Startups elegem os influenciadores digitais como principais clientes
As chamadas 'influtechs' prestam serviços que vão desde o gerenciamento de redes até software de métricas
Virar influenciador digital é um caminho que parece tentador para muita gente. Para dar um empurrão na busca do "conteúdo de milhões", startups têm olhado para influenciadores como clientes, oferecendo serviços que possam ajudar na profissionalização.
A ideia de investir no segmento não é nova e tem até nome lá fora: a creators economy (economia dos criadores, em tradução literal) já movimenta cerca de US$ 1,3 bilhão em todo o mundo, segundo a plataforma de análise CB Insights. Nos EUA, somente no ano passado, o investimento no setor foi de mais de US$ 2 bilhões com, pelo menos, 50 startups voltadas para serviços para criadores de conteúdo, segundo o site americano The Information.
É um cenário que começa a se desenvolver por aqui também, com startups como a DeliRec. Fundada por Claudio Gandelman, ela oferece uma plataforma para compartilhar receitas culinárias, sempre vinculadas com produtos a serem vendidos — se a receita publicada é de um brigadeiro de panela, por exemplo, a panela estará à venda na página do conteúdo da receita —, e os criadores ficam com 40% do valor.
"Muitas pessoas pretendem ganhar dinheiro com criação de conteúdo, mas é muito difícil. A gente quer ser a plataforma que vai ajudar essas pessoas", afirma Gandelman ao Estadão.
Entregar um produto em que os criadores possam fidelizar uma parcela de seus seguidores é a chave da monetização, afirma Daniel Chalfon, sócio do fundo de investimentos Astella. Segundo ele, a conversão de seguidores em assinantes é um dos passos mais importantes na hora de passar do hobby para o trabalho sério.
"É importante que os criadores estejam abertos a essas plataformas e entenderem que essa nova onda de startups está sendo construídas para evitar perdas", explica Chalfon.
No radar
Com a profissionalização, os influenciadores começam a sentir necessidade de diferentes diversos serviços. Segundo Felipe Oliva, presidente e cofundador da Squid, empresa de tecnologia especializada em marketing de influência comprada pela Locaweb em outubro de 2021 por R$ 176,5 milhões, o surgimento de startups que lidam com burocracia financeira e de contratos são boas apostas para o futuro.
"A profissionalização torna o influenciador em uma pequena empresa. Ele tem responsabilidades contábeis e jurídicas. Muitas vezes emitem nota fiscal. Às vezes o criador de conteúdo precisa de ajuda nesse processo", diz Oliva.
Um desses nomes é a Spark, startup que oferece software de gerenciamento e métricas para influenciadores. A empresa atua tanto no fornecimento de sistemas que podem medir engajamento quanto na conexão de criadores de conteúdo com marcas.
O caixa da empresa, fundada por Raphael Pinho, é prova de que as coisas andam bem para o setor. Em 2021, a companhia cresceu o faturamento em 62% em relação ao ano anterior. O quadro de funcionários viu uma grande alta entre início de 2021 e março de 2022, passando de 50 para 200 funcionários.
"Por trás do criador, existe apoio em diversas frentes. A área tem se profissionalizado e o reconhecimento disso gera mais receita para todo mundo", afirma Pinho.
Embora muito importantes, as métricas não são as únicas ferramentas que um influenciador precisa. O gerenciamento de plataformas também é um serviço necessário para manter a proximidade com os seguidores — quanto mais um perfil cresce, mais desafiadora se torna a tarefa.
Nessa frente, empresas como a Lastlink, que cuidam de redes como WhatsApp e Telegram, têm surgido como alternativa para a administração de grupos nos mensageiros. No ano passado, a startup recebeu um aporte de US$ 1,4 milhão, liderado pela Canary.
"O criador de conteúdo é uma pessoa essencialmente criativa, mas, para fazer disso uma carreira, é preciso aprender contabilidade, um pouco de Direito e de vendas. Existem vários problemas que startups podem resolver, permitindo que os criadores de conteúdo fiquem focados no que são bons", explica Oliva.
Grana
Mesmo com a presença de ferramentas de monetização nas principais redes sociais, fintechs também estão de olho no segmento. "A primeira 'caixinha' que os criadores de conteúdo começaram a usar foram os serviços de edição de áudio e vídeo. Agora, já tem startups que começam a olhar para meios de pagamento, que é o que mais está amadurecendo no Brasil. São ferramentas que ajudam o criador a monetizar o conteúdo", explica Oliva.
A ChatPay, por exemplo, atua no pagamento para influenciadores a partir de grupos nas redes sociais. Em novembro de 2021, ela recebeu um aporte de R$ 30 milhões, liderado pela Kaszek e Y Combinator. O objetivo era expandir seus produtos no segmento.
Já a DeliRec, que já registra a entrada de 50 mil novos usuários por mês, planeja preencher cada vez mais lacunas entre a criação e a publicação de um conteúdo — para isso, quanto mais serviços puderem gerar dinheiro para os influenciadores, melhor.
"Esse é um mercado embrionário, que está se profissionalizando mais. Quanto mais conteúdo você gera, maior é a oportunidade de ganhar dinheiro", aponta Gandelman.