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Inteligência artificial pode melhorar trabalho em vez de destruí-lo; veja exemplos

Adoção massiva do ChatGPT e sua diversidade de usos evidenciam o outro lado do fatalismo que costuma cercar o assunto

7 jun 2023 - 05h00
(atualizado às 13h05)
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Volume de negócios da inteligência artificial em 2030 será de US$ 15,7 trilhões (R$ 77,8 trilhões)
Volume de negócios da inteligência artificial em 2030 será de US$ 15,7 trilhões (R$ 77,8 trilhões)
Foto: Freepik

A inteligência artificial (IA) vem sendo considerada uma vilã que irá acabar com empregos. Em paralelo a essa discussão, especialistas já defendem um foco no lado mais positivo da questão: os profissionais que se adaptarem melhor e mais rápido a essa revolução, usando IA como uma nova e importante ferramenta de trabalho, são os que melhor se adaptarão ao futuro.

Uma certeza sobre isso é que a tecnologia veio para ficar, pois renderá muito dinheiro. Em 2017, a consultoria PWC estimou que o mercado da IA em 2030 será de US$ 15,7 trilhões (R$ 77,8 trilhões). Para 2050, este campo deverá movimentar algo em torno de US$ 200 trilhões (R$ 991 trilhões). 

Volta e meia a imprensa divulga previsões fatalistas sobre o futuro da IA na humanidade. A mais recente foi uma carta publicada na página do Center for AI Safety (o Centro de Segurança de Inteligência Artificial, em tradução livre).

Assinado por especialistas do mercado — incluindo Sam Altman, chefe da OpenAI, criadora do ChatGPT; e Demis Hassabis, chefe do Google Deepmind — o texto dizia: "Mitigar o risco de extinção pela IA deve ser uma prioridade global, juntamente com outros riscos em escala social, como pandemias e guerra nuclear".

Apesar do alarde, em parte justificado por diversas questões éticas em aberto e falta de regulação sobre o tema, a adoção massiva do ChatGPT neste ano e sua diversidade de usos evidenciam o outro lado. Cerca de 70% dos trabalhadores delegaria tarefas a inteligências artificiais para aliviar a própria carga de trabalho, apontou uma pesquisa realizada pela Microsoft divulgada em maio.

Exemplos de usos da IA no trabalho

Educação

Uma das primeiras histórias sobre o ChatGPT que ganharam o mundo foi a de que a cidade de Nova York bloqueou o acesso ao programa nas escolas da rede pública. No caso, estudantes estariam "trapaceando" ao pedir que o chatbot escrevesse suas redações, resumos de livro e problemas de matemática.

Mas restringir o acesso não vai ser produtivo a longo prazo. Algumas sugestões de educadores ao Byte, em reportagem de fevereiro, envolvem levar os alunos a pedir o resumo de textos e fazer perguntas complexas à inteligência artificial para debater as respostas dadas. 

Outro exemplo veio de Ronaldo Lemos, diretor do ITS Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro). Em sua coluna na Folha de S.Paulo, ele diz que o ChatGPT é na verdade uma ferramenta obrigatória em suas aulas no Schwarzman College (China). Mas o professor dá a nota ao aluno para qualificar a pergunta que ele fez ao robô, não pela resposta entregue.

Ademar Celedônio, diretor de ensino e inovações educacionais no SAS Plataforma de Educação, disse ao Tecnoblog que o ChatGPT pode ajudar também no planejamento do docente. "O professor pode conversar com a ferramenta para descobrir a melhor estratégia, ou ter duas ou três estratégias de como abordar um conteúdo", comentou, em entrevista ao site.

Tanto para o aluno quanto para o educador, a ferramenta ainda pode sugerir feedbacks, criar planos de aulas e transcrever de palestras, entre outras funções. 

Inteligência artificial na medicina pode melhorar a precisão do diagnóstico e desenvolver tratamentos personalizados
Inteligência artificial na medicina pode melhorar a precisão do diagnóstico e desenvolver tratamentos personalizados
Foto: DCstudio via Freepik

Saúde

Algumas novas plataformas de IA já são usadas para aplicações diversas. Com elas, um médico pode melhorar a precisão do diagnóstico, desenvolver tratamentos personalizados e monitorar e prever doenças de pacientes.

