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Instituto Vero, de Felipe Neto, lança guia de privacidade na internet para jovens

Material traz os princípios básicos da proteção de dados pessoais e ensina a aumentar as proteções e a diminuir rastros na rede

15 abr 2021 - 17h01
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O youtuber e empresário Felipe Neto é cofundador do Instituto Vero
O youtuber e empresário Felipe Neto é cofundador do Instituto Vero
Foto: Felipe Neto/Divulgação / Estadão

O Instituto Vero, cofundado pelo youtuber e empresário Felipe Neto, lança nesta quinta-feira, 15, um guia de privacidade focado em adolescentes, com o intuito de levantar o debate sobre proteção de dados pessoais no País justamente entre a fatia da população que mais consome conteúdos na internet.

O guia do Instituto Vero traz princípios básicos relacionado à privacidade. Por exemplo, o material alerta o jovem de que o que é feito na web deixa rastros para as empresas e terceiros - e que não há anonimato na rede. Além disso, atenta para a existência de perfis falsos e robôs cada vez mais convincentes e para os perigos de se compartilhar conteúdo no ambiente online, em que é quase impossível "apagar" uma publicação depois que vai ao ar.

Outro aspecto levantado pelo Vero é como aumentar a proteção digital, trazendo dicas de ferramentas do próprio mundo online que diminuem os rastros, como o buscador anonimizado DuckDuckGo ou mensageiros mais seguros (como Signal), por exemplo.

"Quando falamos de mudança de uma comportamento tão profunda (na privacidade online), é imprescindível falar com os jovens porque são eles quem vão ficar na internet por mais tempo. É quem já tem contato com a tecnologia e consegue se adaptar mais rápido", afirma ao Estadão o advogado e diretor executivo do Instituto Vero, Caio Machado, com quem, ao lado de Neto, fundou em dezembro de 2020 a organização sem fins lucrativos.

O guia faz parte da frente educacional do Instituto Vero, que está prestes a lançar um curso de educação digital para ensinar o papel da tecnologia no cotidiano da sociedade. Ainda, atuando na produção de conhecimento, a entidade desenvolve uma pesquisa sobre desinformação nas redes e como as redes sociais são utilizadas para atacar jornalistas.

"Precisamos entender muito bem o que está acontecendo na internet, como campanhas de desinformação são orquestradas, como elas influenciam nas opiniões das pessoas e o que podemos fazer para mudar essa realidade", explica Felipe Neto ao Estadão em entrevista por e-mail. "E precisamos que a sociedade entenda melhor o papel da internet no nosso dia a dia, para poder se proteger, defender seus interesses nas discussões legislativas e perante as plataformas."

O guia de privacidade para adolescentes pode ser encontrado neste endereço.

Abaixo, leia trechos da entrevista com Caio Machado:

Por que falar de privacidade e proteção de dados para jovens?

Precisamos verdadeiramente de uma mudança cultural no Brasil. A gente acha que privacidade é só colocar senha no celular, quando na verdade na internet isso representa muito mais. Os rastros que vamos deixando pela internet são usados para muitos fins, desde crimes a até vender coisas. Quando falamos de uma mudança de comportamento tão profunda, é imprescindível falar com os jovens porque são eles quem vão ficar na internet por mais tempo. É quem já tem contato com a tecnologia e consegue se adaptar mais rápido. E tem outros elementos que são estratégicos: o jovem costuma se tornar a referência da casa em termos de tecnologia e tem esse efeito em cadeia para que repasse o conhecimento para outros.

Geralmente, especialistas trazem à tona que o grande risco em termos de privacidade são as pessoas que vão se digitalizando e deixando rastros pela internet, como os mais velhos. Não seria o caso de focar nesse público?

Eu não acho que é um público que deve ser esquecido. Mas o contato e a maleabilidade são muito maiores nos jovens. Os adultos e mais velhos também merecem um conteúdo voltado para eles, mas esse efeito em cadeia não existe. Eles não vão passar o aprendizado para baixo.

