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Startup brasileira Olivia vai ao Vale do Silício para 'acertar suas contas'

Com inteligência artificial, robô Olivia busca ajudar usuário a economizar; nos EUA, sistema já tem 450 mil usuários

30 jan 2019 - 05h10
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Geralmente, uma startup nasce de um problema a ser resolvido. Para ter a inspiração que resultou na criação do sistema de inteligência artificial Olivia, o mineiro Cristiano Oliveira foi longe. Depois de vender um negócio de software para o banco Goldman Sachs e a SAP, em 2012, o empreendedor achou que fosse uma boa ideia viver no inóspito Alasca. A meta acabou se revelando "uma fria", mas foi lá que o mineiro teve o momento "eureca" que todo o empreendedor sempre busca.

A inspiração de Oliveira veio de um primo caminhoneiro que vive nos EUA. Ele recebia por hora e vivia com medo de não conseguir esticar o ordenado até o pagamento da semana seguinte. A tese não era nova: as pessoas precisam de ajuda para organizar as contas. Por isso, o empreendedor decidiu criar algo que não só mostrasse o caminho correto para o equilíbrio financeiro. Era preciso pegar o usuário pela mão e levá-lo até lá, com a ajuda de uma ferramenta de inteligência artificial, a Olivia.

Para levar o projeto adiante, Oliveira, hoje com 44 anos, se uniu a Lucas Moraes, de 28 anos, membro da quarta geração da família Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim - e ex-piloto profissional de motocross. Em 2015, eles começaram a desenvolver a Olivia - que consumiu até agora um investimento de cerca de US$ 5 milhões. Lançada há um ano e meio nos EUA, a plataforma já tem mais de 450 mil usuários. Agora, é a vez da assistente pessoal chegar ao Brasil. Em fevereiro, a dupla começa a testar a Olivia por aqui.

Quando está em funcionamento, o app se torna parte do planejamento financeiro das pessoas. Para isso, pede "licença" para ter acesso aos dados de conta bancária e cartão de crédito do usuário. Assim, consegue entender um padrão de ganhos e gastos. Na sequência, por meio de um chat (que pode até incluir GIFs e piadinhas), a ferramenta faz perguntas e dá sugestões, informando o usuário sobre sua situação financeira e incentivando-o a economizar pelo menos uma pequena fatia de sua renda - dando dicas sobre as compras do mês, as refeições fora de casa e até em tarifas bancárias.

Os empreendedores dizem que a chegada de Olivia ao Brasil reflete o conhecimento do mercado local de ambos e também a necessidade do brasileiro de organizar as finanças, especialmente em tempos pós-crise. Moraes vê oportunidades no País para o app, uma vez que as pessoas acabaram de passar por dificuldades financeiras.

Para Guilherme Horn, líder de inovação da Accenture, a dupla terá um desafio para convencer o brasileiro de que ele precisa da Olivia. "O americano está acostumado a ter um planejador financeiro - e pagar por isso. Trocar esse produto por algo digital é natural", avalia o especialista. "É bem mais difícil criar uma necessidade que o usuário não vê."

Pesquisa. Nos EUA, a Olivia já é capaz de fazer pesquisas de preços em supermercados nas regiões próximas ao usuário e propor a ele um novo padrão. "Com base na lista de compras, ela consegue dizer se a pessoa deve ir a outro estabelecimento ou mudar o dia de ir ao mercado para aproveitar melhor as ofertas", explica Oliveira.

Para que a Olivia não vire um estorvo na vida das pessoas, Moraes explica que o app vai se limitar a três interações diárias - só vai exceder esse limite caso o cliente inicie um diálogo ou faça uma pergunta. Todo dia, porém, o usuário receberá pela manhã uma notificação. Nela, o app avisará quanto a pessoa tem na conta e o quanto pode gastar, ao longo daquele dia, para se manter no azul até o próximo pagamento.

Segundo Michael Viriato, professor de Finanças do Insper, uma das chaves para o sucesso da Olivia é a interação com o usuário. "Todo mundo sabe que economizar é importante, mas ninguém quer alguém mandando na sua vida", avalia. "Se o app incomodar o usuário, ele desliga as notificações e acabou a utilidade."

Pagamento. À medida que a Olivia desenvolver parcerias - que podem ser feitas com redes de varejo de diversos tipos, restaurantes e até mesmo bancos, que poderão ofertar empréstimos e investimentos pelo app -, a ferramenta começa a se dirigir rumo à "monetização". Ou seja: deixará de ser uma solução curiosa para se tornar um negócio rentável. Nos EUA, os primeiros acordos já estão em andamento.

Moraes e Oliveira explicam que a intenção é não fazer a cobrança diretamente do usuário. A estratégia envolve oferecer a ele uma vantagem - como um desconto de 10% para uma determinada rede de fast-food, por exemplo. Nesse momento, a Olivia vai propor ao cliente que divida com ela a vantagem, dando-lhe uma "comissão" de 25%. Se conseguir um desconto de 10% - ou R$ 10 - numa conta de R$ 100, por exemplo, o usuário vai repassar R$ 2,50 para o app.

Na visão de Horn, é um modelo que gera dúvidas - afinal, quantas parcerias precisará ter a Olivia para faturar o suficiente, considerando a escala do negócio e a equipe envolvida? Hoje, são 25 pessoas divididas entre São Paulo e Califórnia, com 80% delas programando a assistente. Mas o especialista é enfático no potencial da ferramenta. "A interação com assistentes pessoais é algo que veio para ficar e crescerá exponencialmente. Quanto mais se usa, mais ela aprende."

Estadão
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