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Hamas x Israel enche web de fake news e cria nova guerra de narrativas

Vídeos antigos, falsamente atribuídos aos últimos dias, aumentam espanto sobre a tragédia e promovem desinformação nos dois lados da disputa

14 out 2023 - 05h00
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Redes sociais se tornam palco de fake news, disputas de narrativa e busca por entes queridos desparecidos em Israel
Redes sociais se tornam palco de fake news, disputas de narrativa e busca por entes queridos desparecidos em Israel
Foto: Rami Al Zayat via Unsplash

Nos dias seguintes ao ataque do grupo Hamas a Israel, desinformação, vídeos violentos e súplicas de famílias por informações de entes queridos desaparecidos disputam por espaço nas redes sociais

A ofensiva dos terroristas que começou no último sábado (7) resultou na morte de pelo menos 1.300 pessoas até a manhã da quarta-feira (12). O Hamas também capturou dezenas de reféns. Em resposta, israelenses mataram mais de 1.400 pessoas em Gaza até o momento, segundo as autoridades locais.

As ações do Hamas foram amplamente documentadas e disseminadas pelos próprios terroristas através de redes sociais e apps de mensagens, principalmente o Telegram. Esses conteúdos foram, posteriormente, compartilhados em outras plataformas e usados para identificar possíveis desaparecidos que teriam sido mortos no conflito. 

A disseminação de vídeos antigos, falsamente atribuídos aos últimos dias, aumentam o espanto sobre a tragédia. No X (ex-Twitter), alguns conteúdos compartilhados por milhares de pessoas foram publicadas por contas verificadas, que são elegíveis para a monetização de seu conteúdo.

Houve também circulação de fake news nas plataformas da Meta (dona do Facebook e Instagram), o que levou o comissário da União Europeia, Thierry Breton, a enviar cartas abertas para os donos das big techs, Elon Musk e Mark Zuckerberg, alertando sobre o problema e pedindo respostas imediatas para mitigá-lo. O TikTok também foi notificado nesta quinta-feira (12). 

Musk respondeu a Breton pedindo que listasse abertamente no X quais contas estariam promovendo desinformação para que pudesse agir. Em sua tréplica, Breton disse que sua equipe analisará o pedido. 

O excesso de fake news faz parte do embate de narrativas promovidas pelas partes envolvidas no conflito, segundo especialistas escutados pelo Byte. É uma situação que ocorreu algumas vezes no passado recente, como no massacre de Christchurch, na Nova Zelândia, em 2019; ou na guerra entre Rússia e Ucrânia, em ação há mais de um ano.

Terror em imagens ajuda na identificação de reféns

O Hamas já enfrentava o cerceamento de suas atividades em redes sociais como o Instagram, Facebook e até mesmo o X, menos moderada, antes do ataque. Isso fez com que grande parte da comunicação do grupo se voltasse ao mensageiro Telegram.

O Telegram é um app de mensagens privadas, mas que ganha status de rede social por meio dos canaissupergrupos, que permitem disparo de mensagens para milhares de pessoas inscritas de uma só vez, sem qualquer tipo de moderação. Recentemente o WhatsApp ganhou recursos similares aos do Telegram, chamados comunidades e canais.

Os vídeos publicados no Telegram serviram de material para identificar os locais de ataque, contabilizar reféns e ter informações mais precisas sobre os locais de atuação do Hamas. 

“É intencional: o objetivo é gerar um sentimento de impotência, paralisia e humilhação”, explicou Michael Horowitz, analista de segurança da consultoria Le Beck International, à AFP.

Um caso que ganhou notoriedade foi o de Shani Louk, uma germano-israelense que participava de um festival perto da fronteira. 

Louk foi capturada e exibida em vídeos enquanto era levada pelas ruas de Gaza, podendo ser identificada por suas tatuagens e dreadlocks. Na terça-feira (10), sua mãe afirmou ao jornal alemão Bild que a filha havia sido encontrada viva em um hospital de Gaza em estado crítico.

Outro vídeo mostra Yaffa Adar, de 85 anos, em um carro sendo dirigido por integrantes do Hamas. Em um post no Facebook, sua neta Adva Adar pede por informações.

"Ninguém fala com a gente, não sabem dizer nada", escreveu.

Na mesma rede social da Meta, o Byte encontrou perfis e grupos que divulgam fotos de desaparecidos e reúnem informações sobre os possíveis paradeiros. 

Os israelenses compartilham fotos de amigos e familiares que, segundo eles, aparentemente foram sequestrados por combatentes do Hamas. Também pedem ao público que ajude a espalhar a notícia na esperança de recuperá-los em segurança.

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Fake news é sintoma de disputa de narrativa

Muitos dos vídeos rotulados como enganosos foram compartilhados por usuários verificados no X, que pagam para ter o selo azul (que comprovam sua identidade) e são elegíveis para monetização de conteúdo. Uma publicação, cujo vídeo supostamente mostrava uma retaliação israelense, era na verdade de um evento anterior ao novo conflito em Israel, conforme confirmado pela agência de notícias Reuters.

“A Força Aérea Israelense está atacando alvos terroristas em Gaza”, dizia a legenda do vídeo, que também ganhou compartilhamentos no Facebook. Mas o vídeo era de ataques aéreos ocorridos em maio, informou a agência de notícias.

Tanto o governo de Israel quanto o Hamas se utilizam das redes sociais para construir narrativas ao mesmo tempo em que, em certo grau, geram desinformação, segundo Lucas Leite, professor de relações internacionais na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

"Tudo é tentativa de construir e vencer narrativa vigente, incluisve construir a ideia de quem é vítima", comenta.

Não seria a primeira vez que as plataformas serviriam de palco para o encontro de narrativas distintas, na visão do professor.

"Acontece em eleição, quando algum grupo comete violência, quando é sobre a China, ou mesmo sobre a guerra da Rússia e Ucrânia. Essas situações em que as pessoas acham que devem selecionar lados e não entender os conflitos de uma forma mais ampla", diz.

Para Rodrigo Reis, internacionalista e fundador do Instituto Global Attitude, as fake news surgem como reflexo natural desse processo todo. O especialista cita uma transposição até para a dinâmica de combates de narrativas internas de outros países, como o próprio Brasil. 

"É um embate ideológico, porque existe uma corrente evangélica muito forte a favor de Israel. Temos até mesmo o exemplo do governo Bolsonaro, que era a favor das questões de reconhecimento israelense. Também podemos presenciar algumas correntes da esquerda ficando ao lado da Palestina", comenta.

Fonte: Redação Byte
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