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Omie levanta R$ 580 mi com SoftBank e quer ser o 'internet banking' para empresas

A startup, dona de uma plataforma de gestão empresarial, pretende usar o capital para investir na combinação de serviços financeiros com tarefas de rotina, como emissão de notas fiscais e controle de fluxo de caixa

4 ago 2021 - 10h01
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Depois de nomes como Nubank e Neon digitalizarem o bolso de brasileiros nos últimos anos, as finanças de empresas (principalmente de pequeno e médio porte) têm se tornado uma nova fronteira para os bancos digitais - e também para outras startups que agora querem se "fintechzar". Pegando carona nesse movimento, a Omie anuncia nesta terça-feira, 3, um aporte de R$ 580 milhões liderado pelo grupo japonês SoftBank. A startup, dona de uma plataforma de gestão empresarial, pretende usar o capital para investir na combinação de serviços financeiros com tarefas de rotina, como emissão de notas fiscais e controle de fluxo de caixa. A ideia é incluir um "internet banking" dentro do dia a dia das companhias.

A rodada também teve participação da gestora americana Riverwood Capital, que já investia na Omie, e de investidores como Dynamo, VELT, Bogari Capital, Hix Capital e Brasil Capital - o valor de mercado da startup após o aporte não foi revelado. Até então, a empresa, fundada em São Paulo, havia recebido R$ 105 milhões em investimentos.

Fundada em 2013, a Omie ganhou mercado oferecendo sua plataforma de gestão empresarial em nuvem (ou ERP, na sigla em inglês) para facilitar a administração de pequenos negócios. Para restaurantes, por exemplo, o software da startup oferece integração de compras e estoques para reposição de produtos e ajuda a manter os impostos dos itens em dia. Em lojas de atacado e varejo, o sistema também realiza o monitoramento em tempo real das vendas. A Omie tem como nicho principal de atuação a contabilidade: os contadores funcionam como ponte, indicando a plataforma para seus clientes. O serviço custa cerca de R$ 55 mensais para empresas do tipo microempreendedor individual (MEI) - ao todo, a startup já soma hoje 70 mil clientes.

"Queremos mostrar às empresas que não é normal ter funcionários presos em burocracias só para emitir nota fiscal, lançar boleto e fazer planilha de cobrança. É possível fazer isso com um software com muito menos chance de erros", afirma Marcelo Lombardo, fundador e presidente executivo da Omie, em entrevista ao Estadão.

O sistema da Omie usa a estrutura de nuvem da Amazon e inclui uma camada de tecnologias desenvolvidas pela própria startup. Um dos diferenciais tecnológicos, segundo Lombardo, é o uso de inteligência artificial (IA) para gestão. "Se existem várias opções de classificação fiscal e de possibilidades de impostos para determinada transação, usamos a IA para determinar o melhor cenário fiscal e as alíquotas e incidências corretas para aquela transação", explica.

Com os novos recursos, o plano da Omie é fortalecer a parte de serviços financeiros da plataforma, unindo burocracias e atividades bancárias em um lugar só - assim, um lojista poderia, por exemplo, conferir seu fluxo de caixa, realizar um TED e registrar a transferência sem migrar de tela.

Parte disso a Omie pretende executar com produtos próprios, oferecendo aos clientes conta-corrente, antecipação de recebíveis e crédito - a empresa espera receber autorização para atuar como agente financeiro até o final do ano. Contudo, o trabalho será principalmente de conexão: para respeitar clientes que tenham contas em diferentes bancos, a Omie pretende facilitar a interligação da plataforma com o resto do sistema financeiro brasileiro. Em junho, a startup firmou uma parceria com o Itaú para oferecer sua plataforma de gestão para as PMEs clientes do banco e diz estar aberta a mais acordos do tipo.

"Por estarmos dentro da vida das empresas, conseguimos ter uma visão segmentada, de necessidades diferentes de produto para cada setor", afirma o presidente executivo da Omie.

