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Conheça a história de quase meio século dos tablets

3 fev 2010 - 10h04
(atualizado às 12h37)
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Quem assistiu ao lançamento do iPad na última quarta-feira e viu o aparelho, reluzente e cheio de truques, sendo orgulhosamente exibido para a imprensa por Steve Jobs, pode ter achado tudo "muito moderno". Na verdade, os "tablet computers" são um sonho perseguido pela indústria da informática há nada menos que 42 anos. Sim, você leu certo: quase meio século.

O futuro: XO-3 deve estar no mercado em 2012
O futuro: XO-3 deve estar no mercado em 2012
Foto: Projeto OLPC / Divulgação

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É fácil entender a fascinação pelo conceito: um tablet representa o casamento da sofisticação de um computador, com suas infinitas possibilidades, com a facilidade de uso da dupla "bloquinho e caneta", com a qual a todos estamos acostumados. É uma espécie de Santo Graal da usabilidade. Teclados com 106 botões? Joysticks, rodinhas e mouses para empurrar sobre a mesa? Esqueça tudo isso: basta apontar e rabiscar.

Mas o caminho até o iPad foi tortuoso, cheio de ideias fantásticas demais, caras demais ou, simplesmente, não interessantes o suficiente para fazer sucesso entre os usuários. Conheça a seguir alguns dos ancestrais do novo portátil da Apple, e dê uma espiadinha no que o futuro nos reserva.

O início de tudo: Dynabook

O primeiro a propor a ideia de um computador em formato tablet foi Alan Kay, cientista da computação norte-americano pioneiro em áreas como interfaces gráficas e programação orientada a objetos. Em 1968, ele descreveu o conceito do Dynabook, um "computador pessoal para crianças de todas as idades".

Para a época, as especificações (veja no atalho tinyurl.com/yzvlq5b) da máquina pareciam ficção científica: o Dynabook deveria ter o tamanho de um caderno, pesar não mais do que 1,8 kg, ter tela gráfica capaz de mostrar pelo menos 4 mil caracteres com "qualidade de impressão" (em alfabetos como o latino ou sânscrito) e constraste similar ao do papel impresso, memória suficiente para 500 páginas de texto, ou várias horas de áudio. Tudo isso com um preço não superior a US$ 500.

Até a tecnologia necessária para o Dynabook ser desenvolvida, Alan Kay e sua equipe trabalharam com máquinas que consideraram como "Dynabooks Interinos", idênticos em todos os requisitos exceto tamanho e custo. Uma destas máquinas foi o "Alto", da Xerox, um dos primeiros computadores com interface gráfica, que mais tarde influenciou o desenvolvimento do Macintosh e, indiretamente, dos PCs como os conhecemos hoje.

Mas o principal conceito do Dynabook não era o hardware, e sim o software, uma série de atividades educacionais desenvolvidas em uma nova linguagem de programação batizada de Smalltalk. A ideia foi revitalizada no XO-1 (o "laptop de US$ 100) do projeto OLPC, que tem uma interface (batizada de Sugar) centrada em atividades, e uma linguagem de programação fácil de usar e adequada para crianças batizada de "Squeak", derivada do Smalltalk.

E embora hoje tenhamos tecnologia suficiente para criar hardware com as características de um Dynabook, Alan Kay considera que seu invento ainda não existe pois falta um ponto crucial: o software. O mais próximo é justamente o XO-1, projeto no qual Alan Kay está ativamente envolvido.

"Dengoso": idéia engavetada

Em 1983, a Apple contratou a empresa Frog Design para dar vida ao conceito de um tablet computer. O protótipo foi apelidado de "Bashful" ("Dengoso"), em referência ao projeto Snow White ("Branca de Neve"), uma nova identidade visual que estava sendo desenvolvida para os produtos da Apple e que chegou ao mercado em 1984 com o Apple IIc.

Imagens recentemente divulgadas pela Frog Design mostram um tablet "quadradão", com uma grande moldura preta ao redor da tela (novamente, parece familiar?). A máquina seria acoplada a uma base com teclado, drive de disquetes e alça para transporte, e uma caneta seria usada para a seleção de objetos na tela.

