Falta de qualificação é barreira para expansão da IA
Segundo especialistas ouvidos pelo Terra, o ensino dentro do setor de tecnologia precisa ser mais teórico e plural.
O consumidor final está se acostumando cada vez mais com atendentes de voz robóticos e os chats em que máquinas recebem informações de humanos para solucionar problemas. Por trás dessas soluções, há um trabalho de cientistas de dados, programadores e arquitetos da informação. Especialistas da empresa americana de computação IBM acreditam que desenvolver esse tipo de profissionais é um dos grandes desafios para a adoção da tecnologia de inteligência artificial (IA) dentro das empresas.
Durante o evento "Data and AI Forum" , em Miami, na Flórida (EUA), na última terça-feira (22), o gerente geral de dados e inteligência artificial da IBM, Rob Thomas, afirmou que a construção de equipes com profissionais qualificados para mexer com IA é um dos maiores desafios para a expansão da tecnologia nas companhias. Segundo ele, essa dificuldade não é exclusiva de um país, mas sim uma preocupação global.
No Brasil, a situação é bem semelhante a qual Thomas descreve. A demanda é alta dentro do País por profissionais qualificados para mexer com dados e realizar projetos de inteligência artificial. Segundo dados do relatório “Inteligência e Formação” da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o setor de tecnologia necessitará, até 2024, de 70 mil profissionais ao ano.
Ao mesmo tempo, as instituições educacionais não estão conseguindo acompanhar o ritmo. De acordo com a Brasscom, o Brasil tem 46 mil profissionais formados dentro do setor de tecnologia ao ano. Na área de ciência de dados, por exemplo, há apenas oito cursos dentro da grade curricular das universidades, segundo o Ministério da Educação (MEC). Cinco dessas formações ainda não iniciaram suas aulas.
Para o diretor de dados e inteligência artificial da IBM para a América Latina, Leonardo González, a educação é uma das chaves para estimular o uso de IA nas empresas. “A base de tudo está no ensino”, afirma o executivo ao Terra. “Temos que treinar essas capacidades que hoje são deficitárias em nossa sociedade.” Segundo ele, é necessário que os novos profissionais não só tenham conhecimento prático, mas também teórico na área.
As instituições educacionais na América Latina - principalmente no Brasil e no México -, na visão de González, já começaram a olhar para a necessidade de um ensino mais teórico no setor de tecnologia. “Nenhuma universidade vai criar um curso de graduação se não houver demanda do mercado”, diz. “Muitos estudantes já têm aprendido na Academia as teorias de inteligência artificial e aprendizado de máquina.”
Na mesma linha de pensamento, o vice-presidente global de dados e inteligência artificial da IBM, Daniel Hernandez, também acredita que a capacitação de profissionais dentro da área de tecnologia é importante para o desenvolvimento de novas soluções. “Às vezes, o maior problema dentro das empresas nem é de tecnologia”, afirma o executivo ao Terra. “A dificuldade pode ser de ter equipes qualificadas ou uma cultura organizacional muito rígida.”
Apesar de entender a capacitação como um desafio para as grandes empresas, Hernandez crê que o ensino dentro do setor precisa ter um olhar mais plural. “Uma questão bem desafiadora é que cursos muitas vezes apenas ensinam o aluno a mexer em uma única plataforma de IA ou de Big Data”, diz. Dessa forma, segundo ele, o profissional tem um aprendizado em como mexer em ferramentas e softwares de poucas empresas e não adquire um conhecimento teórico mais generalizado.
*O repórter viajou para Miami a convite da IBM