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Startup que financia celular chega ao País até o fim do ano

Fundada por ex-Google, PayJoy tem sistema que bloqueia acesso a aplicativos em dispositivo caso cliente não pague prestação

7 ago 2019 - 05h10
(atualizado às 09h19)
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Para muitos brasileiros, o celular é um sonho de consumo - embora nem sempre seja fácil comprá-lo em longas prestações. Além disso, um smartphone de último tipo pode ser o bem mais valioso que muita gente possui - por que não, então, utilizá-lo como garantia para realizar um empréstimo pessoal? São essas duas hipóteses que fazem a startup americana PayJoy, uma das empresas que receberam do fundo brasileiro Mindset Ventures, apostar suas fichas no mercado local. "Vamos começar a operar no País até o final do ano", diz ao Estado Mauricio Cordero, gerente-geral da empresa na América Latina.

Fundada há quatro anos no Vale do Silício, por Doug Ricket, um ex-funcionário do Google Maps, a PayJoy já atua em países como México, Índia e Indonésia. Nesses locais, onde o comércio não funciona com o sistema de parcelamento, a empresa ajuda consumidores de baixa renda a obter crédito para financiar um smartphone - o preço médio de um aparelho comprado pelos usuários da startup costuma girar em torno de US$ 200.

Fundada por Doug Ricket (centro), um ex-funcionário do Google Maps, PayJoy deve iniciar operações no Brasil 
Fundada por Doug Ricket (centro), um ex-funcionário do Google Maps, PayJoy deve iniciar operações no Brasil
Foto: PayJoy/Divulgação / Estadão Conteúdo

Todo celular comprado com auxílio da startup, porém, leva consigo o aplicativo da empresa. Caso o consumidor não pague a parcela daquele mês, o uso de aplicativos no smartphone fica bloqueado até a dívida ser resolvida - a única funcionalidade disponível é a de ligações de emergência.

Além disso, a empresa atua com uma segunda modalidade de serviços: depois que o smartphone é quitado, ele pode servir como garantia para pequenos empréstimos. Para isso, basta o usuário instalar o app da PayJoy, que avaliará o aparelho e suas condições.

Após a cotação, o sistema da startup fará uma oferta para o usuário, que poderá concordar com os termos e, munido de um código QR oferecido pela plataforma, sacar o dinheiro em qualquer caixa eletrônico. Segundo Cordero, hoje a empresa transaciona cerca de 25 mil celulares por mês no México, em volumes de capital que giram em torno dos US$ 2,5 milhões. Na visão do executivo, os valores no Brasil podem ser "bem maiores", pelo tamanho do mercado local.

"Com o nosso sistema, podemos prover acesso a crédito para pessoas desbancarizadas em países emergentes", explica o executivo. No Brasil, a startup começou a contratar um time de executivos para rodar o negócio. Ao contrário do que acontece no México, onde a empresa gerencia os empréstimos e faz a cobrança, por aqui a PayJoy pretende oferecer seu aplicativo como solução para parceiros interessados em fazer financiamento e oferecer crédito.

Na segunda quinzena de julho, Cordero teve reuniões com varejistas, bancos e operadoras que podem implantar o sistema por aqui - boa parte dos encontros foi organizado pelo Mindset, que tem a missão de fazer a ponte das startups em que investe com o mercado nacional. De acordo com o executivo, seu sistema pode ajudar a reduzir taxas de inadimplência no varejo, bem como baratear o acesso ao crédito.

Questionado pelo Estado sobre a legalidade de seu sistema face à legislação local, especialmente no que diz respeito ao direito do consumidor, Cordero disse que se consultou com advogados locais e entendeu especificidades do sistema. Segundo ele, os aparelhos comprados pelo sistema da PayJoy não necessariamente poderão ser utilizados para fins de trabalho - uma vez que a empresa não poderia bloquear seu uso se assim forem usados.

"Estamos estudando como viabilizar isso ainda e como podemos abrir exceções para aplicativos usados no mercado de trabalho, como Rappi, Uber ou iFood", diz. Ele ressalta ainda que o sistema é bem avaliado pelos consumidores - no México, recebeu nota 8 de 10 dos usuários. "Muita gente acha que é problemático trancar o telefone, mas na realidade os consumidores estão felizes por terem crédito."

Para Diogo Moyses, coordenador do programa de telecomunicações do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o bloqueio de aplicativos ou do celular pode ser uma prática considerada abusiva. "Pode ser uma vantagem manifestamente excessiva em desfavor do consumidor", afirma, "é preciso, portanto, garantir o direito à informação clara e adequada, antecedente ao momento da contratação".

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