesma. Amigos e o médico que acompanhava o caso, John Harlow, relataram que o operário havia se tornado desrespeitoso, impaciente e grosseiro, o que afetava suas interações no trabalho e na vida pessoal.
Demitido sob a justificativa de indisciplina, Gage não conseguiria mais nenhum emprego fixo. Chegou a se tornar atração de circo, exibindo para as pessoas as cicatrizes em seu rosto, e a trabalhar como cocheiro no Chile, retornando depois aos Estados Unidos. Morreu em 1860, aos 36 anos. Harlow só soube de sua morte quatro anos depois e pediu que seu corpo fosse exumado para que pudesse preservar o crânio.
Apesar de estudos mais aprofundados sobre seu cérebro não terem sido conduzidos na época, o caso é considerado como uma das primeiras evidências de que lesões no lobo frontal do cérebro poderiam alterar aspectos de personalidade e capacidade de interação social.
Em 1994, cientistas usaram imagens computadorizadas para determinar com mais exatidão os prováveis locais de lesão. Na publicação da revista "Science", eles afirmaram que a região lesionada foi o córtex pré-frontal, o que afetaria a capacidade de tomar decisões e processar emoções.
Phineas Gage se tornou protagonista de estudos de neurociência e também personagem de histórias mitológicas, sem embasamento científico. Doados por Harlow em 1868, o crânio e a barra de ferro podem ser vistos no Warren Medical Museum, que pertence à Escola de Medicina de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos.