Ativismo na internet acelerou queda de ditador na Tunísia
17 jan2011 - 14h28
(atualizado às 14h31)
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Tariq Saleh
Direto de Beirute
A renuncia do ditador tunisiano Zine Al-Abidine Ben Ali no dia 14 de janeiro após quase um mês de violentos protestos teve a ajuda de um forte movimento na internet, entre blogueiros, usuários do Twitter e a rede social Facebook. Muitas das imagens que chegavam às grandes emissoras de TV internacionais foram feitas por ativistas nas ruas da capital Túnis.
Manifestante enfrenta policiais emTúnis; redes sociais contribuíram para queda de Ben Ali na última sexta-feira
Foto: AFP
Durante as semanas de violência e manifestações da população contra a corrupção, altas dos preços, desemprego e falta de democracia, vídeos começaram a aparecer no Facebook e Twitter mostrando a repressão imposta pelas forças de segurança do governo da Tunísia.
A mídia internacional rapidamente usou as imagens e as informações nas redes sociais e blogs de jornalistas locais e ativistas como fonte, mostrando uma mudança no comportamento das redações na busca de fontes."Aproximadamente 3,6 milhões de tunisianos se conectam diariamente. A maioria das manifestações, incluindo aquela em frente ao palácio presidencial de Ben Ali foi organizada através do Facebook", contou a uma rádio francesa Phillip Rochot, um morador de Túnis.
A censura da mídia era uma das armas cruciais do regime de Ben Ali durante os 23 anos em que esteve no poder. Como em muitos países do mundo árabe, em que governos autoritários controlam jornais e emissoras de rádio e TV, o ativismo na internet se tornou a única maneira de cidadãos manifestarem suas frustrações.
Sites de compartilhamento de vídeos foram banidos na Tunísia até o dia anterior à renuncia de Ben Ali, quando o próprio presidente anunciou uma série de site que seriam bloqueados, como o YouTube.
Facebook Mas o governo não contava com a força do Facebook, que permaneceu acessível na rede mundial e foi, segundo analistas, o grande responsável pelas imagens que correram o mundo com os protestos e repressão da polícia tunisiana, que deixou um saldo de mais de 60 pessoas mortas e centenas de feridos.
"Embora ativistas e jornalistas tenham usado outras mídias sociais também, o Facebook foi o grande culpado pela queda de Ben Ali. Através da rede social, jovens organizaram suas ações nas ruas, deixando o governo sem controle da informação", disse Magda Abu-Fadil, diretora do Programa de Treinamento em Jornalismo da Universidade Americana de Beirute, no Líbano.
De acordo com Mukhtar Trifi, diretor de Liga Tunisiana de Defesa dos Direitos Humanos, o Facebook virou uma forma de expressão para a maioria dos jovens desempregados da Tunísia, apesar do medo e repressão no país."Vários problemas assolavam o país, todos sabiam mas ninguem falava a respeito. Nesse cenário, o Facebook virou a arma da juventude", disse ele ao prestigiado site americano The Huffington Post.
Ele explicou que a derrubada do poder de Ben Ali não teria sido possível sem o opoio do exército, mas que os tunisianos inundaram o Facebook com vídeos amadores com imagens da repressão policial, esquadrões de atiradores e violentos protestos em suas contas no Facebook direto de suas casas ou cybercafés.
"Muitos tunisianos tinham amigos e familiares morando fora do país, como na França e resto da Europa. Assim que os vídeos estavam na rede, eles se multiplicavam nas contas destes amigos, tornando impossível o controle pelo regime de Ben Ali", reiteirou Phillip Rochot.
Twitter e confiabilidade Mas o fenômeno das redes sociais na cobertura de um grande evento começou em 2009, quando a conturbada eleição presidencial no Irã levou centenas de milhares de pessoas às ruas de várias cidades em protesto contra o resultado, que reelegeu o atual presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Acusando o governo de fraudar o resultado do pleito, a oposição, liderada por seu candidato derrotado Mir Hussein Moussawi, mobilizou simpatizantes nas ruas que foram duramente reprimidos pela polícia e milícias pró-governo.
Com a mídia internacional censurada e controlada no país, as imagens dos protestos eram feitos pelos celulares e enviados pelo Twitter, onde as emisorras internacionais usavam para transmitir o que acontecia no país.
