Neon compra startup de crédito consignado ConsigaMais+ e abre nova frente
Nova aquisição, coloca a fintech em segmento que vive retomada, e avança seus planos de mirar em clientes da classe média
A fintech brasileira Neon deu mais um passo em sua estratégia de se tornar um banco digital voltado para a classe média. A empresa anuncia nesta quinta-feira, 19, a compra da startup ConsigaMais+, especializada em crédito consignado privado. Terceira aquisição na história da Neon, o negócio com a ConsigaMais+ é o primeiro depois do aporte de US$ 300 milhões recebido pela fintech em setembro - o valor da operação não foi revelado.
"Enxergamos o segmento como uma grande oportunidade de mercado: é uma das modalidades de crédito mais baratas do Brasil, mas ainda representa uma fatia muito pequena do mercado", diz ao Estadão Rafael Matos, diretor de desenvolvimento de negócios da Neon. "A Neon quer ser o banco do brasileiro médio, de classe média, e a combinação de banco digital com oferta de crédito consignado é bem poderosa", avalia.
Os outros movimentos da fintech já indicavam o aceno para a classe C. Em setembro do ano passado, ela adquiriu a MEI Fácil, o que permitiu lançar no último mês de outubro contas para microempreendedores. Em julho, a Neon comprou corretora mais antiga da Bolsa, a Magliano, mirando a oferta de investimentos para a classe média.
Fundada em 2018 por ex-executivos de Citibank e Osher Investimentos, a ConsigaMais+ tem uma rede de 430 mil clientes à sua disposição, a partir das empresas conveniadas. O time de cerca de 100 funcionários será absorvido pela Neon, mas a startup continuará operando de maneira independente dentro da estrutura da fintech -com o negócio, os sócios da ConsigaMais+ passam a integrar o quadro executivo e a lista de sócios da Neon.
A empresa estuda ainda como será integração da marca junto aos produtos da Neon, um processo que Matos acredita que será mais veloz que o da absorção da MEI Fácil. Demorou mais de um ano o período entre a compra da MEI Fácil e a disponibilização do produto para os clientes.
Retomada
"Faz sentido para o Neon esse tipo de aquisição, que é bastante complementar ao produto bancário que ele já tem", avalia Felipe Matos, autor do livro 10 Mil Startups e presidente eleito da Associação Brasileira de Startups. "Resta, porém, entender como o consignado privado vai funcionar com uma base tão pulverizada como a da Neon, já que para ocorrer o desconto direto na folha de pagamento, a instituição financeira precisa de um acordo com a empresa empregadora".
Além da dificuldade para ofertar o produto, fontes do mercado ouvidas pela reportagem avaliam que a Neon terá outros desafios importantes. Um deles é o fato de que, para quem concede o consignado privado, a garantia do retorno é a saúde das companhias que empregam os tomadores dos empréstimos - se a empresa quebra, há prejuízo em vários contratos ao mesmo tempo. Segundo o IBGE, foram fechadas 382,5 mil empresas no Brasil entre 2014 e 2018. É um número que pode ter subido nos últimos meses, considerando o impacto da pandemia do novo coronavírus.
No contexto de anos recentes, diferentes instituições financeiras tiveram prejuízos, o que freou o avanço da categoria no País. Uma retomada começa a ser ensaiada agora por meio de startups e fintechs e o negócio deve colocar a Neon como ponta de lança do movimento, juntamente de nomes como Creditas e Banco Inter.
É possível, porém, que a Neon consiga utilizar a ConsigaMais+ de outras maneiras. "É possível imaginar que o Neon possa usar outras competências e ativos da ConsigaMais+, como sistemas de análise de crédito, para oferecer outros produtos de crédito", diz Felipe Matos.