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Dinheiro para startups com os 'pés no chão' continua existindo apesar de crise

Projetos precisam ser concretos, 'sem muita viagem', dizem gestores

2 abr 2023 - 05h11
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PORTO ALEGRE - O fundo do poço para as empresas jovens de tecnologia, como startups e fintechs, pode ainda não ter chegado e uma consolidação parece ser inevitável para banqueiros, gestores e empreendedores que participaram da South Summit, evento que reuniu em Porto Alegre mais de 20 mil pessoas do mundo da inovação - e de quem financia essa inovação.

Se a ideia for boa, o dinheiro aparece, dizem os gestores. Os fundos estão capitalizados e os recursos em caixa - chamado de 'dry powder' - é alto. Mas os projetos precisam ser concretos, "sem muita viagem", como costumava acontecer há dois ou três anos, segundo o sócio da Caravela Capital, Rodrigo Vieira. "O dinheiro voltou a ter valor."

Anos de juros perto de zero - ou mesmo negativos - e injeções de recursos sem precedentes pelos bancos centrais dos países desenvolvidos desde a crise mundial de 2008 levaram a um ambiente de dinheiro fácil e barato. "Qualquer ideia era financiável, até porque o dinheiro não custava nada", disse o banqueiro e sócio do BTG Pactual, André Esteves.

Com os juros voltando a subir e a retirada dos estímulos, os excessos que existiam foram sendo corrigidos, como o preço das empresas de tecnologia. Para Esteves, o aumento do custo do dinheiro traz uma "bem-vinda disciplina", filtrando projetos que fazem sentido dos que não fazem. No financiamento de novos projetos, haverá mais cuidado e disciplina.

"Muito dinheiro disponível se refletiu em 'valuations' das startups subindo, agora é a reprecificação. O preço baixou e o mercado mudou", afirma o gestor Franco Portillo, da Domo Invest. Ele diz continuar olhando empresas, pois o fundo está com recursos disponíveis.

Queda dos preços e aquisições

A própria correção dos preços pode levar a oportunidades de aquisição, de acordo com o gestor da Treecorp, Filipe Lomonaco. Na B3, ações de empresas de tecnologia - e outras estreantes recentes - chegaram a acumular queda de 90%.

No BTG, segundo o diretor Cláudio Berquo, os executivos têm se debruçado em análises de como fazer fusões das empresas que abriram o capital recentemente - e estão muito baratas. "Vamos ver muita empresa se juntando", disse. A dúvida entre empreendedores é se os donos dessas empresas vão querer se desfazer dos negócios a preços tão baixos.

Na avaliação de Daniel Ibri, cofundador da Mindset Ventures, nesse novo ambiente, vai demorar mais para se fazer investimentos. "O empreendedor vai levar mais tempo para concretizar rodadas de captação", disse. Dados da gestora mostram que houve recuperação dos negócios dos fundos no Brasil em fevereiro, mas no mundo ainda não.

As empresas muito novas, em estágio de capital semente, não estão encontrando problema de financiamento. Para as com mais estrada que estavam com valores mais altos, o cenário mudou, segundo o presidente da Bossanova Investimentos, João Kepler Braga. O investidor se assustou e ficou bem mais seletivo, disse.

Dinheiro do governo

"É um momento muito complexo e o cenário não é nada certo", disse ao Estadão/Broadcast, María Peña Mateos, conselheira da ICEX (Espanha Exportácion e Inversiones), que liderou uma comitiva espanhola no South Summit. A inovação, sobretudo aquela mais disruptiva, precisa de financiamento para decolar. Por isso, é preciso criar incentivos para que os fundos resolvam investir.

Na Espanha, o governo criou o Next-Tech, um fundo de 4 bilhões de euros, criado para buscar parcerias com fundos privados e investir em empresas com potencial de transformação tecnológica.

Estadão
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