Uma das grandes questões que envolvem o uso das mídias sociais por jornalistas envolve a confiabilidade e credibilidade da informação.
Segundo Firas Al-Atraqchi, professor de Jornalismo da Universidade Americana do Cairo, nas primeiras duas semanas dos protestos na Tunísia, as informações que chegavam aos jornalistas internacionais vinha das redes sociais.
"O Twitter foi crucial para informar observadores e jornalistas estrangeiros. O Facebook foi atacado depois que o governo percebeu que imagens estavam chegando ao mundo através do site e desesperadamente tentou atacar e fechar contas de vários usuários", escreveu ele também em um artigo no The Huffington Post.
Para ele, as informações devem ser filtradas, em que as redações devem selecionar as imagens e depoimentos vindas de pessoas que estão testemunhando os eventos que acontecem em primeira mão.
"Uma das maneiras de fazer isso era pegar as informacões e imagens vindas de pessoas que se identificavam e depois checar se estas informações estavam sendo repetidas por outras pessoas. Depois, havia a confirmação por telefone com ONGs ou fontes oficiais para corroborar os fatos", disse ele.
Jovens no Oriente Médio vêm cada vez mais escolhendo o Twitter e Facebook como ferramentas para organizar protestos e quebrar anos de silêncio e repressão em seus países.
"Redes sociais não podem ser controladas pelos governos autoritários, é uma bola de neve que eles não têm como segurar. A informação está aí, e qualquer pessoa pode ter acesso. Nós não podemos mais ignorar isso", salientou Magda Abu-Fadil, de Beirute.
Manifestante joga bomba de gás lacrimogêneo durante confronto com policiais em Regueb
Foto: AFP
Manifestantes atiraram pedras contra as forças de seguranças tunisianas
Foto: AP
Estudante passa mal após entrar em confronto com forças de segurança em Regueb
Foto: AFP
A revolta popular na Tunísia contra o alto custo de vida deixou neste fim de semana entre 14 e 20 mortos
Foto: AP
Unidades antimotins tentaram dispersar a manifestação de estudantes
Foto: AFP
Distúrbios e protestos ocorrem contra a carestia da vida e o desemprego desde meados de dezembro
Foto: AP
Militares montam guarda em frente ao palácio do governo no bairro Cite Ettadhamen em Túnis, na Tunísia
Foto: AFP
Manifestantes entram em confronto com a polícia em região próxima a capital, Túnis
Foto: Reuters
Tanque blindado patrulha a praça principal de Sidi Bouzid, perto da capital Túnis
Foto: Reuters
quipes de resgate evacuam feridos durante os violentos distúrbios em Túnis
Foto: AP
27 de dezembro de 2010 - Manifestantes entram em confronto com membros das forças de segurança de Túnis
Foto: AFP
27 de dezembro de 2010 - Pessoas, uma deles segurando um pão, protestam em Túnis para mostrar sua solidariedade com os habitantes de Sidi Bouzid, que realizaram manifestações contra o desemprego e as más condições de vida
Foto: AFP
09 de janeiro - Pneu é queimado nas ruas de Regueb, cidade perto de Sidi Bouzid, durante confronto de manifestantes com as forças de segurança
Foto: AFP
09 de janeiro - Fumaça é vista nas ruas de Regueb, cidade perto de Sidi Bouzid, durante confronto de manifestantes com as forças de segurança
Foto: AFP
10 de janeiro - Membro das forças de segurança da Tunísia mira na direção de um manifestante tunisiano que se prepara para atirar uma pedra em direção a eles durante os confrontos entre manifestantes e forças de segurança em em Regueb, cidade perto de Sidi Bouzid
Foto: AFP
10 de janeiro - Manifestante tunisiano se prepara para lançar gás lacrimogêneo durante confrontos com as forças de segurança em Regueb, cidade perto de Sidi Bouzid
Foto: AFP
12 de janeiro - Militares montam guarda em frente ao palácio do governo no bairro Cite Ettadhamen em Túnis, onde manifestantes queimaram veículos e atacaram escritórios do governo na noite anterior
Foto: AFP
13 de janeiro - Tunisianos se reúnem na frente de um shopping que foi incendiado no bairro de Cite Ettadhamen em Túnis, onde manifestantes queimaram veículos e atacaram escritórios do governo na noite anterior
Foto: AFP