Em março, a Microsoft, em parceria com a Nuance, lançou uma IA generativa baseada no ChatGPT capaz de transcrever prontuários médicos. O Dragon Ambient eXperience Express (DAX) pode reconhecer fala e gerar os protocolos em consultas presenciais ou por telemedicina, além de produzir um pequeno resumo de todo o atendimento em segundos.

Os cuidados pessoais também podem ser melhorados. A Natura anunciou em julho do ano passado um app que analisa a pele da pessoa com inteligência artificial e realidade aumentada. A Vichy, marca da L'oreal, também têm o app SkinConsultAI, que pretende dar diagnóstico do estado da pele por meio do smartphone.

Além disso, a Secretaria de Informação e Saúde Digital (Seidigi) do governo federal estuda usar inteligência artificial em serviços do SUS (Sistema Único de Saúde), o que deve levar a uma aceleração dos processos.

Mas a OMS (Organização Mundial da Saúde) defende uma postura mais desconfiada. A entidade quer que os riscos do uso excessivo sejam percebidos e que a IA por enquanto seja uma ferramenta de apoio à decisão de médicos ou mesmo para aumentar a capacidade de diagnóstico. Em resumo, os humanos ainda precisam dar a palavra final sobre o que os robôs vão apontar ou sugerir.

Logística

Companhias como Interos, Fero Labs, KlearNow e outras estão usando inteligência artificial para que os clientes monitorem a disponibilidade de matéria-prima, reajam mais rapidamente a problemas com fornecedores e agilizem problemas burocráticos.

Os profissionais do setor podem ainda usar essas plataformas para otimizar rotas de transporte, gerenciar estoques e prever demandas futuras.

Comércio

Em entrevista ao Canaltech, Eric Vieira, diretor de e-commerce na empresa de soluções digitais FCamara, diz que o ChatGPT provou que IA traz agilidade a processos no varejo. Como exemplos, ele cita que o dono de um site de vendas pode usar a ferramenta para otimizar tempo na produção de textos das landing pages [páginas-chave para buscas] e descrições de produtos.

No entanto, assim como na saúde, é preciso supervisionar esses processos para evitar a quebra de direitos autorais. "Como a ferramenta é baseada nas informações que estão disponíveis na internet, deve permanecer sob supervisão para garantir que os textos utilizados e divulgados sejam individualizados e não se apropriem de ideias alheias", apontou Vieira ao site.

Justiça

Como nos casos descritos acima, a IA pode analisar grandes volumes de informações jurídicas em segundos e automatizar tarefas repetitivas e rotineiras. Isso melhora a eficiência do trabalho, permitindo que os profissionais do Direito se concentrem em atividades que exijam mais de seu conhecimento particular.

O Brasil já é um grande exemplo do combo IA + leis. No governo federal, o Poder Judiciário foi o que mais usou inteligência artificial no ano de 2021; logo atrás dele vieram o Ministério Público, Legislativo e Executivo. O dado veio da quinta edição da TIC Governo Eletrônico, pesquisa do CGI.br.

A porcentagem total de órgãos públicos federais e estaduais do Judiciário que usou IA nos últimos 12 meses é de 55%, ou seja, mais da metade. No Ministério Público, o percentual foi de 50%, no Legislativo, 48%, e o Executivo obteve apenas 20%. Em outro recorte, 45% dos órgãos federais mexeram com inteligência artificial, contra apenas 22% dos estaduais.

CEO da Microsoft, Satya Nadella, chamou a IA de "um dos maiores desafios que a cibersegurança já enfrentou"
CEO da Microsoft, Satya Nadella, chamou a IA de "um dos maiores desafios que a cibersegurança já enfrentou"
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Cibersegurança

O CEO da Microsoft, Satya Nadella, chamou a IA de "um dos maiores desafios que a indústria de cibersegurança já enfrentou." Isso porque criminosos já a usam para desenvolver novos vírus, tentativas de phishing ou localizar falhas de segurança. 

Por outro lado, o ChatGPT e outros chatbots do tipo podem atuar neste combate também. São capazes de ajudar um profissional de cibersegurança a tomar decisões mais acertadas, fechar portas que humanos não notaram estar abertas e manter uma vigilância constante. 

Mas é preciso um certo nível de compliance para evitar problemas dentro das próprias empresas de segurança digital. Ao implementar no mercado o Security Copilot, uma ferramenta de IA para o setor, a Microsoft criou restrições para seu aprendizado de máquina. Os insights de uma empresa cliente não são usadas para treinar a IA de outra, a não ser que a própria organização decida compartilhar informações.

