Hacktivismo: a nova arma da guerra que se tornou digital
Nas trincheiras da guerra moderna, o ciberespaço virou mais um campo de combate.
Nas últimas semanas, o mundo inteiro olha apreensivo às cenas vindas da Ucrânia. Vidas inocentes perdidas que já atingem a casa dos milhares, danos irreparáveis ao patrimônio local, um ataque à uma usina nuclear que colocou o continente inteiro em alerta e poucas sinalizações de que um acordo de paz será selado.
Fora dos holofotes, existe um outro tipo de guerra sendo travada. Ela envolve queda de sistemas, rompimento de comunicações entre setores estratégicos e ataques a empresas ligadas a um país específico. É a ciberguerra, que ganha cada vez mais importância.
Aqui, um novo conceito se torna chave: o de hacktivismo, proposto pela primeira vez em 2004 pelos pesquisadores Tim Jordan e Paul Taylor. Podemos entendê-lo como o ato de utilizar conhecimentos de hacking com motivações políticas, sociais e/ou ideológicas para (mas não limitado a) acessar sistemas, vazar informações confidenciais e alterar sites de empresas alvo do grupo ou indivíduo.
Em situações em que existe uma clara contraposição entre dois grupos (no caso, nações) diferentes, e com objetivos diferentes, marcas do hacktivismo podem ser vistas na retaliação a corporações que mantém negócios com o país invasor. Neste cenário, companhias multinacionais que ainda operam na Rússia, ou não dão sinal de interromper suas atividades no local.
Apesar de o termo ser relativamente novo e pouco utilizado, exemplos de sua aplicação chacoalharam as estruturas de países de todo o mundo. Em 2019, no Brasil, por meio de vazamentos de mensagens entre membros da Operação Lava-Jato. No ano seguinte, nos Estados Unidos, ao tornarem públicas supostas acusações judiciais de estupro e violência física cometidas pelo então presidente Donald Trump.
Uma variável que envolve o hacktivismo é uma que está completamente ausente da “guerra física”. Se sabemos os nomes e rostos dos responsáveis pelo envio de tropas e planejamento de ataques, no digital isso se torna muito mais difícil. Um ciberataque pode vir de qualquer um, de qualquer lugar, seja uma única pessoa com conhecimento suficiente, um grupo de hackers ou mesmo um ataque planejado por uma nação.
Um dos grupos que foge à regra é o Anonymous, que compartilha seus alvos e “atividades” em diversos perfis de redes sociais, funcionando até mesmo como uma forma de “aviso”. No caso russo, o grupo colocou seu alvo exatamente em empresas em operação lá, com um recado forte: “se vocês têm um pouco de piedade restante pelas crianças massacradas na Ucrânia, cortem relações com a Rússia imediatamente”. Um dos alvos já atingidos, segundo o próprio grupo, é o Banco Central do país.
Nas trincheiras da guerra moderna, o ciberespaço virou mais um campo de combate. Nele, tanques de guerra e bombas são substituídos por vazamentos de dados sigilosos e boicotes a empresas de alguma forma aliadas a um dos países envolvidos. O crescente investimento em cibersegurança por parte de grandes nações apenas ilustra como, hoje, conflitos também são disputados (e perdidos) no meio digital.
(*) Allan Costa é vice-presidente de Operações da ISH Tecnologia.