13 de janeiro - Policiais militares montam guarda no centro de Túnis após tentativa de protesto que aconteceu no início do dia
Foto: AFP
14 de janeiro - Manifestante protestam em frente ao ministério do Interior na avenida Habib Bourguiba, em Túnis, após o discurso do presidente tunisiano Zine El Abidine Ben Ali à nação
Foto: AFP
14 de janeiro - Fumaça é vista depois de confrontos entre forças de segurança e manifestantes em Túnis, após o discurso do presidente tunisiano Zine El Abidine Ben Ali à nação
Foto: AFP
14 de janeiro - Manifestantes confrontam-se com a polícia na avenida Mohamed V em Túnis
Foto: AFP
14 de janeiro - Manifestantes jogam pedras durante confrontos com forças de segurança na avenida Mohamed V em Túnis
Foto: AFP
14 de janeiro - Manifestantes jogam pedras durante confrontos com forças de segurança na avenida Mohamed V em Túnis
Foto: AFP
14 de janeiro - Soldados enfrentam manifestantes em tanque blindado na avenida Mohamed V em Túnis
Foto: AFP
15 de janeiro - Centenas de soldados e tanques de guerra patrulharam as ruas de Túnis, capital da Tunísia, após os violentos protestos no país
Foto: Zohra Bensemra / Reuters
15 de janeiro - Tunisianos que moram na França saíram para protestar contra o presidente do país africano, Zine al-Abidine Ben Ali
Foto: Robert Pratta / Reuters
Fumaça era vista em mercado francês e tunisiano na cidade de La Gazella
Foto: AFP
Transeunte na Tunísia observa carro que acabou queimado após onda de protestos na cidade de La Gazella
Foto: AP
Funcionários limpam estação de trem prejudicada durante manifestação que ocorreu noite a dentro na Tunísia
Foto: AFP
Imigrantes da Tunísia protestam na Bélgica contra o presidente Zine Abidine El Ben Ali
Foto: AP
Mulher segura cartaz de Zine Abidine El Ben Ali com a escrita de "procurado", em manifestação ocorrida na França
Foto: AP
Após protestos, soldados garantem a segurança do prédio onde fica o parlamento da Tunísia
Foto: AP
Presidente interino da Tunísia, Fued Mebaza, tomou o cargo após o líder do país Zine El Abidine Ben Ali fugir
Foto: AP
17 de janeiro - Policial corre atrás de manifestante que protestava, no centro de Túnis
Foto: Reuters
17 de janeiro - Homem protesta enquanto militares soltam gás lacrimogêneo para dispersar a manifestação, em Túnis
Foto: Reuters
17 de janeiro - Homem grita enquanto soldado tenta remover manifestantes, na capital Túnis
Foto: AP
17 de janeiro - Soldados tentam dispersar manifestação, no centro de Túnis
Foto: AFP
17 de janeiro - Manifestantes protestam contra o ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali, em Túnis
Foto: AP
17 de janeiro - Em Marselha, na França, homem grita em protesto contra o presidente tunísio, Ben Ali, em frente ao consulado da Tunísia
Foto: AFP
17 de janeiro - Mulher tenta beijar soldado durante protesto contra o ex-presidente Ben Ali, nas ruas da capital do país
Foto: AP
17 de janeiro - Manifestante enfrenta policiais nas ruas de Túnis
Foto: AFP
17 de janeiro - Em visita aos Emirados Árabes Unidos, o Secretário-Geral das Nações Unidas pediu o restabelecimento da ordem na Tunísia
Foto: AP
17 de janeiro - O premiê Mohamed Ghannouchi anuncia novo governo de união nacional durante entrevista coletiva em Túnis
Foto: Reuters
17 de janeiro - Polícia tenta conter manifestantes em Túnis: mesmo após a renúncia de Ben Ali, protestos contra o ex-presidente persistem na capital
Foto: Reuters
17 de janeiro - Leila Ben Ali, mulher do presidente deposto da Tunísia, é suspeita de ter retirado uma reserva 1,5 tonelada de ouro do país e levado consigo na partida em direção aos Emirados Árabes Unidos. A foto acima é de outubro de 2008
Foto: AP
17 de janeiro - Retratos dos ex-presidentes Ben Ali e Habib Bourguiba são encontrados em edifício oficial da capital Túnis, no mesmo dia do anúncio do governo de "união nacional"
Foto: EFE
18 de janeiro - Tunisianos protestam na Avenida Roma, em Túnis. A polícia usou gás lacrimogêneo e entrou em confronto com os manifestantes, que protestavam contra o novo governo do país
Foto: AFP
