IA, TikTok, Musk: tudo o que Trump fez no mundo tecnológico em sua primeira semana na Casa Branca
Presidente tomou dez ordens que mudam os rumos da tecnologia ou de quem trabalha com ela
O segundo mandato de Donald Trump mal completou uma semana, porém, a contar pelas mudanças que ele já promoveu em relação ao mundo tecnológico, o mandato do republicano será bastante agitado. Entre as principais ordens que envolvem tecnologia estão a revogação da lei que tentava mitigar os riscos da inteligência artificial (IA), o decreto para adiar o bloqueio do TikTok e a ordem para acabar com a "censura governamental" nas redes sociais.
Relembre como foi a primeira semana tecnológica de Trump no poder.
Chefões da tecnologia lado a lado na posse de Trump
Os CEOs de gigantes da tecnologia Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google), Elon Musk (X e Tesla) e Tim Cook (Apple) estiveram em destaque na cerimônia de posse de Donald Trump.
As lideranças do Vale do Silício ficaram na primeira fileira, inclusive à frente de integrantes importantes do governo, como ministros e secretários.
E os flashes estavam atentos a esses bilionários porque desde a vitória do republicano, em novembro, as principais empresas de tecnologia iniciaram um processo de rápida aproximação com Trump.
Mandou recado no discurso
Elon Musk fez sinal de joinha quando Trump citou as missões espaciais para "crescer o território e colocar nossa bandeira no planeta Marte" no discurso de posse. Por mais de duas décadas, Elon Musk concentrou a SpaceX, sua empresa de foguetes, no objetivo de toda uma vida de chegar a Marte. Ainda em 2023, ele intensificou o trabalho sobre o que acontecerá se chegar lá.
Inclusive, Musk já orientou equipes e funcionários a se aprofundarem no projeto e nos detalhes de uma cidade marciana, de acordo com fontes ouvidas pelo New York Times.
Acabou com a lei que tentava mitigar riscos da IA
Trump foi do Capitólio à Casa Branca para dar e revogar decretos. Um deles foi o que buscava limitar os riscos causados pela inteligência artificial (IA) para consumidores, trabalhadores e a segurança nacional.
Assinada por Joe Biden em outubro de 2023, ordem era sustentada pela Lei de Produção para a Defesa e exigia que desenvolvedores de sistemas movidos a IA compartilhassem resultados dos testes de segurança com o governo dos EUA.
Quando a ordem foi assinada por Biden, legisladores americanos não conseguiam aprovar uma legislação definitiva para formar diretrizes para o desenvolvimento da IA. As regras exigiam que as empresas informassem ao governo se criassem modelos poderosos de IA que pudessem afetar a segurança nacional, a economia ou a saúde pública.
A novela TikTok
Ninguém sabia ao certo quando e se o aplicativo e vídeos curtos iria sair do ar. No fim das contas, ele ficou off menos de 48 horas e já ganhou sobrevida patrocinado por uma canetada presidencial.
Na segunda-feira, 20, Trump adiou em 75 dias o bloqueio do TikTok no país. Essa decisão, na prática, significa que o Departamento de Justiça dos EUA está impedido de mover ações legais ou penalizar a empresa no período. O texto do decreto argumenta que a revogação dará ao novo governo tempo "para buscar uma resolução que proteja a segurança nacional enquanto salva uma plataforma usada por 170 milhões de americanos".
Agora, a rede social chinesa deve ser palco de uma disputa entre bilionários. Em frente às câmeras Trump disse que aprovaria a compra do app por Elon Musk e depois sugeriu que seu amigo e dono da Oracle, Larry Ellison, também pudesse ser dono da rede.
A ByteDance, empresa com sede na China dona do app, poder a oferta que mais lhe agrade, como a do bilionário Frank McCourt do Project Liberty e do youtuber MrBeast, que recentemente demonstrou intenção de compra. Inclusive, o grupo de investidores por trás do criador recebe consultoria jurídica de um escritório ligado ao novo procurador-geral dos EUA, Matt Gaetz.
Ordem que põe fim à "censura governamental" nas redes sociais
Um outro decreto de Trump tem a intenção de "parar imediatamente toda a censura governamental" nas redes sociais. Ou seja: agora, oficiais do governo federal americano estão proibidos de adotar qualquer conduta - que em tese - "infrinja de forma inconstitucional a liberdade de expressão de qualquer cidadão americano". O decreto também veta o uso de recursos de impostos para os mesmos motivos.
Na prática, a ação deve abafar esforços de combater a proliferação de informação falsa ou enganosa online.