É um movimento de "fintechzação" que ganhou impulso com o "open banking", afirma Diego Perez, presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). "Só é possível uma plataforma de contabilidade oferecer esses serviços financeiros por conta do open banking, que vai permitir que entidades não financeiras se pluguem a produtos dos bancos", explica Perez, em referência à nova fase de implementação do serviço do Banco Central, com expectativa de ter início ainda neste mês.

A atenção para arranjos de gestão e finanças não é nova. Em 2019, por exemplo, a Neon comprou a startup MEI Fácil, que ajuda microempreendedores individuais a obter um CNPJ, emitir nota fiscal, pagar guias de impostos, entre outros serviços. Outras fintechs, como a Linker, também têm apostado em contas digitais para empresas conectadas a sistemas de contabilidade. "A tendência é que cada vez mais as fintechs se especializem em grupos específicos", diz o presidente da associação.

Para Perez, na disputa pelas finanças das PMEs, a Omie tem o trunfo de já acompanhar de perto há anos a rotina das empresas. Porém, do outro lado, bancos digitais têm a seu favor a experiência com serviços financeiros digitais e a escala conquistada nos últimos anos.

Turbulência

Apesar do novo cheque, o último ano não foi fácil para a Omie. No começo da pandemia, em abril, a startup chegou a demitir 136 funcionários de sua equipe, que tinha 439 pessoas. Isso porque seus clientes sofreram com a crise: as pequenas empresas estavam lutando para se manterem de portas abertas, e não tinham tempo nem dinheiro para investir em plataformas de gestão.

A receita da Omie caiu 2,3% no período - a empresa teve de renegociar meses de gratuidade com os clientes. Para se recuperar, a startup mudou o modelo de negócio e começou a olhar para empresas de médio e grande porte, um público que já chegava organicamente à companhia desde 2019. As empresas que faturam mais de R$ 10 milhões ao ano, cerca de 14% da receita recorrente da Omie em fevereiro de 2020, agora representam 30%. A startup voltou a contratar e soma agora 950 pessoas - a expectativa é chegar ao final do ano com 1,5 mil.

Para Eric Barreto, professor de contabilidade do Insper, a pandemia, depois dos primeiros meses de incerteza, forçou a digitalização de diversas companhias, bem como o nascimento de micro e pequenas empresas. "O confinamento forçou muita gente a trabalhar remotamente, então tem uma tendência de mais pessoas no empreendedorismo", explica, citando que a demanda foi crescendo para startups como a Omie. "E aí você vai atrás desse serviço de contabilidade digital."

Força da contabilidade

O aporte da Omie atesta o vigor do segmento de startups de contabilidade. No estudo da empresa de inovação Distrito que reúne candidatos brasileiros ao título unicórnio (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão), dois nomes do setor aparecem como destaques para 2021: Conta Azul e Contabilizei.

Fundada em 2011, a startup catarinense Conta Azul tem um modelo semelhante ao da Omie: ela oferece uma plataforma de gestão empresarial para micro e pequenas empresas, bem como soluções em nuvem para que as companhias de contabilidade possam atender seus clientes. Os preços partem de R$ 130 mensais, a depender dos planos escolhidos, que variam conforme o tamanho do cliente.

Assim como a concorrente, a startup também sofreu um baque na pandemia, decidiu enxugar as operações e afirma ter demitido 40% dos funcionários da companhia. Porém, otimista com as perspectivas econômicas futuras, já observa sinais de recuperação: o faturamento superou os níveis pré-pandemia. "Quando uma empresa passa por um período de crise, entender o 'pulmão financeiro' do negócio é fundamental para saber quanto haverá em caixa nos próximos meses", explica o diretor da Conta Azul, Gabriel Manes.

A Contabilizei, por sua vez, não oferece apenas o software: a startup de Curitiba funciona como uma espécie de "escritório de contabilidade digital" e tem uma equipe de aproximadamente 100 contadores - a mensalidade do serviços custa a partir de R$ 96.

"As ferramentas digitais podem ser grandes aliadas do contador. Elas conseguem transformá-lo em uma peça de maior valor, com trabalho menos braçal e mais analítico", afirma Eric Barreto, do Insper.

Estadão
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