Implante inovador permite uso de teclado virtual usando só o cérebro
Empresa apoiada por Bill Gates e Jeff Bezos pode se tornar a primeira a comercializar um implante cerebral
A corrida para comercializar interfaces cérebro-computador (BCIs) está ganhando força. E uma empresa – a Synchron – está liderando o caminho. Apoiada por investimentos de Bill Gates e Jeff Bezos, a companhia sediada em Nova York venceu os concorrentes ao obter a aprovação regulatória da Food and Drug Administration dos EUA para conduzir ensaios clínicos em 2021.
Rodney Gorham, um australiano de 63 anos, foi um dos primeiros voluntários no mundo a receber um implante cerebral da Synchron. Ele descreveu a experiência na conversa do WhatsApp como “emocionante”.
Gorham tem esclerose lateral amiotrófica (ELA), que paralisou grande parte do seu corpo e o deixou incapaz de falar.
Como funciona?
Para digitar as palavras, Gorham concentra seus pensamentos na movimentação de certos músculos de ambos os tornozelos.
Embora ele tenha mobilidade extremamente limitada nas pernas e nos braços, seu implante cerebral detecta os sinais cerebrais enquanto ele tenta mover os músculos, usa algoritmos de computador para interpretá-los e, em seguida, executa o equivalente a uma ação de toque em um dispositivo touchscreen.
Quando combinado com um sistema externo de rastreamento ocular para mover o cursor do computador, ele pode tocar digitalmente uma letra desejada em um teclado na tela – embora digitar uma frase curta possa levar vários minutos.
Testes estão sendo feitos
A Synchron vem testando sua tecnologia em dois ensaios clínicos: um deles, chamado Switch, envolve quatro voluntários na Austrália, incluindo Gorham; o segundo, chamado Command, envolve cinco voluntários nos EUA.
Coletivamente, os testes visam demonstrar como o implante cerebral pode capacitar pessoas com paralisia a enviar mensagens de texto ou e-mails, fazer compras ou serviços bancários online, controlar dispositivos domésticos inteligentes, como termostatos, ou simplesmente pedir ajuda aos cuidadores.
Outras startups, como a Neuralink de Elon Musk, juntaram-se à corrida para comercializar esses equipamentos, conhecidos como BCIs.
Mas a abordagem da Synchron difere da deles. “Parece haver um sentimento na comunidade de que a BCI é uma corrida tecnológica para melhorar o corpo humano”, diz Tom Oxley, CEO e fundador da Synchron, em entrevista ao portal New Scientist.
“Não é isso que precisa acontecer para que a tecnologia seja aprovada – ela precisa primeiro lidar com uma condição médica que alguém tenha.”
A Synchron também evitou cirurgias invasivas de crânio aberto para implantes cerebrais. Em vez disso, a empresa utiliza um procedimento menos invasivo que insere um conjunto especial de eletrodos – um “Stentrode” – em um vaso sanguíneo.
Isto ocorre por meio de uma cirurgia na veia jugular, permitindo o acesso a um vaso sanguíneo próximo ao córtex motor do cérebro, que controla os movimentos musculares.
Oxley diz que isso minimiza o risco de complicações como infecções para garantir “longevidade e estabilidade” ao implante cerebral.
A Synchron está agora se preparando para um terceiro ensaio clínico para demonstrar como o implante pode ajudar os receptores a desempenhar funções específicas de maneira confiável.
Se o teste for bem-sucedido, a Synchron planeja disponibilizá-lo comercialmente. O primeiro mercado-alvo da empresa são os cerca de 5 milhões de pessoas cuja paralisia do braço os torna incapazes de manipular um smartphone ou tablet.