Conservadores justificaram a decisão com a tese de que os esforços para limitar a disseminação de fake news, mesmo que sobre saúde pública e o processo eleitoral, seja censura.
Money, money, money para construir a Stargate
Junto a OpenAI, a Oracle e o Softbank, o republicano se comprometeu, nesta terça-feira, 21, a investir em uma infraestrutura de inteligência artificial (IA) nos EUA. O anúncio prevê a destinação de até US$ 500 bilhões nos próximos anos em um projeto de data center de IA chamado Stargate.
"Construiremos data centers colossais que empregarão muitas pessoas", disse o presidente dos EUA. Depois acrescentou que o país terá de produzir muita eletricidade e que seu governo tornará isso possível.
O projeto Stargate tem financiamento inicial da Oracle, OpenAI e Softbank. Além disso parceiros de investimentos também devem entrar, como o MGX, com sede em Abu Dhabi. A Arm, a Microsoft, a Nvidia, além de OpenAI e Oracle, serão os principais colaboradores tecnológicos do projeto. O governo não vai destinar fundos ao projeto.
Desmanche do Comitê de Revisão de Segurança Cibernética
O Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) dispensou membros de vários de sues comitês executivos. Essa medida inclui o desmanche do Comitê de Revisão de Segurança Cibernética (CSRB), que é responsável por investigar incidentes de cibersegurança.
Segundo um documento assinado na segunda-feira, 20, pelo secretário interino Benjamine C. Huffman, as demissões são justificadas como parte de uma iniciativa de cortar gastos da agência. "Alinhado ao compromisso do Departamento de Segurança Interna em eliminar o mau uso de recursos e garantir que as atividades do DHS priorizem nossa segurança nacional, estou direcionando o fim de todas as atuais participações em comitês consultivos dentro do DHS, com efeito imediato".
A onda de desligamentos vai interromper uma investigação conduzida pela agência sobre ataques a empresas de telecomunicações americanas por um grupo hacker chinês, conhecido como Salt Typhoon (ou Tufão de Sal, em português). Entre as pessoas que tiveram metadados coletados estão Donald Trump, J.D Vance (vice-presidente) e outros funcionários de alto escalão no governo.
Liberdade para Ross Ulbricht, símbolo de crimes na deep web perdoado por Trump
O criador do mercado digital Silk Road, que vendia drogas e outros crimes na deep web, Ross Ulbricht recebeu perdão "total e irrestrito" de Donald Trump na terça-feira, 21.
Ulbricht se tornou herói cult no universo das criptomoedas e dos libertários por criar o primeiro ambiente digital onde era possível fazer transações com bitcoin. O Departamento de justiça chegou a descrever sua invenção como o "mercado criminoso mais sofisticado e abrangente da internet".
Celebrado em todas as feiras e convenções libertárias, Trump abraçou a causa de Ulbricht durante a conferência anual de bitcoin realizado em Nashville, onde reafirmou o compromisso de libertar o dito herói. Após a vitória do republicano, uma publicação no perfil de Ulbricht no X dizia que ser "imensamente grato a todos que votaram no presidente Trump em meu nome".
Fim do home office
A ordem para que todos os funcionários públicos federais dos EUA retornem ao serviço presencial teve muita influência de Elon Musk. Ainda em 2022, durante a pandemia, o czar do governo Trump havia ordenado aos funcionários da Tesla voltar do trabalho remoto.
"Os chefes de todos os departamentos e agência do Poder Executivo deve retomar todas as medidas necessárias para encerrar os acordos de trabalho remoto e exigir que os funcionários retornem ao trabalho presencial em seus respectivos postos de trabalho em tempo integral" diz parte do texto assinado pelo presidente.
Esse movimento é reflexo de medidas tomadas por várias empresas do setor privado. Em dezembro, a Amazon decidiu acabar com o home office, mas não tinha cadeiras o bastante para acomodar todos os funcionários.
Programas de diversidade estão ameaçados
A ordem presidencial dizia que todos os funcionários do governo federal que atuam em programas de diversidade, equidade e inclusão fossem afastados na quarta-feira, 22. Os escritórios dos programas também serão fechados, conforme afirma um memorando enviado pelo Escritório de Gestão Pessoal do governo americano.
O presidente considera políticas de D&I como "radicais e perdulárias". Além de demissões, a diretriz vai causar a transferência de vários funcionários. Os chefes dos escritórios também foram instruídos a apresentar até sexta-feira, 24, um plano para "executar uma ação de redução de força", o que significa mais demissões.