Startup Sami ganha supervisão do Google para turbinar serviços de saúde com inteligência artificial
Objetivo é reduzir burocracia para médicos e dar mais agilidade para pacientes
Uma das grandes apostas para o futuro da inteligência artificial (IA) é a transformação de serviços de saúde. Apostando nesse potencial, a startup brasileira de planos de saúde corporativos Sami decidiu juntar forças com um gigante da IA: o Google. Desde o último mês de agosto, a startup está sendo supervisionada pela empresa americana para acelerar aplicações da tecnologia. A expectativa é que isso possa resultar em atendimentos mais ágeis pela plataforma da Sami.
A mentoria começou após um contato inicial em junho e deve terminar em março do próximo ano. Ao final do processo, a Sami espera que algoritmos de IA estejam integrados ao negócio da empresa, cujos planos de saúde são focados em microeemprendedores e pequenas e médias empresas.
"A parceria do Google foi muito importante nessa discussão de inteligência artificial, porque pode catapultar o nosso negócio para trazer mais acesso de saúde para as pessoas no nosso País", conta o presidente executivo Guilherme Berardo, que cofundou a Sami junto do médico Vitor Asseituno em 2018.
Da parte do Google, essa mentoria acontece para impulsionar em seus clientes o serviço de nuvem da companhia, um dos principais braços do negócio da gigante de buscas. O trabalho consiste em colocar à disposição dessas companhias uma série de especialistas em diversas áreas, incluindo inteligência artificial, com intuito de promover a inovação nos negócios.
Berardo conta que o Google vem disponibilizando "muitas, muitas horas-homem" de consultoria à Sami. Isso inclui, por exemplo, desenvolvedores das duas empresas trabalhando juntos em soluções para a startup: "Eles estão alocando muito capital humano com a gente e isso é uma experiência maravilhosa para o nosso time de tecnologia", conta. "O desafio é como a gente vai transmitir esse conhecimento para dentro da companhia para que a gente possa escalar dentro da organização inteira."
Já para a Sami, além do aprendizado envolvido, o "intensivão de IA" vai contribuir para aumentar a eficiência na startup. A principal meta da empresa, hoje, é utilizar o conhecimento adquirido do Google para a eliminação de atividades burocráticas e administrativas dos profissionais de saúde que atuam na plataforma digital da empresa, com expectativa de redução de 25% no volume de tarefas.
Além disso, deve haver diminuição de 50% do tempo médio de atendimento do time de saúde da Sami. Isso vai permitir agendamentos mais rápidos na plataforma, dar início a tratamentos e, no futuro, realização de diagnósticos, diz a Sami.
"O membro do plano vai ser atendido com mais velocidade, qualidade e padronização, mas com um contato mais aprofundado com o time de saúde", explica Berardo. "Com a redução do tempo de atendimento podemos trazer equidade no cuidado, que, em diversos casos, significa dar prioridade para situações emergenciais e dar ao usuário o tratamento que ele precisa, quando precisa."
Para o professor Alexandre Chiavegatto, especialista em inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), reduzir burocracias é um dos grandes impactos da IA no mercado de saúde. "Isso se torna um péssimo aproveitamento do profissional de saúde. Se reduzir essas tarefas, sobra mais tempo para as áreas em que ele pode causar impacto", explica ele. "É um tempo muito mal-aproveitado hoje, porque a ferramenta pode melhorar a eficiência administrativa do sistema."
IA generativa e engenheiros de prompt
A Sami vai utilizar a ferramenta Vertex AI, lançada pelo Google para empresas utilizarem inteligência artificial generativa (mesma tecnologia aplicada ao ChatGPT e a geradores de imagem). O objetivo da startup é fazer um sumário e análise dos dados e históricos de cada paciente (como consultas e agendamentos) e sugerir ações seguintes ao profissional de saúde.
Com isso, o CEO explica que a Sami possui desenvolvedores próprios treinados em "engenharia de prompt", nova atividade que surgiu com a ascensão da inteligência artificial generativa. Nesse tipo de trabalho, o programador deve saber como comandar a IA, ajustando as respostas e perguntas até que saiam com a precisão desejada, com o menor número possível de erros. Por conta da novidade, tem sido raro encontrar esses profissionais no mercado, cada vez mais demandados. "Hoje, a gente já tem um time que aprendeu a fazer engenharia de prompt, que é essa nova profissão que apareceu aí nos últimos 12 meses. Enquanto isso, todo mundo procura um prompt engineer".
Por fim, esse processo incentiva o open health, nome dado ao processo de dados abertos entre pacientes, hospitais e seguradoras, o que permite a troca de informações para agilizar processos e até a formulação de preços mais precisos em consultas e planos. Esse conceito é inspirado no open finance, em vigor desde 2022 após regulamentação do Banco Central com as instituições financeiras.
"No futuro, quem sabe isso tudo possa fomentar estudos de saúde mundiais com informações sobre doenças e tratamentos na área da saúde", aponta Berardo.
A Sami faz parte do grupo das "health techs" — no jargão do mercado de startups, trata-se das empresas de tecnologia da área da saúde. Catapultado pela digitalização forçada pela pandemia, esse grupo levantou aportes milionários de investidores nos últimos anos. A Sami, por exemplo, levantou R$ 111 milhões em 2021 e outros R$ 90 milhões neste ano. Em 2022, demitiu 15% do quadro de funcionários (75 pessoas), afirmando, à época, que era para "garantir a sustentabilidade do negócio".