O Dengoso provavelmente nunca passou de um "mock-up", um modelo não funcional criado para demonstrar a ideia. Mas a "sementinha" do tablet foi plantada, e a Apple revisitaria o conceito nove anos mais tarde.

GRiDPAD: o primeiro no mercado

O primeiro "tablet" como atualmente conhecemos a chegar ao mercado foi o GRiDpad Pen Computer, da norte-americana GRiD Systems, uma empresa pioneira que também foi responsável pelo primeiro "laptop" como o conhecemos, o GRiD Compass, de 1982.

Lançada em 1989, a máquina pesava pouco mais de 2 kg e media cerca de 29,2 x 23,6 x 3,7 cm (pequeno para a época). O processador era um 386 de 20 MHz e o GRiDPAD tinha tela de 10 polegadas com resolução VGA capaz de exibir 32 tons de cinza.

O GRiDpad tinha modem interno, conectores para teclado e drive de disquetes e entrada para cartões PCMCIA, ou seja, tudo o que um bom computador da época deveria ter, mas em um formato "portátil" alimentado por baterias com autonomia estimada em três horas. O sistema operacional era uma versão modificada do MS-DOS, com uma interface que poderia ser manipulada por uma caneta.

Tablet PC: a aposta da Microsoft

Em 2001, a Microsoft tentou emplacar a ideia dos "Tablet PC", portáteis equipados com telas sensíveis ao toque que rodavam uma versão modificada do Windows XP, preparada para operação via caneta e com alguns utilitários extras como ferramentas de reconhecimento de escrita.

O Tablet PC não era um produto, mas sim um conceito, ao qual vários fabricantes aderiram. Mas muitos dos Tablet PCs não eram tablets "puros" já que, com medo de que os usuários não se acostumassem com o uso da caneta, os fabricantes preferiram apostar em máquinas "híbridas": notebooks com uma tela móvel, que poderia ser fechada sobre o teclado transformando-os em tablets.

No fim das contas, a ideia não deu muito certo. Tablet PCs custavam muito mais caro que notebooks similarmente equipados, e não havia aplicativos que justificassem a necessidade da tela de toque. As máquinas nunca sumiram do mercado: novos modelos são lançados até hoje, e encontraram um pequeno nicho em alguns segmentos como a área médica, mas nunca cairam nas graças do público.

Com o lançamento do Windows 7 a Microsoft está tentando trazer o conceito de volta com o nome de "Slate". Durante a abertura da CES 2010 em Las Vegas, Nevada, em janeiro deste ano, Steve Ballmer demonstrou brevemente no palco um modelo da HP, equipado com tela multitouch e rodando uma versão para PCs do software do Kindle, da Amazon. A máquina ainda não está no mercado.

Origami: se na primeira vez não der certo...

Uma palavra que pode ser usada para definir a Microsoft é "persistência": se uma ideia na qual a empresa acredita não dá certo, ela volta para a mesa de projeto, é refinada e relançada, até que se obtenha sucesso. Exemplos desta estratégia não faltam, entre eles Windows, Internet Explorer, Zune, Xbox, etc.

O "Origami", anunciado no início de 2006, foi uma evolução da ideia do Tablet PC, só que mais portáteis e em um formato menor. Eram PCs com baixo poder de processamento (e baixo consumo de energia) equipados com uma tela de 7 polegadas (geralmente sensível ao toque), rodando o Windows XP. Soa familiar? É um conceito muito parecido com o dos netbooks, mas com um diferencial importante: o preço, novamente mais caro que um notebook convencional.

Alguns "Origami" tinham um design incomum, com um teclado dividido em duas metades, uma de cada lado da tela, e pequenos joysticks substituindo o mouse. Por causa dos processadores limitados (Intel Celeron, VIA C7 e similares), o sistema operacional rodava "pesado". O conceito ainda existe como "Ultra Mobile PC" (UMPC), mas a presença no mercado é mínima.