18 de janeiro - Policiais dispersam manifestantes que protestavam contra novo governo na avenida Roma, em Túnis
Foto: AFP
18 de janeiro - Policial cobre o rosto após terem lançado gás lacrimogêneo contra manifestantes que protestavam contra o novo governo em Túnis
Foto: AFP
18 de janeiro - Tunisianos protestam na avenida Roma, em Túnis, contra o novo governo do país
Foto: AFP
19 de janeiro - Manifestantes são empurrados para trás por policiais durante uma manifestação na cidade de Túnis
Foto: Reuters
19 de janeiro - Protesto compara o governo do presidente Zine al-Abidine Ben Ali com o nazismo; família de Ben Ali também virou alvo
Foto: Reuters
20 de janeiro - Soldado empurra manifestante em frente à sede do partido de Ben Ali, a Agrupação Democrática Constituicional (RDC)
Foto: Reuters
20 de janeiro - Soldado empunha arma com flor, durante manifestação na capital Túnis
Foto: Reuters
20 de janeiro - Manifestantes tunisianos entregam flores aos militares durante protesto contra o governo de Ben Ali
Foto: AP
20 de janeiro - Enrolada na bandeira da Tunísia, mulher protesta em frente à sede do partido do presidente deposto, Bel Ali
Foto: Reuters
24 de janeiro - Depois de desafiar o toque de recolher, manifestantes entraram em confronto com a tropa de choque na região central de Túnis
Foto: AFP
25 de janeiro - Moradores de Sidi Bouzid and Kasserine, na região central da Tunísia, fazem protesto em frente ao palácio governamental de Túnis
Foto: AFP
25 de janeiro - Soldados fazem guarda em frente ao escritório do premiê Mohammed Ghannouchi
Foto: AFP
25 de janeiro - Carcereiros e parentes de prisioneiros islamitas protestam dentro do Ministério da Justiça, em Túnis
Foto: AFP
25 de janeiro - Soldado tunisiano fala com manifestante enrolado na bandeira nacional durante protesto na frente do palácio do governo
Foto: AFP
25 de janeiro - Moradores da região de Sidi Bouzid and Kasserine, fazem protesto em frente ao escritório do premiê Ghannouchi
Foto: AFP
25 de janeiro - Moradores de Sidi Bouzid and Kasserine, na região central da Tunísia, incendeiam imagem do presidente deposto Ben Ali
Foto: AFP
26 de janeiro - Moradores da região de Sidi Bouzid, no centro da Tunísia, entram em confronto com as forças de segurança em frente ao gabinete do primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi em Túnis
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26 de janeiro - Morador de Túnis atira uma pedra enquanto um policial lança gás lacrimogêneo em manifestantes na frente do gabinete do primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi em Túnis
Foto: AFP
26 de janeiro - Manifestante ferido é evacuado após confrontos com a polícia durante protesto na frente do escritório do primeiro-ministro em Tunis
Foto: AFP
26 de janeiro - Moradores da região de Sidi Bouzid, em Túnis, atacam um oficial em um carro da polícia, durante as manifestações o governo interino
Foto: AFP
5 de maio - Policial com roupas discretas desfere chute contra manifestante durante repressão a protesto em Tunis, onde centenas de manifestantes cobraram do governo da Tunísia as reivindicações feitas durante a revolução que derrubou, no início do ano, o ex-presidente Ben Ali, após mais de 23 anos de poder
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5 de maio - Agente sem uniforme policial chuta manifestante que já está caído, durante manifstação para cobrar exigências da revolução, em Tunis
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5 de maio - Policial enfrenta manifestante que tenta dialogar, em rua de Tunis
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5 de maio - Policial reprime protesto e bate em manifestantes caidos em calçada, na capital Tunis
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5 de maio - Manifestante é arrastado por policial após ser preso em protesto que cobrou cumprimento das reivindicações da revolução e questionou boato sobre suposta preparação de golpe militar para julho
Foto: AFP
5 de maio - Manifestantes carregam jovem ferida durante repressão das forças de segurança da Tunísia a protesto, na região central de Tunis