Os mais jovens costumam ser muito apegados às empresas de tecnologia porque cresceram com elas. Como falar que elas podem deixar dados expostos?

De fato, os jovens vão crescer com essas empresas. Imagina a empresa que coleta os dados de uma criança e vai acompanhando essa pessoa ao longo da vida. Esse rastro é mais danoso para os jovens, não só em aspectos de consumo, mas para se resguardar, como nas fotos de nudez porque eles estão namorando. A privacidade foge da coleta restrita e vai também naquilo que você compartilha. Mas é difícil virar para essas pessoas e falar que o Snapchat, Tinder, Instagram não são tão amigos assim, que esse comportamento ou página de meme podem ser revertidos para desenhar perfis, para vender. E nem estamos falando de vazamentos, estamos falando só do que essas empresas prometem o que vão fazer. É difícil dizer isso pra eles, mas esse é o papel do guia: colocar na mesa algumas opções.

Vocês tiveram alguma preocupação em termos de linguagem para chegar a esse público?

Esse foi o carro-chefe. Primeiramente, a proteção de dados não está nem no currículo das escolas, então é importante (para o jovem) se familiarizar com o vocabulário, com os conceitos. A gente se inspirou num guia produzido pela Universidade da Califórnia em Berkeley, que consideramos útil e quisemos trazer para o público brasileiro. Mas não adianta copiar e colar porque o estudante americano está exposto a outra realidade, com outras tecnologias e outros currículos. Começar esse diálogo com o tema da privacidade é imprescindível.

De onde surgiu a ideia de criar o Instituto Vero?

As discussões surgiram na época do projeto de lei das fake news. O PL pegou fogo, muita gente se mobilizou. Eu, do lado da academia, trabalhava para promover mais debate por causa do trâmite prioritário no Congresso. E o Felipe (Neto), do lado da comunicação digital, estava pensando nisso. A gente acabou se conhecendo e nos demos conta de que a discussão sobre fake news estava pobre e que é um problema gigantesco e mal compreendido porque os legisladores não sabiam do que estavam tratando. Temas de tecnologia eram mal compreendidos sobretudo por quem cria as regras, o que é trágico e é uma ameaça. Tentamos trazer essa discussão sobre o assunto, mas transpor essa barreira foi difícil. Vimos que há um problema amplo em relação à tecnologia. Queremos produzir leituras sobre a tecnologia e, no âmbito da educação, traduzir e escoar o conhecimento para a sociedade da forma mais ampla possível.

Quem deve guiar o tema da educação digital no País?

É nesse vácuo de ausência de ações do governo e das empresas que decidimos fazer alguma coisa Idealmente, o governo perceberia o valor disso, como fazem os EUA e a China, que desenvolvem soluções e patentes e isso os coloca como potências mundiais. O governo poderia ver valor nisso e colocar um currículo sério de inclusão digital. Uma reação que a gente poderia ter dessa pandemia era integrar o País com inclusão, doar aparelhos. Seria um salto de inclusão digital gigantesco que acarretaria em maior inclusão social, maior participação na economia, maior bancarização. Uma resposta para mitigar os efeitos da pandemia seria incluir a camada mais básica. Para a camada mais acima, seria ensinar a usar a internet e ter um empoderamento gigantesco porque quem está de fora da internet hoje está excluído da sociedade. Seria importante que o poder público incluísse isso, como o Ministério da Educação (MEC), no currículo da mesma forma que temos português e matemática. Quem não consegue mexer no celular nem acessar internet não consegue achar emprego. E com a internet é possível aprender inglês ou programação, por exemplo. Estamos deixando isso passar por inépcia: o MEC está parado há anos e, das empresas de tecnologia, não dá para esperar revolução porque elas não vão esperar algo que abale suas bases. Sobra para a sociedade civil. Como a tecnologia molda a sociedade? Como um algoritmo pode ser racista? Qual é a importância da privacidade? Todos esses aspectos são componentes de uma cidadania digital.

Estadão
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