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Com aporte de US$ 300 mi, Neon é a startup brasileira com o maior investimento de 2020

Cheque, um dos maiores recebidos por uma startup nacional, pode ter transformado a empresa em 'unicórnio'

2 set 2020 - 00h11
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A fintech Neon selou a entrada no hall das principais startups brasileiras. A companhia fundada em 2016 anuncia nesta quarta, 2, o recebimento de um aporte de US$ 300 milhões (aproximadamente R$ 1,6 bilhão), um dos cinco mais altos já recebidos por uma startup nacional. O volume só fica abaixo de investimentos recebidos por iFood/Movile (US$ 500 milhões) e Nubank (US$ 400 milhões) e empata com Grow/Yellow e Gympass, segundo o ranking da empresa de inovação aberta Distrito.

Maior aporte em uma startup nacional em 2020, a rodada foi liderada pelo fundo General Atlantic, que já havia participado do investimento de R$ 400 milhões na empresa em novembro de 2019. Voltam a investir na empresa também Monashees e Flourish Ventures. Entre os que estão investindo pela primeira vez estão BlackRock, Vucan Capital, PayPal Ventures, Endeavor Catalyst e o banco espanhol BBVA, via Propel Venture Partners.

Equipe da Neon: no topo da esquerda para direita: Rafael Matos e Pedro Conrade (fundador da Neon); embaixo: Jean Sigrist, Carol Oksman e Daniel Mazini
Equipe da Neon: no topo da esquerda para direita: Rafael Matos e Pedro Conrade (fundador da Neon); embaixo: Jean Sigrist, Carol Oksman e Daniel Mazini
Foto: Neon/Divulgação / Estadão

As conversas com os primeiros nomes da lista começaram em novembro de 2019, sofreram uma pausa em março por causa do coronavírus e voltaram a ganhar corpo em abril. O dinheiro será disponibilizado em duas parcelas de US$ 150 milhões.

"A rodada em plena pandemia demonstra a confiança que os investidores têm na gente. Os nomes envolvidos são um sinal muito claro do trabalho que estamos fazendo. Poucas startups brasileiras têm investidores desse porte", diz ao Estadão Jean Sigrist, copresidente executivo da Neon.

De fato, é um feito para poucos. Embora a empresa resista em declarar oficialmente, é possível que a Neon tenha se tornado a décima segunda integrante do seleto grupo de 'unicórnios brasileiros' - empresas avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão. Uma indicação da chegada da Neon ao grupo está no próprio ranking de aportes nacionais.

Com exceção de Grow/Yellow, todos os integrantes do topo do ranking são unicórnios. Mais ainda: todos se tornaram unicórnios ao receberem os aportes - a exceção é o Nubank, que já tinha atingido o status quando recebeu o investimento. O QuintoAndar, sexto do ranking, também se tornou unicórnio ao receber um aporte de US$ 250 milhões em julho de 2019.

Especialistas consultados pela reportagem também apostam que a empresa superou a marca. "Com um aporte deste tamanho, é bastante provável que a Neon já tenha atingido o status de unicórnio", afirma Felipe Matos, autor do livro 10 Mil Startups e colunista do Estadão.

A lógica é a seguinte: em um aporte do tipo, a startup entrega aos investidores entre 10% e 20% das ações da empresa - os detalhes variam de acordo para acordo. Ou seja, dentro da normalidade, os US$ 300 milhões correspondem a algo entre 10% e 20% do valor da companhia, o que supera o total de US$ 1 bilhão. Há casos, mais incomuns, em que são negociados entre 30% e 40% das ações. Apenas na última faixa, considerada bastante rara em negociações do tipo, a Neon não atingiria a marca.

"Mesmo que não tenha atingido o status nesta rodada, a Neon tem porte de unicórnio: um banco digital com 9 milhões de clientes, 800 funcionários e uma rodada de US$ 300 milhões. Tem todos os indícios", diz Gustavo Araújo, cofundador do Distrito.