Nokia 770: um Nokia que não fala

Pense rápido: diga o nome de uma empresa conhecida por smartphones que também resolveu investir em tablets? Quem disse Apple errou: esta empresa é a Nokia.

Lançado em 2005, o "Nokia 770" nada tem a ver com os celulares pelos quais a empresa é conhecida, apesar do nome. É um tablet para acesso à internet equipado com uma tela de 4.1 polegadas e um sistema operacional baseado em Linux batizado de "Maemo".

Foi feito para navegar na web, ler e-mail, tocar música e exibir imagens e e-Books, e nunca foi comercializado em massa: na verdade, foi uma espécie de laboratório para estudo do conceito, um "investimento no futuro". Queridinho dos desenvolvedores de Software Livre, gerou três descendentes: o Nokia 800, 810 e o novíssimo N900, o primeiro modelo a integrar recursos de telefonia, o que o torna uma espécie de híbrido de smartphone com tablet.

Modbook: o primeiro Mac tablet

O primeiro Mac "tablet" não foi produzido pela Apple. Criado pela Axiotron o Modbook era, como diz o nome, uma "modificação" dos notebooks PowerBook G4. A empresa comprava os notebooks da Apple, desmontava e remontava os componentes em um novo chassis, eliminando o teclado e adicionando uma tela sensível ao toque (com caneta) sobre o painel LCD.

O Modbook rodava o mesmo sistema operacional (MacOS X) e softwares dos Macs tradicionais, e a tela sensível ao toque (com generosas 15 polegadas) era vista pelos aplicativos como uma mesa digitalizadora (tablet) como as comercializadas pela Wacom, sensível a vários níveis de pressão da caneta. Por isso a máquina se tornou popular entre ilustradores, que a adotaram como uma "prancheta eletrônica".

Em 2009 a Axiotron lançou o Modbook Pro, baseado nos MacBook Pro com processadores Intel. O gabinete ficou mais fino e elegante, com acabamento em preto, e a tela se tornou híbrida: além da caneta, também respondia ao toque dos dedos. O preço, no entando, era bem salgado: US$ 5 mil.

XO-3: o futuro

Esta é talvez a máquina que mais se aproxima do conceito do Dynabook originalmente proposto por Alan Kay. Não só no conceito de software, hardware e ideal de uso (educação) como também no fato de que simplesmente não existe, pois a ideia é avançada demais para nossa época.

A meta é colocar no mercado em 2012 (ou seja, praticamente daqui a dois anos), um "tablet" com a metade da espessura do iPhone e uma tela touchscreen colorida de 28 × 22 cm que também funciona como "e-Paper" para leitura à luz do sol. A maioria dos componentes seria de plástico, para maior resistência, e sequer haveria um conector para um carregador de parede: a recarga da bateria seria feita por indução.

Detalhes técnicos são escassos, mas em um artigo na revista Forbes o designer da máquina menciona um processador de 8 GHz (sim, oito gigahertz) com consumo de menos de um watt e uma câmera na traseira do aparelho. Tudo isso por apenas US$ 75. Cerca de 40% do preço atual de um XO-1, que foi projetado para custar apenas US$ 100 mas sai por quase US$ 180.

Parece um sonho impossível: ainda não há tecnologia para criar uma máquina com estas especificações e o preço é absurdamente agressivo. Mas a tecnologia avança rápido, e Nicholas Negroponte parece feliz em se contentar com um papel de "visionário" em vez de realizador. "Não precisamos construí-lo", disse Negroponte à Forbes, se referindo ao computador. "Só precisamos ameaçar fazê-lo".

A ideia é que, inspirando a indústria e dando a ela um "ideal" a seguir, alguém vá topar o desafio e transformar em produto. Mais ou menos como a ASUS, que inspirada pela reação do público à ideia de Negroponte de um portátil de baixíssimo custo (o XO-1), criou o EeePC 701 e deu início ao mercado dos netbooks. Será que a história vai se repetir?

Geek
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