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'Humano do futuro' tem corpo curvado e aparência espantosa; médicos avaliam

Simulação do homem para o ano 3.000 viraliza nas redes sociais; especialistas apontam ressalvas, mas sugerem cuidados com a postura e a visão

9 nov 2022 - 15h10
(atualizado às 22h53)
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Pesquisadores montam projeto 3D para representar como imaginam seres humanos no ano 3000 D.C.
Pesquisadores montam projeto 3D para representar como imaginam seres humanos no ano 3000 D.C.
Foto: Reprodução/Twitter

Você provavelmente viu a reprodução 3D que simula os impactos da tecnologia na aparência dos seres humanos. A imagem é resultado de uma projeção da empresa de telecomunicações Toll Free Forwarding e foi feita com base nas expectativas para o ano 3000.

Chamada de Mindy, o ser humano do futuro teria as costas curvadas e o pescoço mais largo como resultado do uso excessivo dos aparelhos digitais. As mãos seriam em formato de garra, em referência ao hábito de digitar no celular. Até uma segunda pálpebra apareceria como proteção à iluminação dos dispositivos eletrônicos. Não à toa, a simulação reverberou nas redes sociais. Porém, especialistas ouvidos pelo Estadão apontam ressalvas nessa representação.

"Acredito que o estudo foi feito mais como uma forma de alerta do que como uma previsão do que vai acontecer", defende Ricardo Paletta, médico oftalmologista e presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). Ele explica que o surgimento de uma segunda pálpebra em menos de 800 anos de evolução humana - período estipulado pela projeção - é quase impossível.

As costas curvadas e o pescoço mais largo também são possibilidades descartadas por Ivan Rocha, médico ortopedista do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP.

Pesquisadores montam projeto 3D para representar como imaginam seres humanos no ano 3000 D.C.
Pesquisadores montam projeto 3D para representar como imaginam seres humanos no ano 3000 D.C.
Foto: Reprodução/Twitter

Segundo ele, ainda que a projeção use como base questões já identificadas e conhecidas - como os problemas de postura e a mão de garra -, ela desconsidera os avanços científicos a respeito da evolução humana. "Essa estimativa pressupõe que problemas na postura podem passar para os nossos descendentes como características mais adaptáveis. A projeção pode ter um fundo de verdade, mas não é assim que aconteceria."

Ainda que essa representação esteja distante de se tornar realidade, não significa que cuidados durante o uso de aparelhos eletrônicos não sejam necessários. Veja as dicas.

Cuidados com a cervical

O uso do smartphone em excesso pode trazer problemas para a coluna cervical, conforme alerta Alexandre Fogaça, médico ortopedista e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). Ele explica que a posição comum ao usar o celular - aquela com o pescoço curvado para baixo - submete a musculatura cervical a um estresse prolongado. Isso pode trazer dores, torcicolo, hérnias de disco e doenças crônicas, como a artrose. "Por isso, o uso desses dispositivos tem que ser com moderação", reforça.

Quando falamos em crianças e adolescentes, o tema merece ainda mais atenção. Segundo Fabiano Nunes, médico ortopedista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, jovens que ainda estão em desenvolvimento e ficam muito tempo com a coluna curvada podem ter deformações.

"Nesses casos, é preciso procurar tratamentos ortopédicos o quanto antes, pois quando a criança cresce, o problema postural pode se tornar irreversível ou demandar um procedimento cirúrgico para correção", diz. Para evitar o problema, o ideal é que os pais estimulem atividades longe das telas e limitem o tempo de uso de celulares, videogames e computadores.

Atenção aos braços e mãos

A digitação no aparelho também exige atenção. "Ficar digitando por muito tempo sobrecarrega a musculatura dos braços e pode causar lesões nos tendões", explica Fogaça. Por isso, ele recomenda o uso do smartphone com cautela e, quando necessário utilizar o aparelho, fazer isso com a tela mais próxima da altura dos olhos.

É importante também variar as formas de digitação e se atentar ao peso do smartphone. Pessoas que digitam muito utilizando o polegar podem desenvolver rizartrose, uma inflamação que atinge especificamente a articulação do dedo polegar.

Já quem digita muito em teclados de computadores ou segura por muitas horas celulares pesados tem mais chances de desenvolver tendinite no pulso.

Lembre-se de piscar

Toda vez que olhamos para uma tela entramos em um estado de concentração visual. "Quando entramos nesse estado, diminuímos nossa frequência de piscadas e o olho fica ressecado", alerta Ricardo Paletta.

Esse ressecamento pode ocasionar ardência, coceira, e embaçamento visual. Por isso, lembrar de piscar os olhos enquanto usa aparelhos eletrônicos é essencial para garantir sua correta lubrificação. "Quando necessário, também pode ser receitado por um oftalmologista o uso de um colírio para repor a lágrima."

Pratique atividades físicas

"É importante fazer atividade física condizente com a idade e com as comorbidades pelo menos três vezes na semana com supervisão de um educador físico", recomenda Fogaça. Ele explica que a prática garante maior resistência na musculatura para suportar o estresse diário.

Além disso, alongar-se diariamente é essencial para manter as articulações saudáveis e evitar dores. "Estimular a prática de alongamento em crianças, especialmente quando elas estão em fase de estirão (quando seus ossos crescem mais rapidamente) também colabora para a boa postura e alivia dores", diz Nunes.

Objetos de trabalho

Adotar um ambiente de trabalho ergonômico também é importante, em especial para quem continua no modelo remoto. Uma boa cadeira pode fazer a diferença. A recomendação de Fogaça é utilizar uma com encosto, que permita apoiar os pés no chão e que mantenha quadril e joelhos curvados em 90 graus.

Fique atento também à posição do computador. Busque utilizá-lo na altura dos olhos, com mouse e teclado na altura do cotovelo dobrado. Evitar trabalhar no sofá ou na cama também ajuda a manter uma postura mais ergonômica.

Evite telas antes de dormir

As telas dos aparelhos eletrônicos emitem uma luz que afeta uma glândula do nosso cérebro chamada glândula pineal. "A glândula pineal controla o nosso estado de vigília e de sono", alerta o oftalmologista.

Ele explica que é ela que comanda os momentos de despertar e de dormir. "Ao usar telas próximo da hora de dormir é como se a iluminação das telas dissesse para a glândula pineal que ainda é dia e que precisamos estar em estado de vigília." Por isso, ele aconselha suspender o uso de telas duas horas antes de dormir.

Faça pausas

Estimular intervalos entre os usos dos equipamentos eletrônicos pode evitar problemas na coluna e na musculatura. No caso do trabalho - seja no computador ou no smartphone -, Fogaça recomenda pausas a cada duas horas. "É importante levantar, andar um pouco e alongar a musculatura. Isso favorece tanto a parte músculo-esquelética como a parte vascular", explica.

COLABOROU GIOVANNA CASTRO

Estadão
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