É um status que só a empresa pode confirmar, mas ela prefere ignorar. "Independentemente de ser ou não um unicórnio, o aporte é sinal de que os investidores mantêm a confiança na gente. Oficialmente não vamos dizer que somos unicórnio. Não é isso que estamos buscando. Temos outras métricas muito mais impressionantes", diz Sigrist

Crescer, crescer, crescer

De fato, a Neon tem outros números robustos a apresentar. Além dos 9,4 milhões de contas abertas, triplicando o número de clientes nos últimos 12 meses, ela diz que viu o volume de dinheiro investido dos clientes dobrar durante a pandemia. Também viu dobrar o volume de valores transacionados em sua plataforma pelos cartões de crédito e de débito. Por fim, após comprar em setembro de 2019 a startup MEI Fácil, a empresa registra 1 milhão de contas do tipo MEI.

Com o novo aporte, a empresa planeja expandir seus produtos em três áreas: crédito, serviços para contas MEI e ofertas e ferramentas de investimentos. "Nosso cartão de crédito tem apenas um ano e meio de existência e é possível agregar novas coisas a ele", explica Daniel Mazini, diretor de operações da empresa, que passou os últimos 10 anos como chefe de varejo na Amazon.

Em relação ao MEI, Mazini explica que será possível avançar do estágio de educação financeira para serviços - a ideia é ajudar os microempreendedores que antes tinham que recorrer a uma conta de pessoa jurídica para fazer seus serviços.

"A Neon vai ter capital para ser mais agressiva em relação aos outros bancos digitais. Antes, ela precisava ser mais criativa. Agora, ela vai poder expandir sua base e conversar com outros públicos", diz Amure Pinho, presidente da Associação Brasileira de Startups.

Compras e contratações

Para atingir essa expansão, a empresa visa aquisições, explica Rafael Matos, diretor de desenvolvimento de negócios. Recentemente, a empresa comprou a corretora Magliano. A ideia das compras é variada: ganhar mercado, trazer produtos e aquisição de profissionais.

No último quesito, a Neon vai usar os novos recursos para que sua equipe cresça de acordo com o tamanho dos negócios - a competição por talentos é intensa, visto que a Neon não é a única fintech com crescimento acelerado no País. Em abril, a companhia demitiu 8% dos funcionários, mas já voltou a contratar. Espera chegar até o final do ano com um quadro entre 900 e 1.000 pessoas.

Segundo Carol Oksman, responsável pelos talentos da empresa, a Neon focará no desenvolvimento dos atuais funcionários, no aumento de engajamento de quem já está lá e na atração de novos nomes. As contratações poderão incluir pessoas que não moram em São Paulo, mas que poderão trabalhar remotamente. Recentemente, o primeiro funcionário que mora fora do Brasil foi contratado.

Repercussão

"A Neon é o primeiro banco digital "startup raiz" do País. O Inter era um banco tradicional, o Intermedium. O Nubank já nasceu grande para uma startup, com aporte do Softbank e empreendedores estrangeiros. A Neon seguiu o caminho difícil de startup que começa do zero, levanta investimentos e cresce. A resiliência da empresa é notável", diz Felipe Matos. Ele faz referência ao episódio mais negativo da história: a liquidação extrajudicial do parceiro mineiro Banco Neon (ex-Pottencial), a quem a startup emprestou o nome em uma parceria já desfeita.

Não apenas isso: o aporte demonstra a recuperação do ecossistema de nossas startups - o último unicórnio do País havia sido a Loft, em janeiro.

"Todas as empresas de tecnologia valem mais do que antes da pandemia. Em março e abril, as startups sentiram a crise, mas agora já demonstram uma retomada", diz Gustavo Araújo.

"O ecossistema brasileiro estava numa fase com startups em diferentes estágios de desenvolvimento. Com a pandemia, os segmentos se rearranjaram. Os que se fortaleceram eram os que já estavam preparados, como os bancos digitais. A Neon é um desses casos", diz Amure Pinho.

Estadão
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