Hyperloop dá ultimato a governo de MG e deve sair do Estado
Empresa que desenvolve tecnologia para transporte de alta velocidade espera, há mais de um ano, aporte para iniciar atividades em Contagem
O namoro da HyperloopTT com o Brasil parecia promissor, mas, ao que tudo indica, não deve subir a serra, pelo menos por enquanto. A empresa desenvolve tecnologia para um transporte de alta velocidade, movido com ajuda de magnetismo numa espécie de tubo despressurizado, para permitir o menor atrito possível com o ar. A tecnologia foi idealizada por Elon Musk.
A empresa - que não tem Musk como sócio - havia anunciado em abril de 2018 que abriria um centro de pesquisa e desenvolvimento em Contagem (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte. A prefeitura da cidade chegou a disponibilizar um imóvel para que a empresa se instalasse, um galpão de uma antiga indústria no bairro Cidade Industrial, recém-reformado.
Passado mais de um ano, porém, as atividades da Hyperloop em Contagem nunca foram iniciadas.
Ficaria a cargo do estado de Minas Gerais um aporte de R$ 13 milhões, via Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais). Esse valor representaria metade do custo total da instalação do centro de pesquisa e desenvolvimento.
De acordo com Rodrigo Sá, diretor global de desenvolvimento e negócios, o governo de Minas chegou a firmar a parceria com a HyperloopTT -- assinou um memorando de entendimento --, mas a oficialização jamais aconteceu, nem na gestão Pimentel (PT), nem na gestão Zema (Novo).
A empresa, então, deu um ultimato: caso as conversas com o governo não avancem até o fim do mês de abril, a Hyperloop devolverá o galpão ao município de Contagem.
Numa escala de zero a dez, no que se refere às chances da Hyperloop sair de Contagem, Rodrigo Sá responde: "oito". "Daí iniciamos a avaliação se permanecemos no Brasil ou não", diz.
Entre os potenciais novos locais que poderiam receber o centro de pesquisa e desenvolvimento, figuram outros estados brasileiros, com destaque para São Paulo, além de países como Austrália, China e Índia.
Sá diz que havia planejado tocar cinco projetos de pesquisa em logística a serem desenvolvidos na cidade mineira. Cinco meses após o anúncio da vinda da Hyperloop a Contagem e sem vislumbrar uma avanço na concretização da parceria, o diretor de negócios diz que teve que transferir os projetos para o centro de pesquisa da empresa em Toulouse, na França.
"A gente já investiu muito tempo e recurso em Minas, mas não podemos esperar muito mais. Não temos nenhuma intenção de sair, mas precisamos tomar uma decisão. Infelizmente -- ou felizmente -- a empresa precisa continuar suas atividades, entendendo perfeitamente as necessidades e o momento pelo qual o governo [de MG] está passando", diz Ricardo Penzin, que coordena as operação brasileira da Hyperloop.
"As chances de a Hyperloop sair de Contagem estão nas mãos do governo", diz Penzin. "A prefeitura de Contagem atendeu a todos as nossas demandas e agora falta a parte do governo do Estado, o que efetivamente garantiria a operacionalização do centro de pesquisa e desenvolvimento em logística no Brasil."
O governo de Minas coloca parte da culpa do atraso na própria Hyperloop. De acordo com a Sedectes (Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), foi exigida da Hyperloop a apresentação do projeto e de um plano de trabalho para análise, "assim como qualquer projeto apoiado pela Fapemig".
"A análise dos documentos realizada por consultores técnico-científicos e pela Procuradoria do Estado apontou a necessidade de ajustes, os quais foram solicitados pela Fapemig à Hyperloop. Porém, sem nenhum retorno desde então. Vale ressaltar que a Hyperloop não apresentou contrapartida consistente para o projeto de investimento no Estado", informou a Sedectes ao Terra.
"Tivemos muita dificuldade na hora da abertura da empresa em Minas. Demoramos quatro meses só pra conseguir abrir a empresa -- o que é uma exigência da Fapemig", diz Penzin, da Hyperloop. "No final de 2018, a gente teve uma mudança de formato em função da capacidade financeira que a Fapemig tem pra fazer o investimento."
"Pode ser que a gente tenha falhado em se comunicar da forma correta", diz o diretor da operação brasileira da HyperloopTT. "Eu diria que nos próximos 15 nós teremos uma decisão final -- talvez até antes. Espero que seja positiva".
Em Contagem, a HyperloopTT faria faria parte de um "centro de startups", segundo Saint Clair Schmiett, secretário de Desenvolvimento econômico do município. A empresa funcionaria como uma âncora para reavivar e atrair mais empresas inovadoras para a região do bairro Cidade Industrial, que, passa por um já longo processo de desindustrialização. O estado de Minas Gerais declarou calamidade financeira em 2016.
HyperloopTT no Brasil
Segundo Penzin, não existe nenhum projeto de construção ou implementação do sistema de transporte Hyperloop. O projeto da empresa no Brasil se restringe a pesquisa e desenvolvimento.
O primeiro teste do transporte futurista em pistas reais está planejado para acontecer ainda este ano em Toulouse. Já a primeira linha comercial é planejada para ser construída em Abu Dhabi.