Agricultura

Britaldo Hernandez Fernandez, presidente da empresa de agricultura digital Solinftec, escreveu um artigo mostrando um pouco da realidade da IA nas fazendas. Segundo ele, já existem protótipos de tratores controlados por robô que funcionam sem operadores humanos. Estes, por sua vez, poderão se concentrar em atividades menos braçais e mais cerebrais.

"Esses veículos poderão, sozinhos, decidir parar o que estiverem fazendo caso comece a chover e mudar de rota, indo para uma área seca. Todo esse processo poderá ser acompanhado remotamente pelo produtor rural ou um funcionário por meio de um smartphone", destacou.

"Muitas usinas e fazendas já estão conectadas por meio de redes instaladas no campo. Com isso, das operações mecanizadas até a quantidade de chuva que cai em cada talhão, tudo pode ser monitorado em tempo real. Já é possível até mesmo ter toda a rastreabilidade da produção, sem nenhuma interferência humana", disse Fernandez no artigo.

“Qualquer que seja sua profissão, aprenda IA para que você seja protagonista", diz especialista
“Qualquer que seja sua profissão, aprenda IA para que você seja protagonista", diz especialista
Foto: Freepik

Transição é algo inevitável

Fontes disseram a Byte que grande parte dos trabalhadores deverão se acostumar a algum uso de IA no cotidiano, com ferramentas devidamente adaptadas a cada setor.

“Qualquer que seja sua profissão, aprenda IA para que você seja protagonista e não seja descartado por ela”, destaca o professor John Paul Hempel Lima, coordenador acadêmico do curso de inteligência artificial da Fiap (Centro Universitário Fiap).

“Os sistemas de IA não só vão fazer parte da vida de todos cada vez mais como vão demandar novos profissionais que consigam desenvolver e/ou customizar essas soluções e escolher os melhores provedores de tecnologia”, explicou Hempel.

Renan Conde, diretor Américas da empresa de software para recursos humanos Factorial, concorda com ele. O executivo acha que todas as classes profissionais serão afetadas, embora não todas na mesma proporção.

“Não acredito que seja centrada em apenas um nicho, uma vez que através de IA podemos revolucionar diferentes setores em uma velocidade absurda. Pode ser que inicialmente esteja centrada em um nicho, mas inevitavelmente está nas mãos de todos e nas mais remotas regiões”, disse Conde.

Maurício Seiji, especialista em inteligência artificial da empresa de softwares de gestão Softplan, destaca que esforços estão sendo feitos para democratizar o acesso à IA e garantir que ela não seja exclusividade de uma elite tecnológica.

“Iniciativas de educação e treinamento em inteligência artificial estão se tornando cada vez mais populares, permitindo que mais pessoas adquiram habilidades nessa área e se envolvam em sua aplicação”, afirmou.

Embora tais iniciativas sejam quase sempre mais dedicadas a programadores, vale ficar atento a oportunidades do tipo e ver se encaixam no seu perfil profissional.

Há, por exemplo, o curso gratuito "Inteligência Artificial e Computacional" da Fiap, que traz resolução de problemas por meio da busca na IA, representação do conhecimento e raciocínio e aprendizagem de máquina, entre outros assuntos.

A plataforma de processos seletivos Gupy já utiliza inteligência artificial na otimização das seleções desde 2016. A empresa aposta que a tecnologia veio para acelerar processos e pode ser inserida em muitas áreas. 

Carolina Brito, gerente de Recrutamento & Seleção da Gupy, afirma que a IA vem sendo usada para simplificar a análise de dados, otimizar o tempo e consequentemente aumentar a produtividade e eficiência.

“Cada vez mais as empresas têm apoiado o desenvolvimento através da qualificação de profissionais até porque precisamos de pessoas qualificadas o mais rápido possível para que possamos inovar sempre!”, destacou a gerente de Recrutamento & Seleção da Gupy.

A IBM também tem uma capacitação introdutória, que responde a dúvidas mais comuns como "Será que os robôs vão roubar nossos empregos?" ou "Aprendizado de máquina e inteligência artificial são a mesma coisa?", com uma hora e 35 minutos de duração.

Fonte: Redação Byte
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